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Revista francesa alerta para as ambições de Xi Jinping e chama presidente chinês de "ditador implacável"

28/01/2022 12h59

A revista L'Obs desta semana traz um longo perfil do presidente chinês Xi Jinping. A reportagem conta a história do chefe de Estado que, apesar de seu passado de prisioneiro nos campos da Revolução Cultural e suas lacunas intelectuais, se tornou um dos homens mais poderosos do mundo, ao ponto de ser chamado de "novo Mao Tsé-Tung".

A revista L'Obs desta semana traz um longo perfil do presidente chinês Xi Jinping. A reportagem conta a história do chefe de Estado que, apesar de seu passado de prisioneiro nos campos da Revolução Cultural e suas lacunas intelectuais, se tornou um dos homens mais poderosos do mundo, ao ponto de ser chamado de "novo Mao Tsé-Tung".

O texto lembra que a partir da semana que vem, os olhos do mundo estarão voltados para o presidente chinês por causa da abertura dos Jogos Olímpicos de inverno, que começam na próxima sexta-feira (4). A revista conta como o chefe de Estado conseguiu, a base de muita neve artificial, transformar Pequim, uma cidade onde quase nunca neva, na sede do evento. Quando Xi quer alguma coisa, ele consegue, resume l'Obs.

A reportagem explica que desde que o líder assumiu a direção do Partido Comunista, há uma década, ele tem se mostrado cada vez mais ambicioso, com "um apetite pelo poder sem limites", escondido atrás de um discurso de valorização do país. "Xi está convencido que apenas um dirigente forte, autoritário e capaz de tomar decisões difíceis poderá resolver os problemas que ameaçam a sobrevivência do Partido", analisa o historiador Joseph Torigian, entrevistado pela revista.

Segundo o texto, a sede de poder do presidente chinês vem de seu passado. Filho de Xi Zhongxun, um personagem revolucionário, que chegou a ter a vida salva pelo próprio Mao Tsé-Tung, Xi Jinping cresceu acreditando que fazia parte de uma linhagem que poderia mudar a história do país. Ele mesmo chegou a ser enviado durante a Revolução Cultural para um vilarejo nas zonas rurais do país, onde atuou nos campos que "educavam" a população à base de trabalhos manuais.

Foi nesse vilarejo que Xi construiu a sua personalidade, mas também a capacidade de resiliência. A revista conta como ele conseguiu, após nove anos de espera, finalmente entrar no Partido Comunista e continuar os estudos em Pequim.

Fraude para obter diploma

Porém, a reportagem revela que a formação acadêmica do atual presidente é bastante limitada: seus diplomas poderiam ter sido obtidos graças a uma fraude, com uma tese de doutorado redigida por uma assistente. A capacidade intelectual do presidente é frequentemente contestada pelos opositores - quase sempre exilados - que ousam criticar o chefe de Estado.

Uma ex-professora do Partido Comunista, que agora vive nos Estados Unidos, conta à L'Obs que qualquer um que conheça bem o mandarim pode notar os limites de Xi Jinping. "Ele comete erros sobre personagens históricos e quase sempre se atrapalha ao pronunciar palavrar mais complexas", comenta a dissidente.

Não é raro que fotos divulgadas no WeChat, a principal rede social chinesa, mostrem imagens dos discursos do presidente nas quais as expressões mais difíceis são escritas de forma fonética, para evitar os erros, suscitando piadas entre seus opositores.

Mas nada disso não impede que Xi continue a controlar o país, massacre a minoria uigur, dê as cartas da economia mundial e já se prepare para tentar uma reeleição em outubro, quando uma eleição deve definir a nova direção do Partido Comunista chinês. A revista, que chama o chefe de Estado de "ditador implacável", lembra que em 2018 ele decidiu acabar com a limitação de dois mandatos para os presidentes, em um sinal de que Xi Jinping poderia tentar permanecer no poder.