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Humorista francês que mora no Brasil viraliza nas redes com piadas sobre diferenças culturais

02/09/2022 10h16

Paul Cabannes se apresenta como um parisiense "para lá de brasileiro". O humorista e protagonista de shows de stand-up comedy tornou-se um fenômeno nas redes sociais. Ele reúne cerca de 560 mil seguidores no seu canal do Youtube, lançado em 2017, 600 mil no Instagram e mais de 1 milhão no TikTok, onde ganhou destaque postando esquetes engraçados sobre as principais diferenças culturais entre franceses e brasileiros.

Paul Cabannes se apresenta como um parisiense "para lá de brasileiro". O humorista e protagonista de shows de stand-up comedy tornou-se um fenômeno nas redes sociais. Ele reúne cerca de 560 mil seguidores no seu canal do Youtube, lançado em 2017, 600 mil no Instagram e mais de 1 milhão no TikTok, onde ganhou destaque postando esquetes engraçados sobre as principais diferenças culturais entre franceses e brasileiros.

"A inspiração vem do dia a dia. Eu moro no Brasil há sete anos, mudei para lá com a minha esposa brasileira, e eu comecei o canal com essas observações, essas cenas da vida diária brasileira. Os brasileiros são maravilhosos", disse em entrevista à RFI, em Paris. "Meu senso de humor é bem debochado e isso funciona no Brasil", completa.

No espetáculo "Parisleiro", que estreia em Paris no dia 7 de setembro e passa por Lisboa no dia 8, antes de começar uma turnê pelo Brasil, Paul Cabannes compartilha sua visão sobre o Brasil e faz comparações com a França. 

"Tem coisas que acontecem só no Brasil. Você chega em um café, em um boteco ou padaria e tem esse jeito de chamar: 'e aí capitão?', 'e aí chefe?', são observações que eu comecei a fazer não só na linguagem, mas também nos hábitos", diz.

Entre tantas observações, ele concluiu que brasileiros "não são diretos" e sempre começam frases com expressões como: "deixa eu falar", "assim né", "então", além de usarem apelidos para todo mundo. "Vocês não são diretos porque o Brasil é um povo muito educado, enquanto o francês é bem direto, até rude às vezes", admite. "No Brasil, você dificilmente fala não. Se agir como os franceses, as pessoas vão te considerar arrogante. No Brasil, se alguém te convida para ir em casa, você responde: 'vamos ver, de repente eu passo'", exemplifica.

Cabannes, que nasceu em Paris e se mudou para o Brasil em 2015, conta que teve várias profissões antes de se tornar comediante. "Eu tive 14 profissões antes. Eu fazia muito bicos, não insisti na universidade, tentei Direito, Economia, mas nada deu certo. Eu fui garçom, corretor de imóveis, apresentador da Meteorologia numa rádio francesa, colhi uvas num vinhedo, fui assistente administrativo. Mas eu não estava me encontrando e disse para a minha esposa: 'vamos para o Brasil'", lembra, sobre a decisão de mudar de vida.

O que o Brasil pode ensinar à França

Olhando para trás, ele diz que valeu a pena arriscar tudo. "No meu show de stand-up eu estou sozinho no palco, falo sobre o Brasil, com a perspectiva de alguém que viaja para o Brasil e tem um choque cultural, pois as culturas são muito diferentes, mas tudo com humor", explica. "Mas eu falo, também, sobre o que eu acho que a França deveria aprender com o Brasil. Por exemplo: vocês são muito mais receptivos. Você chega em um café, na França, e ninguém nunca vai te chamar de 'meu amor', 'meu querido', 'meu bem', 'meu anjo'. Vocês têm um senso da relação humana que é extraordinário", afirma.  

"Vocês também têm uma maneira carinhosa de falar com os seus filhos que nós não temos. No show, eu falo disso, das coisas que eu aprendi no Brasil e como o Brasil me tornou uma pessoa melhor", completa. "Tem coisas que no Brasil são muito melhores: as praias, o calor humano, o senso de humor brasileiro", acrescenta.

Paul Cabannes é pai de duas meninas franco-brasileiras, que aparecem em seus vídeos normalmente dizendo que preferem o Brasil à França. "Minhas filhas adoram o Brasil, elas nasceram na França, mas quando fomos para o Brasil, elas tinham um e três anos e são muito mais brasileiras. São brincalhonas, bem cheias de vida", compara.

Porém, apesar do sucesso nas plataformas digitais, Cabannes admite que as redes sociais no Brasil podem ser um ambiente hostil. Foi o que aconteceu quando ele apresentou a própria esposa em um vídeo, mas nem todos os comentários foram amigáveis. "O Macron casou com uma mulher 25 anos mais velha. Pensei: vai que eu caso com uma que tem 15 a mais e viro ministro? Não deu certo, mas fiquei com a minha esposa", brinca.

Quando perguntado se a política rende boas piadas, ele desconversa. "A França é menos polarizada politicamente, é menos tenso. Tenho a impressão de que no Brasil, dependendo do lado em que estão, as pessoas se odeiam",observa.

"No meu caso, não falo de política porque tem uma coisa chamada ganância e eu não quero perder metade dos meus seguidores", ri. "Eu tenho opiniões, mas eu não sei se é adequado, como francês, vir para o Brasil e dar os meus 'pitacos'. Eu acho que quem tem de decidir são os brasileiros, eu não me sinto no meu lugar para opinar", completa.

Croissant com recheio?

Já a gastronomia está sempre presente nos esquetes de Paul Cabannes. Ele já se esqueceu quantas vezes teve de explicar que croissant não tem recheio, como encontramos no Brasil. "O croissant francês é muito amanteigado e não precisa de recheio. Como percebi que as pessoas acham isso engraçado, usei para o meu marketing. Eu só falo de croissant recheado porque eu tinha de achar alguma coisa para representar a França, assim como o italiano que não gosta de cortar o espaguete", compara.

Ainda falando de gastronomia, ele acha muito engraçado "o dom do brasileiro de transformar qualquer coisa em bolinho". "O brasileiro é um povo muito criativo, não só com comida, mas com tudo", diz. "Você vê as gambiarras. Parece que o brasileiro nunca se importa com as coisas que acontecem de ruim. Se a tranca da porta da casa estraga e ele não tem dinheiro para trocar, ele adapta com o cinto de segurança do carro. Vocês fazem isso também com comida, tudo o que sobra, vocês brasileiros transformam em bolinho, já vi bolinho de feijoada e até bolinho de chuva", brinca.

"Contrachoque cultural"

O espetáculo Parisleiro estreia no teatro BO Saint Martin, em Paris, com ingressos já esgotados. De volta à França para mostrar o novo trabalho, Paul Cabannes confessa que já não se sente mais tão em casa na capital francesa. "Eu sinto o contrachoque cultural agora, quando você passou vários anos lá fora e quando volta se sente perdido. É igual a sair da prisão. A língua mudou. Tem coisas que eu falava, há dez anos, e que agora são muito bregas, eu pareço aquele tiozão com os meus amigos", resume.