Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Casamento foi cancelado após padrinho ser levado por rio no RS: 'Desespero'

Fabiana, 39, e Gilberto Eidt, 47, sonharam por mais de um ano com o casamento que ocorreria no dia 30 de abril em Santa Cruz do Sul (RS). A festa para 300 convidados estava pronta, as famílias que viajaram de outros estados já estavam se preparando, até que uma inesperada tragédia ocorreu: um padrinho desapareceu em meio às chuvas fortes, levado pelo rio Pardinho.

A data da celebração foi escolhida porque dia 1º de maio é aniversário de Gilberto. Os preparativos começaram no início de 2023. "Escolhemos fazer no dia 30 porque é véspera de feriado, e queria que entrasse meia-noite já comemorando a data", diz Gilberto.

Ele é de Santa Catarina, e Fabiane, de Alagoas. Parte da família da noiva ficou hospedada na residência do casal, em Santa Cruz do Sul. "Já meus irmãos gostam muito de um sítio que a gente tem aqui em Sinimbu [a 22 km de Santa Cruz do Sul], então ficaram hospedados lá", explica.

Fabiane e Gilberto
Fabiane e Gilberto Imagem: Arquivo pessoal

Ele conta que chovia muito desde o dia 29 na região, mas como a festa iria ocorrer em local distante de alagamentos e os convidados já estavam por lá, não pensaram em adiar.

No início da manhã do dia 30, o cunhado Carlos Wolfart, 41, saiu do sítio onde estavam hospedados para ver a força das águas do rio.

A gente tem um lago bem grande no sítio, e ele passou por lá. Depois desceu uns 500 metros, me ligou de vídeo para mostrar a situação. Mas quando foi voltar, o rio estava passando por esse lago. Ele não sabia nadar e não conseguiu mais passar.
Gilberto Eidt

Por volta das 7h da manhã, Carlos retornou a ligação a Gilberto e disse que precisava ser resgatado.

A partir dali, os dois começaram a se falar pelo celular, e Carlos mandou a localização para que fossem buscá-lo — a situação, diz, parecia ser possível de ser resolvida.

Continua após a publicidade

Eu liguei para um amigo chefe da polícia, ele disse que não tinha como resgatar. Consegui dois helicópteros de amigos, só que eles não tinham teto para decolar. Estava chovendo muito, com neblina e raios. Os bombeiros não conseguiram atravessar o rio para fazer o socorro.
Gilberto Eidt

Gilberto no rio em busca do cunhado
Gilberto no rio em busca do cunhado Imagem: Reprdoução

Gilberto relata que a situação foi se complicando e ele decidiu, então, ligar para dois amigos que têm jet ski para tentar chegar até Carlos. "Foi o que fiz no desespero", lembra.

Com a elevação do nível da água, Carlos acabou subindo em uma árvore, mas o volume continuou aumentando. O grupo que se reuniu para resgatá-lo chegou ao local por volta das 16h.

Era um trajeto que dava para fazer em 20 minutos, mas demoramos quatro horas porque pegamos outras quatro enchentes de afluentes menores. Eu fui com um colete a mais e uma corda para tentar salvá-lo, mas cheguei atrasado. Os vizinhos próximos viram ele indo embora com a árvore.
Gilberto Eidt

Com a tristeza dos familiares, a festa foi cancelada. Em uma ação solidária, os noivos decidiram doar toda a comida do buffet para vítimas desabrigadas.

Continua após a publicidade

Na nossa casa tinha maquiadores e cabeleireiros arrumando as madrinhas. Eu estava preocupado, mas dizia ao Carlos que ia salvá-lo, que ia dar um jeito. Sem dúvida foi o pior aniversário da minha vida.
Gilberto Eidt

O corpo de Carlos só foi encontrado na última quarta-feira (8) pelo Corpo de Bombeiros — mais de uma semana depois do desaparecimento.

Situação do rio Pardinho nesta quarta-feira (8)
Situação do rio Pardinho nesta quarta-feira (8) Imagem: Arquivo pessoal

Família ficou 'presa'

Como a força das águas alagou o aeroporto de Porto Alegre e as estradas foram danificadas, a família da noiva permanece em Santa Cruz do Sul à espera de condições para voltar a Maceió.

Continua após a publicidade

A empresária Ranieria Francisca, 44, irmã da noiva, conta que um grupo de dez pessoas está ainda hospedado na residência do casal — e agora com passagem marcada para sexta-feira (10), saindo de Florianópolis.

Teve alagamento na cidade, mas já está voltando ao normal. O local onde a gente está é seguro, na casa da minha irmã não teve alagamento. O problema realmente é saber se vamos conseguir chegar para embarcar.
Ranieria Francisca

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes