Documentário traz a Paris a poesia do brasileiro César Félix no coração da Amazônia
Poeta acreano, César Félix está na França para divulgar o filme "Un poète en Amazonie" (Um poeta na Amazônia, em tradução livre), do qual é protagonista. O trabalho do diretor de documentários franco-espanhol José Huerta mostra o projeto "Café com Poesia", desenvolvido por César Félix em sua cidade, Rio Branco.
O filme é apresentado em salas de cinema e espaços culturais em Paris e outras cidades francesas como Rennes, na região oeste. Depois das projeções, nos debates com o público, César Félix tem a oportunidade de falar de seu trabalho artístico e também de temas sociais e políticos que interessam ao público francês, como as ameaças sobre a vida de comunidades locais e indígenas.
"Esse filme está mostrando outras dimensões da sociedade que eu vivo e que o mundo não conhece", diz o poeta. Segundo César, é importante trazer para o público europeu a realidade de personagens retratados no filme como Dona Zenaide, uma parteira que mora no meio da floresta e é compositora, e Brem, uma travesti que conta as dificuldades da vida de uma pessoa da comunidade LGBTQI+ em Rio Branco.
As filmagens incluíram visita na comunidade indígena da etnia ashaninka, que abriram as portas da aldeia para as filmagens. "Eles mostram um modelo diferente de sociedade e se não podemos pegar tudo como exemplo, pelo menos podemos aprender com eles. São referência diferenciadas. O filme pode ajudar a defendê-los melhor", argumenta. "A gente não defende o que não conhece. "O filme pode dar uma voz para essas pessoas, para defender seu jeito de viver, é para mim também, que é a arte", diz na entrevista à RFI Brasil.
César Félix conheceu o diretor de documentários José Huerta em Santa Catarina, quando o ajudou a realizar uma filmagem. Foram vários encontros até César aceitar a proposta de mostrar seu trabalho de poesia junto aos moradores de sua cidade natal.
"Eu aceitei de pronto porque vi uma possibilidade de mostrar minhas poesias e de mostrar coisas interessantes do meu estado para o mundo. O estado do Acre é diferente do Brasil porque fica muito afastado. A gente até brinca: existe o 'preço Acre' porque tudo é mais caro por causa dessa distância", afirma.
Arte como transformação social
César começou a trabalhar com poesia em Florianópolis, onde se formou historiador. Na volta a Rio Branco, ele diz não ter encontrado espaço, por isso fundou o "Café com Poesia". No início, diz, o trabalho foi muito tímido, pois tinha que conjugar sua atividade cultural com o trabalho na reserva extrativista Chico Mendes. Só depois de deixar esse trabalho é que ele passou a se dedicar em tempo integral a seu projeto.
Além de ter um espaço para se expressar por meio de sua poesia, César também buscou um meio de se socializar com outros artistas e membros da comunidade. Seu trabalho evoluiu para a criação de oficinas para fazer caderno, livros, filmes com celulares, além de propor ateliês de música e promoção de debates sobre temas da sociais, como a invisibilidade da mulher negra na capital acreana.
Infelizmente, diz, a pandemia interrompeu temporariamente o "Café com Poesia", que voltará assim que as condições sanitárias permitirem reunir várias pessoas em torno das atividades.
A viagem à França para promover o filme "Un poète en Amazonie" (Um poeta na Amazônia), o deixa feliz também pela dimensão pedagógica às crianças e jovens: "Desde criança eu ouço no Brasil que poesia não leva a nada. E é a poesia que tem me levado a muitos locais", diz, citando viagens por cidades da Espanha, Portugal e agora a França.
"Esse filme é até uma referência para crianças do Acre, pois pode mostrar que dá para apostar na arte e viver bem, com qualidade de vida. A poesia mais abre do que fecha portas. Eu aposto muito na arte como elemento de transformação social para uma sociedade justa e humana", diz.
"Un poète en Amazonie" (Um poeta na Amazônia) deve estrear no Brasil em 2022. Primeiramente no Acre; e depois em outras regiões do Brasil.
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