Artista plástica brasileira Christina Oiticica expõe em loja de luxo em Genebra
A artista plástica brasileira Christina Oiticica está com uma nova exposição em Genebra, na Suíça, que começou exatamente no dia em que fez 70 anos, no dia 23 de novembro, com direito a festa de comemoração, bolo de aniversário e muitos convidados. Até o dia 7 de janeiro, as obras da artista podem ser vistas numa grife de luxo em Genebra, onde mora com o marido, o escritor Paulo Coelho. À RFI, Christina Oiticica falou sobre o trabalho e a vida.
Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça
Para ela, o melhor presente (de Natal ou de fim de ano) seria o fim da pandemia. "Eu acho que o presente de Natal meu é igual para muitas pessoas: que termine a pandemia ou, então, que se transforme para uma coisa bem menor, sem muita importância, como um resfriado. Acho que seria o melhor presente de Natal para mim".
E os desejos para 2022 são de que "as coisas melhorem bastante e que as pessoas tenham mais consciência do amor ao próximo".
"Porque isso que a gente está vivendo, é você amar a sua comunidade, é você pensar no outro. Então, eu acho que isso é muito importante. Acima de tudo, o amor. Eu quero desejar tudo de maravilhoso, tudo de bom para o próximo ano", diz.
Coração, oração e devoção
A artista, que já tinha feito uma primeira exposição em St. Moritz, na loja da Bulgari, está repetindo agora na de Genebra, "com os corações, com as fitas do Nosso Senhor do Bonfim, que é uma coisa que nos remete à oração, ao amor e à devoção. E alguns quadros que eu fiz no decorrer da minha vida, que eu deixei em alguns lugares, como na Amazônia, nos Pirineus, no Caminho de Santiago".
"Ela tem sido muito visitada. As pessoas têm gostado e eu também. Tem sido muito bom", conta ela, que diz gostar de morar em Genebra por lembrar o Rio pela natureza, montanhas e o lago, no lugar do mar.
A artista plástica explica também como surgiu a ideia de ter levado seus quadros para interagir com a natureza, técnica pela qual ficou conhecida e que transformou o seu trabalho.
"A princípio, foi uma situação de dificuldade, porque eu morava num hotel pequeno nos Pirineus, e eu não tinha espaço para trabalhar. Para o Paulo é muito fácil, com um laptop ele pode trabalhar em qualquer lugar. Agora eu preciso de espaço, tem a questão de você usar os materiais e sujar o quarto, o cheiro também que esses produtos deixam. Então, eu tinha uma exposição em Paris e eu tinha que levar os quadros no campo para poder terminar, pintar, porque eram grandes formatos. Aí eu comecei a perceber que caía uma folha, caía um inseto. Isso não é bom para o meu trabalho, pensei, mas depois eu vi que era uma parceria com a natureza", explica.
Ela, então, virou "uma artista sem ateliê, fora do ateliê, na natureza", o que "transformou totalmente todo o processo da minha criatividade, da minha caminhada na arte".
"Acabei deixando os trabalhos em lugares que eu considerava sagrados. Então, meu trabalho teve uma total revolução. Muitas coisas boas aconteceram a partir desse momento".
Segundo ela, as caminhadas que ela e o marido fazem com frequência em meio à natureza ajudam nesse processo, porque são "uma conexão com esse espaço que nos inspira, que nos transforma".
"É muito importante esse contato com a natureza. Para mim, é essencial ter essa parceria, essas caminhadas com Paulo".
Ano complicado
Comemorar aniversários - ela fez 70 em novembro - é importante para Christina por achar "que é mais um ano que se passou, graças a Deus, eu estou bem, com saúde, apesar deste ano ter sido muito complicado para muitas pessoas".
"A gente sofre com as pessoas. Nós também tivemos que ficar mais sozinhos. Para mim, é muito importante completar este ano que, apesar disso tudo, foi de grandes realizações e de muito trabalho".
E como ela vê a vida aos 70? Mudou o olhar para as coisas?
"Eu acho que a nossa essência nunca muda. Sempre vou me sentir como aquela garota que nasceu no Catete, que tinha uma madrinha que fazia todas as vontades que morava do lado da minha casa. Vou olhar através de tudo que eu vim aprendendo, né? Tem algumas coisas que se transformam porque eu acho que é natural da vida as coisas se transformarem. Até de uma geração para outra, quantas mudanças tiveram? Quantas coisas eu vivi nesses 70 anos! Toda essa parte tecnológica. Eu acho que a gente muda, mas a nossa essência permanece".
Ela também falou à RFI sobre como vem enfrentando essa pandemia, o que melhorou e o que piorou.
"Você valoriza mais certas coisas que antes não valorizava, como encontrar os amigos. Então, acho que isso é positivo. E também se interiorizar, saber que pode ficar isolado que não vai pirar, poder ler mais, trabalhar mais. As coisas ruins são ruins mesmo. Você vê muito sofrimento, as pessoas desempregadas, passando necessidade, passando fome até, morrendo, perdendo as pessoas que amam... Então, é muito triste, né? Você acha que quando a coisa já foi embora, que você começa a respirar um pouquinho, tem que voltar à estaca zero. Então, isso é muito desanimador. Realmente, não acho que seja uma boa experiência. Acho uma péssima experiência essa pandemia".
Sobre a vida em Genebra, ela diz ser "muito boa". "O que eu gosto aqui é que eu tenho ótimos amigos, ótimas pessoas ao meu lado. Então, é muito prazeroso. É uma cidade super segura, é fácil de você se locomover, não precisa perder horas e horas no trânsito para fazer qualquer coisa, é tudo muito perto. É muito bom viver aqui", finaliza.
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