"Ênfase de Putin no conservadorismo criou ponte com Bolsonaro", diz historiador brasileiro
O mês de dezembro de 2021 marca os 30 anos do fim da União Soviética. A RFI conversou sobre esse assunto com o historiador brasileiro Angelo Segrillo, professor associado do departamento de História da USP e especialista na história da Rússia e da União Soviética.
O mês de dezembro de 2021 marca os 30 anos do fim da União Soviética. A RFI conversou sobre esse assunto com o historiador brasileiro Angelo Segrillo, professor associado do departamento de História da USP e especialista na história da Rússia e da União Soviética.
Para quem não lembra ou não acompanhou esse fato histórico, o acadêmico destaca que a situação econômica e política explicaria o fim da União Soviética, há três décadas.
"É um processo muito complexo e que reuniu vários fatores. O fator econômico foi importante no deslanchar da Perestroika", diz. A palavra Perestroika, que literalmente significa reconstrução, recebeu a conotação de reestruturação econômica. "A desaceleração econômica da União Soviética nas décadas de 1970 e 1980, mesmo período em que houve um aumento tecnológico no Ocidente, preocupava os líderes soviéticos e fez com que eles iniciassem a Perestroika, o que foi seguido de vários outros fatores, que acabaram confundido aquele processo", explica.
As metas à época eram de mais abertura política e econômica, o que não se concretizou. "No início dos anos 1990, havia um deslumbramento muito grande com o que poderia ser o capitalismo, algo que poderia levar o país a ser parecido com a Suécia, ou seja, um capitalismo com preocupações sociais. Porém, nos anos 1990, houve uma grande crise, um processo de privatizações feito de forma muito rápida e que levou a uma crise econômica e queda do Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia maior do que o que se viu nos Estados Unidos, durante a Grande Depressão de 1929", analisa.
Mão de ferro
Há mais de duas décadas a Rússia é comandada por Vladimir Putin, que aprovou emendas capazes de lhe permitir ficar no poder até 2036. O historiador explica que isso não significa que a cultura política da Rússia seja autoritária ou centralizadora. "Não conheço nenhum povo que goste de chicote ou ditadores", diz, acrescentando que "a Rússia tem um Estado forte. E a experiência pós-soviética reforçou isso ainda mais".
"Putin foi popular no início de seu governo graças à recuperação econômica. Porém, na ânsia de manter o seu projeto, ele está querendo se eternizar no poder e isso é o grande problema, pois começam as tendências autoritárias", alerta Segrillo.
Muitos países do ex-bloco soviético ainda dependem da Rússia. "A União Soviética era formada por 15 repúblicas. E Putin quer curar as feridas e evitar o que causa desunião no país", afirma.
Relações com o Brasil
De acordo com Angelo Segruillo, "as relações do Brasil com a Rússia dependem muito da vontade política dos seus governantes".
O historiador explica que "Jair Bolsonaro não tem uma vontade política externa sólida. Por um lado, havia uma percepção da Rússia como antiga herdeira do comunismo, mas a ênfase de Putin no conservadorismo criou uma ponte de aproximação com Bolsonaro", que de acordo com Segrillo busca novos aliados, após a derrota de Trump nos Estados Unidos.
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