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Mais contagiosa e mais branda: ômicron pode ser a última onda da pandemia?

31.dez.21 - Pessoas fazem fila em uma cabine de teste móvel de doença coronavírus (COVID-19) em Paris, França - CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS
31.dez.21 - Pessoas fazem fila em uma cabine de teste móvel de doença coronavírus (COVID-19) em Paris, França Imagem: CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS

Jeanne Richard

04/01/2022 17h11

A onda da variante ômicron de Covid-19 se espalha pelo mundo como rastilho de pólvora, com recordes diários de novas contaminações. O planeta ultrapassou a barreira dos 2 milhões de novos casos registrados em 24 horas pelo planeta, sendo os Estados Unidos e a Europa ainda os principais focos de atenção do surto atual.

Com mais de 250 mil casos diários na França, as autoridades do país apontam para uma luz no fim do túnel. O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, disse que esta pode ser a quinta "e última onda de Covid no país". Ainda que mais cautelosos que o ministro, os especialistas se mostram otimistas.

Com 32 mutações em sua proteína Spike, a última variante classificada como "de preocupação" pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de fato altamente contagiosa. Essa grande capacidade de transmissão tem transformado a ômicron na variante de maior circulação em muitos países.

A notícia pode ser melhor do que parece à primeira vista. É possível que esta onda seja a última a afetar nossas sociedades desta maneira tão radical, com um grande número de vítimas e sistemas hospitalares sobrecarregados, considera Bruno Canard, especialista em coronavírus e diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês (CNRS).

"Será que a ômicron é este último vírus? Nós não sabemos, mas o que sabemos é que a ômicron é tão poderosa em sua conquista do planeta que infectará a maioria dos seres humanos. Portanto, ele trará imunidade à humanidade. Será que esta imunidade será suficiente para bloquear uma nova variante? É uma possibilidade", diz ele.

Canard acredita, por outro lado, que é provável que novas variantes venham a surgir no futuro. No entanto, segundo o pesquisador, estaríamos caminhando para uma realidade com um vírus cada vez menos ofensivo graças às vacinas e à imunidade adquirida pelas contaminações com a ômicron e as variantes anteriores.

"À medida que aparece um número novo de variantes, ainda há imunidade celular no nosso corpo que permanece e protege, pelo menos parcialmente, contra as próximas variantes", explica o pesquisador.

Estudos recentes mostram que, como esta imunidade está sempre presente, caminhamos gradualmente para formas menos sérias.

Um vírus mais fraco

Se a evolução for esta, dentro de algum tempo é possível que o coronavírus seja visto como um vírus benigno ou, ao menos, tolerável. Algo mais próximo da gripe. No caso da Influenza, o mundo inteiro passa por epidemias durante o inverno, e adota vacinas regularmente atualizadas para as populações mais frágeis, como idosos, grávidas e bebês.

De tempos em tempos, uma variante mais perigosa aparece. A gripe A em 2009 e 2010, por exemplo, matou entre 150.000 e 575.000 pessoas pelo planeta.

Mas para que isso aconteça, a ômicron tem que continuar a se comportar como o esperado, lembra o professor Olivier Bouchaud, chefe do departamento de doenças infecciosas e tropicais do Hospital Avicenne, em Bobigny.

"Podemos sempre torcer e esperar por isso", considera o pesquisador, mas é cedo demais para "afirmar ou prever com muita credibilidade que esta seja de fato a última tensão e que depois nos livraremos da covid".

O epidemiologista confirma que os vírus tendem, em sua evolução natural, a enfraquecer com o tempo.

"A ômicron marca uma mudança em comparação com as tensões que tivemos até agora, já que é certamente mais transmissível, mas perdeu sua gravidade. É neste sentido que possa ser um sinal de que o vírus está começando a perder sua virulência. Mas tenhamos muito cuidado, o Covid-19 nos acostumou a muitas traquinagens e reviravoltas, por isso devemos ter cuidado para não sermos muito assertivos", afirma, cauteloso.

Bouchaud lembra que, embora a variante ômicron cause três vezes menos formas graves que a delta, de acordo com os últimos estudos da Grã-Bretanha, o grande número de pessoas infectadas ainda pode levar matematicamente a um grande número de hospitalizações e mortes. É muito cedo ainda para comemorar.