Divergência entre Bolsonaro e Itamaraty 'enfraquece' o Brasil, diz analista
Logo depois de o governo britânico ter divulgado que Jair Bolsonaro (PL) e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson concordaram em pedir um cessar-fogo urgente na Ucrânia, o presidente brasileiro voltou a ficar em cima do muro ao comentar a guerra.
Os dois líderes se falaram por telefone e o que se sabe da conversa foi a nota divulgada pela equipe de Johnson, que lembrou Bolsonaro da importância que o Brasil teve ao lutar ao lado dos aliados na Segunda Guerra Mundial.
Em transmissão pela internet ontem Bolsonaro falou pouco do conflito que já deixou mais de um milhão de refugiados ucranianos, e usou argumentos econômicos para defender a opinião.
Ele trocou a "neutralidade" dos discursos anteriores por "equilíbrio", mas de novo não tomou lado na história.
"Muitos questionam que eu tenho que ter uma posição mais firme de um lado ou de outro. O Brasil continua numa posição de equilíbrio. Nós temos negócios com os dois países e não temos a capacidade de resolver esse assunto. Então equilíbrio é a posição mais sensata para o governo federal", justificou Bolsonaro, que depois completou afirmando que torce pela paz.
"A guerra não traz nenhum benefício para os dois países e para o resto do mundo. Veja aí o preço do petróleo como subiu", disse durante a live transmitida pelas redes sociais.
Brasil votou contra Rússia na ONU
Esta semana a diplomacia do Brasil endossou nas Nações Unidas documento que condena de forma dura a operação de guerra da Rússia na Ucrânia.
"Eu diria que no momento existem três grandes correntes no governo", disse Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
"Essa do Itamaraty, dos diplomatas profissionais, que se manifestam nas votações da ONU, condenando a guerra da Ucrânia como uma guerra de agressão", pontuou.
"Há a posição do presidente Bolsonaro, que tem feito declarações mais ao lado de Putin", acrescentou.
"E uma terceira, que a é a do vice (Hamilton) Mourão (PRTB), que chegou a comparar Putin a Hitler e defendeu um alinhamento maior do Brasil aos Estados Unidos e União Europeia. O vice é um general de quatro estrelas, então o que ele fala em geral reflete algum consenso de ao menos parte do alto comando do Exército", finalizou.
"Mas eu diria que, na divergência de opiniões, a posição do Itamaraty, da diplomacia, é a que tem mais peso. O Brasil foi o único dos Brics a votar contra a Rússia, e isso não é pouca coisa", complementou Santoro, ao lembrar que China, Índia e África do Sul se abstiveram das críticas à Rússia no encontro da Assembleia Geral das Nações Unidas na última quarta-feira (2).
Ainda assim, o analista disse que essa cesta de opiniões impede o Brasil de ter maior protagonismo no cenário internacional.
"Essa indefinição enfraquece a posição do país inclusive na ONU porque enquanto a diplomacia se posiciona de uma forma, o presidente joga na outra linha, como se eles estivessem jogando em times diferentes", avaliou.
"Isso é muito ruim para o Brasil porque nosso principal ativo internacional não é nossa força militar nem nossa economia, mas nossa credibilidade, nossa diplomacia", acrescentou.
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