Fórum Mundial da Água discute crise hídrica causada por aquecimento global
A 9ª edição do Fórum Mundial da Água começou nesta segunda-feira (21) em Dakar e é considerado um dos eventos mais importantes sobre o tema. Criado pelo Conselho Mundial da Água e gerenciado pelas grandes empresas do setor, o fórum acontece a cada três anos e dura cerca de uma semana. Esta é primeira vez que o encontro ocorre na África subsahariana.
Géraud Bosman-Delzons, da RFI
Em entrevista à RFI, o secretário-executivo do evento, Abdoulaye Sene, explicou que a tomada de consciência em relação à moderação do consumo demorou porque a água foi, durante muito tempo, considerada como um recurso ilimitado.
RFI - A crise da água se tornará de fato mais grave com as mudanças climáticas?
Abdoulaye Sene - Durante muito tempo, consideramos a água como um recurso ilimitado e percebemos como o consumo individual ocorria sem nenhuma parcimônia. Em alguns países, como os Estados Unidos, o consumo por habitante pode ultrapassar 500 litros por pessoa. A média considerada como essencial para o homem é de 50 litros por dia e por pessoa. Agora a seca se espalha, as grandes fontes de água estão secando e deixando as grandes cidades "com sede."
Percebemos que, com o aumento da população, a demanda cresce, mas o acesso é mais limitado. Invariavelmente isso levará a uma situação de conflito, se não instituírmos modalidades e mecanismos de governança cooperativa e solidária. Com o avanço do aquecimento global, o crescimento da população e a necessidade de aumentar a produtividade da agricultura, principalmente de consumo, a água se posicionará como um elemento prioritário para a paz e a segurança no mundo.
RFI- Quais serão as questões e os objetivos colocados no evento?
AS - Trata-se de questionar a importância da água para a segurança das nações mas, sobretudo, para o bem-estar das populações. O fórum também abordará a questão da água para o desenvolvimento rural. A agricultura é uma questão extremamente importante, na África, em particular. Dos anos 1970 aos 1990, o Sahel registrou uma de suas piores secas. A água é um dos melhores parâmetros das mudanças climáticas e de suas consequências, que podem gerar, num outro extremo, inundações momentâneas.
Abordaremos, dessa forma, a maneira como poderemos garantir esse recurso, estocando, com barragens, ou recuperando a água da chuva, com programas de cisternas no mundo rural, mas também adaptando a agricultura às técnicas de irrigação econômicas, do ponto de vista hídrico. Com recursos cada vez mais raros, é comum que as fontes hidráulicas gerem conflitos entre agricultores e criadores de animais, por exemplo.
O fórum é questionado com frequência pela falta de comunicação política em nível nacional e internacional, para que medidas eficazes sejam tomadas pelos Estados. As populações aguardam soluções concretas para seus problemas.
RFI- Quais respostas à população o fórum poderá trazer essa questão?
AS - Nessa edição, haverá encontros políticos de alto nível com chefes de Estado, de grandes instituições internacionais, de financiamento, que estarão presentes para lançar iniciativas concretas a serviço do acesso à àgua. As populações senegalesas, africanas e do mundo poderão, ao deixar o Fórum, beneficiar de novos programas, iniciativas e projetos que permitirão melhorar o acesso à água e ao saneamento, que são direitos humanos. O evento é organizado pelo Conselho Mundial da Água, que tem origem no setor privado. A ONU é uma simples parceira.
RFI- A questão da água não deveria ser gerenciada pelas Nações Unidas, como é o caso do clima, da biodiversidade e da desertificação?
AS - Com certeza, e é por isso que o Senegal espera que o fórum contribua para a preparação da segunda grande conferência mundial da ONU sobre a água, em 2023. A primeira aconteceu em 1977, em Mar del Plata. Isso revela o desejo das Nações Unidas de retomar o controle dessa questão fundamental, que hoje tem uma dimensão geopolítica própria.
RFI - Alguns atores da sociedade civil contestam a legitimidade do Fórum Mundial da Água e temem a privatização do recurso. Por isso haverá um fórum alternativo, organizado por ONGs, ecologistas e e cientistas.
AS - É um ponto de vista que ouço, respeito, mas gostaria de ressaltar que o Fórum Mundial da Água de Dakar será inclusivo. Teremos diálogos com a sociedade civil, que está sendo bastante representada. É evidente que não se trata de discutir a privatização da água, mas dos serviços de fornecimento. Mas a questão essencial é que água seja tratada como um patrimônio nacional, mundial. De maneira alguma, no Senegal, queríamos organizar um debate que pudesse gerar dúvidas sobre nossas intenções em promover a privatização de um bem tão insubstituível, essencial e vital como a água. Queremos um fórum histórico, que se traduza em respostas, compromissos. Esperamos receber mais de mil participantes.
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