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Coleção Morozov expõe tesouro da arte moderna na Fundação Louis Vuitton em Paris

08/10/2021 11h09

Considerado o grande acontecimento desta temporada das artes em Paris, a Fundação Louis Vuitton apresenta a coleção Morozov, uma das mais importantes do mundo da arte impressionista e moderna. Esta é a primeira vez, desde sua criação, no início do século 20, que esta coleção viaja para fora da Rússia. Cerca de 200 obras-primas da arte moderna francesa e russa dos irmãos Mikhail e Ivan Morozov estão expostas na fundação, assinada pelo famoso arquiteto Frank Gehry.

A exposição negociada foi diretamente com o Kremlin, um trabalho que consumiu mais de cinco anos, com um catálogo prefaciado pelos dois presidentes, Vladimir Putin e Emmanuel Macron. A curadora da exposição da coleção Morozov na Fundação Louis Vuitton em Paris, Anne Baldassari, se debruçou sobre a trajetória de Mikhail e Ivan Morozov, entre visionários e inquietos.

"Os irmãos Morozov chegam a Paris com um olhar já formatado pelos pintores impressionistas. Eles estudaram pintura e conhecem os temas, eles já chegam sensibilizados por esta forma de arte que é revolucionária. Eles não abordam essa arte que está sendo construída como simples amadores, mas com uma acuidade que era própria destes mecenas", relata Baldassari.

Três vezes adiada, por conta da Covid-19, a exposição da coleção Morozov é o acontecimento artístico desta temporada em Paris. A coleção foi fundada no início do século 20 pelos irmãos Mikhaïl e Ivan Morozov, ricos industriais moscovitas, cultos, apaixonados e ousados. Eles tinham 20 anos quando começaram a comprar obras de Manet, Monet, Cézanne, Gauguin, Bonnard e Van Gogh. Nacionalizada em 1918 após a Revolução Russa e dividida entre diferentes museus, a coleção atravessou os arranhões do tempo e da história, mas desembarcou em Paris cheia de glória.  

O projeto da coleção Morozov, como relata a curadora, era coletivo, na Rússia do início do século 20. "Esse projeto coletivo, esse programa que visa criar um museu de arte francesa contemporânea - porque naquele momento não se tratava de modernidade, mas de arte contemporânea -, dedicado à educação do povo moscovita, é essencial. Suas preferências pessoais ficam em segundo plano. Eles tentam ser presentes na participação desse debate ao vivo, desta efervescência, e desejam ser exaustivos e sistemáticos com este objetivo", explica Baldassari.

"Eles decidem seguir as filiações artísticas em voga e praticamente todas as escolas de pintura estão representadas na coleção. Ivan Morozov vai se dedicar a Gauguin, Cézanne, Bonnard, Denis, a filiação impressionista das cores, e as feras, com Matisse, Valtat, esta é verdadeiramente uma constelação muito importante", destaca.

Cheirando a terebentina

Contemporâneos de artistas como Cézanne e Matisse, em apenas 10 anos, os irmãos Morozov construíram uma coleção excepcional com a ideia fixa na organização de um verdadeiro programa, um museu destinado a promover a arte moderna e francesa na Rússia. "As obras que eles adquirem naquele momento acabaram de ser pintadas, é sempre bom lembra disso. Elas saem dos ateliês dos artistas para serem penduradas nos grandes salões de arte da época. Por exemplo, o primeiro Matisse comprado por Ivan Morozov é apresentado no salão de 1907, o quadro ainda cheira a pintura fresca e terebentina", diz Anne Baldassari.

"Estamos no momento em que a pintura acontece, as escolas, as filiações artísticas, todas essas questões que hoje nos parecem acadêmicas, para os colecionadores era um combate, um verdadeiro debate na cena parisiense. Não se tratava para eles de uma espécie de 'bom gosto', mas de construir um museu", detalha a curadora.

A exposição da coleção Morozov na Fundação Louis Vuitton traz um olha específico  sobre o conjunto da obra de certos artistas, com salas especiais.  "A sala Gauguin é muito importante em número de obras, mas também a sala Cézanne. Porque é com Cézanne que Ivan Morozov tem o choque inicial do impressionismo", analisa a curadora.

"Até esse momento, ele se contentava em seguir os passos de seu irmão, Mikhail, que morreu muito jovem mas conseguiu criar uma matriz dessa coleção, com Manet, Degas, Monet, Bonnard, e depois os primeiros Van Gogh e Gauguins que entraram na Rússia. Escolhas muito corajosas para época, quando estes artistas ainda estavam escondidos nas sombras mais completas", conclui Baldassari.

A coleção Morozov fica em exposição na Fundação Louis Vuitton em Paris até 22 de fevereiro de 2022.