"Milhares de soldados russos chegarão a Belarus e não está claro o que isso significa", diz cientista político
O governo de Belarus garantiu nesta terça-feira (11) que a força militar formada com seu aliado russo é apenas defensiva. No entanto, Minsk levanta temores de uma intervenção direta no conflito na Ucrânia ao acusar Kiev de preparar ataques.
"Os objetivos do agrupamento regional de forças são puramente defensivos. E todas as operações atualmente em curso visam adotar uma reação adequada às ações realizadas perto da nossa fronteira", explicou o ministro da Defesa de Belarus, Victor Khrenine, em um comunicado de imprensa. Ele especificou ainda que o trabalho realizado em conjunto com o exército russo serve para garantir a segurança nas fronteiras dos dois países.
No dia anterior, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, indicou que entrou em acordo com seu colega russo, Vladimir Putin, sobre a implantação desse grupo militar conjunto, sem dizer exatamente onde será posicionado e qual será sua escala. Ele acusou a Ucrânia e seus aliados poloneses e lituanos de prepararem ataques "terroristas" e uma "revolta" militar em Belarus treinando combatentes "radicais" bielorrussos para derrubar o governo.
Para o cientista político bielorrusso Valéri Karabalevitch, até agora Lukashenko evitou participar mais ativamente na guerra na Ucrânia de todas as maneiras possíveis. Mas a pressão aumentou e ele se vê obrigado a fazer mais e mais concessões.
"Milhares de soldados russos chegarão ao território de Belarus, e ainda não está claro o que isso significa. Vejo duas hipóteses: a primeira, seria usar esses homens para uma nova ofensiva em Kiev a partir do território de Belarus. A segunda, mais provável, é que os campos de treinamento bielorrussos sejam usados para treinar os soldados recém-mobilizados. Na Rússia, não existem locais suficientes para treinamento militar. Os recrutas seriam transferidos a Belarus para aprender a usar armas e equipamentos militares", explicou Karabalevitch à RFI.
Novas sanções contra Belarus
Belarus teria sido "aconselhada" a não entrar na guerra na Ucrânia, alertou nesta terça-feira a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna. "Devemos emitir um aviso a este país. Qualquer apoio adicional ao conflito levaria a sanções adicionais", disse ela, lembrando que medidas de retaliação já estão sendo aplicadas contra Minsk.
O governo bielorrusso, no entanto, rejeita a possibilidade de enviar seu exército, muito menor que o de Moscou, para lutar na Ucrânia ao lado dos russos. "Infelizmente, no Ocidente, cultiva-se a ideia de que o exército de Belarus poderia se envolver na operação militar especial na Ucrânia. Ao ceder a esse tipo de desinformação, a liderança da Otan e diversos países europeus estão claramente considerando a possibilidade de agressão contra nosso país", denunciou terça-feira o secretário do Conselho de Segurança de Belarus, Alexander Volfovich.
Minsk já emprestou seu território ao exército russo para sua ofensiva contra a Ucrânia, mas até agora não participou diretamente dos combates em território ucraniano. A entrada de forças bielorrussas em seu vizinho marcaria uma nova escalada do conflito na Ucrânia.
Turquia faz apelo por cessar-fogo
Enquanto isso, a Turquia pediu um cessar-fogo à Rússia e à Ucrânia nesta terça-feira, antes de uma reunião marcada para o final da semana em Astana entre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu colega russo, Vladimir Putin.
Membro da Otan, a Turquia permaneceu neutra desde o início do conflito, em 24 de fevereiro, e mantém boas relações com seus dois vizinhos do Mar Negro. Ancara desempenhou um papel fundamental na troca de prisioneiros em setembro entre a Rússia e a Ucrânia e na conclusão, em julho, sob a égide da ONU, de um acordo entre os dois países que permitiu a retomada da exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro e do Bósforo.
Por duas vezes, a Turquia também reuniu representantes russos e ucranianos em seu solo. Erdogan se encontrou com Putin três vezes nos últimos três meses, mas também fala regularmente por telefone com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O presidente turco se apresenta como um mediador e tenta reunir os dois homens para negociações de cessar-fogo. No entanto, o agravamento da situação no terreno está dificultando os esforços de paz.
Encontro entre Putin e Erdogan
"Infelizmente [ambos os lados] rapidamente se afastaram da diplomacia" desde as conversas entre negociadores russos e ucranianos, em março em Istambul, disse o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, em entrevista à televisão.
"À medida que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia se arrasta, infelizmente, a situação está ficando pior e mais complicada", acrescentou, pedindo um cessar-fogo imediato. "Um cessar-fogo deve ser estabelecido o mais rápido possível. Quanto mais cedo melhor", acrescentou ele.
Erdogan, que mantém uma boa relação com Putin, apesar das divergências em diversas questões, incluindo a Síria, deve se encontrar com seu colega russo novamente em Astana na quinta-feira (13), à margem de uma cúpula regional.
Altamente dependente do gás e do petróleo russos, a Turquia não aderiu às sanções ocidentais contra a Rússia. Erdogan, cujo último encontro com Putin remonta a setembro, na ocasião de uma cúpula regional no Uzbequistão, deseja aumentar o comércio com Moscou para ajudar a economia turca antes das eleições presidenciais em junho.
"Paz justa"
No final de setembro, Ancara cedeu à pressão americana e renunciou ao sistema de pagamento russo Mir, que permitia que os cidadãos russos continuassem a sacar dinheiro na Turquia.
Erdogan ainda não comentou os ataques russos na Ucrânia na segunda-feira (10), que deixaram pelo menos 19 mortos e cerca de 105 feridos. No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, conversou por telefone na segunda-feira com seu colega ucraniano, Dmytro Kuleba, revelou uma fonte diplomática turca sem mais detalhes.
Cavusoglu pediu nesta terça-feira durante sua entrevista na televisão uma "paz justa" baseada na integridade territorial da Ucrânia. "Deve haver uma paz justa para a Ucrânia. Para onde está indo a guerra? Ela está acontecendo em solo ucraniano", enfatizou.
"Um processo que garanta a integridade territorial e as fronteiras da Ucrânia deve começar", acrescentou ele. "Sem um cessar-fogo, não é possível falar sobre essas questões de maneira saudável: um cessar-fogo viável e uma paz justa."
A Turquia rejeitou no início de outubro a anexação de novos territórios ucranianos - as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia - pela Rússia, assim como se recusou a reconhecer a anexação da Crimeia em 2014.
(Com informações da AFP)
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