Topo

Diante de críticas, Michelle Bachelet defende atuação da ONU em visita à China

28/05/2022 13h38

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou neste sábado (28) que a sua visita à China não foi "uma investigação" e que suas reuniões na região de Xinjiang, onde Pequim é acusada de reprimir minorias, não foram supervisionadas pelas autoridades locais.

Em uma entrevista coletiva online, Bachelet disse ter ouvido aqueles que, nos últimos dias, a recriminaram pela falta de críticas ao governo chinês. Ela assegurou ter falado "francamente" com os líderes comunistas.

O regime de Pequim é acusado de manter um milhão de uigures e outras pessoas de minorias muçulmanas em centros de detenção em Xinjiang, no noroeste da China, de esterilizar mulheres e de submeter esses cidadãos a trabalhos forçados.

A ex-presidente chilena, de 70 anos, chegou a Xinjiang na terça-feira (24). Foi a primeira visita de um alto funcionário de Direitos Humanos da ONU ao país, em 17 anos. No roteiro da viagem ainda estavam visitas às cidades de Urumqi, capital regional, e Kashgar.

Bachelet exortou a China a evitar "medidas arbitrárias" na campanha "antiterrorista" que as autoridades promovem na região de Xinjiang.

Este imenso território chinês tem sido palco de ataques sangrentos contra civis cometidos, segundo as autoridades, por separatistas islâmicos uigures - o principal grupo étnico da região. Xinjiang, onde vivem 26 milhões de pessoas, está sob forte vigilância há vários anos.

Estudos ocidentais acusam Pequim de ter internado mais de um milhão de uigures e membros de outras etnias muçulmanas em locais que as organizações humanitárias qualificam como campos de reeducação forçada.

Segundo esses relatórios, os uigures teriam sido internados apenas por suposto extremismo, por causa de uma barba muito longa, por viagens suspeitas ao exterior ou por suas crenças religiosas.

Pequim nega violação de direitos humanos

A China denuncia relatos tendenciosos e esclarece que os "centros de treinamento vocacional" são destinados ao emprego e para erradicar o extremismo. Pequim nega qualquer "esterilização forçada", dizendo apenas aplicar a política nacional de controle de natalidade.

De acordo com Bachelet, as autoridades desta região chinesa garantiram o "desmantelamento" da rede de "centros de formação profissional". Ela também informou ter questionado, em suas reuniões com as autoridades de Xinjiang, a separação de famílias uigures. "Estamos cientes do número de pessoas que procuram notícias de seus parentes. Esta e outras questões foram tratadas", disse.

Bachelet considerou a sua visita uma oportunidade para falar "francamente" com as autoridades chinesas, com grupos da sociedade civil e acadêmicos

Os Estados Unidos e Parlamentos de outros países ocidentais denunciam um "genocídio" na China, acusações que Pequim nega com veemência. A China garante que esses centros existem para manter a população longe do separatismo e do islamismo radical.

A viagem da alta comissária da ONU atraiu críticas de grupos de direitos humanos e uigures no exterior. Os representantes da minoria temem que a viagem de Bachelet seja instrumentalizada pelas autoridades chinesas. Após uma reunião por vídeo que Bachelet teve com o presidente Xi Jinping, a mídia estatal sugeriu que ela apoiava a visão da China sobre os direitos humanos. Porém, a equipe de Michelle Bachelet esclareceu que os comentários feitos por ela não continham um endosso direto ao histórico da China em direitos humanos.

(com informações da AFP)