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"Deltacron" existe? Cepa que combina ômicron e delta é anunciada por cientista em Chipre

10/01/2022 14h33

O anúncio da descoberta de uma nova variante do SARS-CoV-2 em Chipre, feito neste fim de semana, está gerando polêmica no mundo científico. O professor de Biologia da universidade de Chipre, Leondios Kostrikis, afirma ter encontrado 25 casos de uma cepa que combina mutações da delta e da ômicron, mas pesquisadores questionam a existência da chamada "deltacron."
 

"Existem atualmente infecções conjuntas geradas pela ômicron e a delta, e nós encontramos essa variante que é uma combinação das duas cepas", disse Leondios Kostrikis ao canal de TV local Sigma, na sexta-feira (7). O biólogo ressalta que a cepa tem um perfil genético próximo da delta, mas inclui mutações da ômicron. O sequenciamento, genético da variante, lembra, foi disponibilizado na base de dados mundial administrada pelo Instituto Pasteur, conhecida como GISAID, que compartilha informações sobre o coronavírus. 

De acordo com as declarações do biólogo divulgadas no jornal local Cyprus Times, Kostrikis afirmou que as mutações eram mais frequentes nos pacientes hospitalizados. É possível, diz, que haja uma correlação entre Deltracon e os casos que necessitem de internação. "Veremos, no futuro, se essa cepa é mais contagiosa ou perigosa e se ela vai prevalecer", declarou.

No Twitter, alguns cientistas questionaram a descoberta. Para o virologista Tom Peacock, do Imperial College de Londres, as sequências genéticas identificadas parecem ser resultado de uma contaminação entre diversas amostras.

A pesquisadora  Maria Van Kerkhove, que dirige a luta contra a Covid na OMS (Organização Mundial da Saúde), também aposta nessa hipótese. "Deltacron é certamente resultado de um erro de sequenciamento", escreveu no Twitter. "Descartaremos em breve a hipótese de uma recombinação", reagiu o epidemiologista Arnaud Fontanet, do lnstituto Pasteur, em entrevista à rádio francesa RMC. 

Para muitos cientistas, se a Deltacron existisse de fato, os casos viriam de um "tronco comum" de mutações sucessivas que marcam o aparecimento de uma nova versão do vírus, o que não foi possível detectar nas amostras recolhidas em Chipre.

Cientista cipriota defende descoberta

Neste domingo (9), o cientista cipriota respondeu aos questionamentos sobre a contaminação das amostras, enviando uma mensagem à agência Bloomberg, a primeira a divulgar a notícia.

De acordo com ele, as amostras não foram sequenciadas simultaneamente e algumas foram coletadas fora do hospital. Ele também afirma que uma sequência similar foi encontrada em Israel. Kostrikis questionou as "declarações sem provas de que a Deltacron seria fruto de um erro técnico."  

O pesquisador também explicou que a Deltacron provavelmente não é uma "fusão" ou surgiu em um paciente contaminado ao mesmo tempo pela delta e a ômicron. Segundo ele, as mutações observadas parecem ser a evolução natural de uma variante mais antiga.

De acordo com a mensagem enviada à agência Bloomberg, ainda é cedo para saber a que ponto a Deltacron é contagiosa ou virulenta e Kostrikis não acredita que a cepa substituirá a ômicron. O Ministério da Saúde de Chipre prometeu organizar uma coletiva imprensa nesta semana sobre o assunto.