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Novo governo francês tem ministro negro defensor das minorias, mas nenhum ecologista

20/05/2022 14h23

A revelação do gabinete da nova primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, nesta sexta-feira (20), ilustra a continuidade do governo do presidente Emmanuel Macron, vencedor das eleições de abril na França. Mas o ministério traz algumas surpresas, como a nomeação de um intelectual defensor das minorias para a Educação. Já a ausência de um nome ecologista causa ceticismo quanto às promessas do presidente na área ambiental.

Alguns dos ministros que ocupavam as principais pastas na reta final do primeiro mandato de Macron permanecerão nos cargos: ??o conservador Bruno Le Maire segue à frente do Ministério da Economia, Finanças e Soberania Industrial e Digital, Gérald Darmanin continua no Interior e Eric Dupond-Moretti permanece na Justiça, apesar da relações conflituosa que mantém com os sindicatos dos magistrados. Clément Beaune também continua no Ministério de Assuntos Europeus e Franck Riester, no Comércio Exterior.

A diplomata Catherine Colonna é a nova ministra das Relações Exteriores, a segunda mulher a ocupar o cargo na história do país. A própria Élisabeth Borne também é a segunda mulher a ocupar a função de chefe de Governo na França. 

Colonna foi ministra de Assuntos Europeus de 2005 a 2007 e atualmente era embaixatriz no Reino Unido. Na Cultura, quem assume é a franco-libanesa Rima Abdul Malak, até então assessora do presidente para assuntos culturais. Figura na gestão da crise do Covid, Olivier Véran sai da Saúde e assume as Relações com o Parlamento.

Extrema direita critica novo ministro, "militante da imigração"

Já a escolha do historiador Pap Ndiaye ? um intelectual negro especialista na história social dos Estados Unidos e das minorias ? para o ministério da Educação suscitou uma onda de críticas da extrema direita. O respeitado pesquisador de 56 anos, que até então dirigia o Palais de la Porte Dorée, espaço onde fica o Museu da História da Imigração, é filho de pai senegalês e mãe francesa e assumirá um ministério que atravessa tensões sociais.

Marine Le Pen e Éric Zemmour, expoentes da extrema direita, acusam o novo ministro de querer "desconstruir" a história do país e de ser um "militante da imigração". "A nomeação de Pap Ndiaye, um suposto indigenista, para a Educação Nacional é a última pedra na desconstrução de nosso país, seus valores e seu futuro", disse Marine Le Pen, acrescentando a necessidade de "proteger nossa juventude das piores ideologias".

"Um ativista imigratório para reeducar nossos filhos para 'conviver' com os migrantes e desconstruir a História da França. Esta nomeação ultrapassa os limites da provocação", escreveu Julien Odoul, porta-voz do partido de Marine Le Pen, Reunião Nacional (RN), no Twitter.

"Emmanuel Macron disse que a história da França tinha que ser desconstruída. Pap Ndiaye cuidará disso", reagiu Éric Zemmour, o ex-candidato pelo recém-fundado partido Reconquista!, considerado mais extremista do que o Reunião Nacional.

Esquerda lamenta ausência de ecologistas

Na esquerda, o foco do descontentamento foi bem diferente: a ausência de um nome tradicionalmente ecologista no novo gabinete. Amélie de Montchalin é a nova ministra da Transição Ecológica e Coesão Territorial e Agnès Pannier-Runacher, ex-secretária especial para a Indústria, ganha a pasta da Transição Energética. Junto com a premiê, as três serão as responsáveis pelo planejamento ecológico e energético, uma promessa do segundo mandato de Macron.

"Onde foi parar a  virada ecológica e social?", provocou Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical e terceiro lugar na eleição presidencial. "De qualquer forma, esta equipe está aqui apenas por um mês", acrescentou, em referência às eleições legislativas de junho no país.

Julien Bayou, secretário-geral do Europa Ecologia-Verdes, afirmou que "é um governo de continuidade da inação climática". Para ele, as nomeações de Amélie de Montchalin e Agnès Pannier-Runacher "são só para constar": "são dois perfis que nunca mostraram o menor interesse em ecologia", explicou.

O novo governo, composto por 27 ministros e secretários de Estado (entre eles 13 mulheres), deverá se reunir para um primeiro Conselho de Ministros na segunda-feira (23).