Com ou sem Lula, agenda de empresários brasileiros na China deve ser mantida
A notícia de que a viagem oficial do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à China seria adiada indefinidamente por razões de saúde desestabilizou a organização da visita. Mais de 200 representantes de empresas do Brasil faziam parte do grupo que acompanhava o chefe de Estado. Diante da importância da viagem ao país asiático - e do fato de que muitos membros da delegação já estão em Pequim -, a agenda empresarial deve ser mantida.
Silvano Mendes, enviado especial da RFI a Pequim
Já estava tudo pronto e todos esperavam para ver o simbólico aperto de mão entre Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, previsto para acontecer na terça-feira (28) em Pequim. O encontro dos dois líderes era o ponto alto da visita oficial do brasileiro à China, que contaria ainda com reuniões com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, além de uma passagem pela sede do Novo Banco de Desenvolvimento, entidade criada pelos BRICS (grupo formado por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul), em Xangai.
Com o anúncio do cancelamento da visita de Lula por razões médicas, as autoridades de ambos os países tiveram que se adaptar. O ministro brasileiro da Fazenda, Fernando Haddad, anulou sua viagem, assim como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O chanceler Mauro Vieira, que deveria desembarcar em Pequim vindo da República Dominicana, onde participava da Cúpula Ibero-Americana, mudou a rota já voltou para Brasília. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, já estava na capital chinesa, onde participou na quinta-feira (23) da abertura da Cotton Industry Development Conference.
Do lado chinês, o governo informou em nota que "manifesta compreensão e respeito, expressa cumprimentos ao presidente Lula e deseja sua rápida recuperação". O ministério chinês das Relações Exteriores frisou ainda que "continuará a manter contato com o lado brasileiro sobre questões relacionadas à visita".
Bem além da política
Mas a passagem de Lula pela China ia bem além dos aspectos políticos e outros eventos estavam agendados e eram bastante aguardados pela delegação de mais de 200 empresários que participam da viagem. Na segunda-feira (27), um encontro promovido pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) previa reunir cerca de 100 representantes de empresas do Brasil. Na quarta-feira (29), outro evento, organizado pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível e promovido pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também deveria acontecer na capital chinesa e contar com a participação dos mais de 200 empresários previstos na delegação. Até o fechamento desta matéria, no início da tarde deste domingo em Pequim, a programação estava mantida.
Afinal, mesmo se pelo menos 20 acordos deveriam ser assinados pelos representantes políticos da delegação, essa viagem tinha antes de mais nada um objetivo econômico. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil e o tamanho da delegação prevista na viagem prova que o momento é de "relançar esse relacionamento estratégico", como frisou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em um artigo publicado no sábado (25) no jornal chinês China Daily, pouco antes do anúncio do adiamento da chegada de Lula. Em seu texto, o chanceler menciona os "quatro anos de ausência", em referência ao mandato de Jair Bolsonaro, quando o país manteve seus negócios com a China, mas a pandemia de Covid-19, assim como algumas declarações dos ex-chefe de Estado, esfriaram um pouco as relações entre os dois gigantes.
Esta viagem "oferece oportunidade para que o setor privado brasileiro estabeleça interlocução com dirigentes empresariais chineses e identifique oportunidades de negócios e de investimentos", informou a ApexBrasil, que participou da organização da programação. A agência, que promove as exportações e os investimentos do país, previu visitas técnicas e encontros bilaterais em Pequim, tendo como foco temas como sustentabilidade, bioeconomia, inovação, energias renováveis, e agronegócio.
Estão na lista empresários de 30 setores da economia (entre eles representantes de 10 startups) e cada participante arcou com suas despesas de viagem. Muitos deles já estão em Pequim ou estavam a caminho quando a ausência de Lula foi confirmada.
Comércio de carne brasileira em destaque
Dos mais de 200 nomes previstos na delegação, pelo menos 60 representam frigoríficos. Cerca de 62% das exportações brasileiras de carne bovina foram para o país asiático no ano passado. Além disso, os chineses compram 44% das exportações brasileiras de carne suína em volume e cerca de 14% de frango.
Não à toa, nomes como BRF (BRFS3), maior exportadora global de frango, e a JBS (JBSS3), gigante mundial do setor, fazem parte da viagem e enviaram vários executivos a Pequim, entre eles membros da família Batista, que dirige a JBS. Também são presentes representantes do setor algodoeiro, produtores de celulose e grandes nomes da construção civil.
Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.
O produto brasileiro mais vendido para o mercado chinês no ano passado foi a soja, com 36% do total exportado, seguido pelo minério de ferro com 20% e o petróleo com 18%.
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