Carvão é o único longa-metragem brasileiro de ficção em disputa no Cinélatino de Toulouse
Entre os quatro representantes brasileiros que concorrem a prêmios na 35ª edição do Cinélatino, o festival de cinema latino-americano de Toulouse, está o longa-metragem Carvão (2022), o primeiro da cineasta paulista Carolina Marcowicz. O filme teve a sua estreia francesa durante o evento, que acontece até domingo (2) no sul da França, reunindo mais de uma centena de produções de diversos países. A RFI Brasil conversou com a diretora e a atriz principal, Maeve Jinkings.
Entre os quatro representantes brasileiros que concorrem a prêmios na 35ª edição do Cinélatino, o festival de cinema latino-americano de Toulouse, está o longa-metragem Carvão (2022), o primeiro da cineasta paulista Carolina Marcowicz. O filme teve a sua estreia francesa durante o evento, que acontece até domingo (2) no sul da França, reunindo mais de uma centena de produções de diversos países. A RFI Brasil conversou com a diretora e a atriz principal, Maeve Jinkings.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI à Toulouse
Desmistificando a ideia de que as áreas rurais são pacíficas, em contraposição à violência das metrópoles, Carvão apresenta ao espectador uma situação-limite que se passa numa decadente carvoaria do interior de São Paulo, onde uma família vive com dificuldade de seu comércio. A vida deles muda quando uma enfermeira oferece um acordo insólito: matar o patriarca e hospedar em seu lugar um traficante argentino que precisa se esconder.
"O filme tem momentos de thriller, de suspense mas também é um drama com um humor ácido", explica a diretora Carolina Marcowicz. "Eu cresci no interior, em Bragança Paulista, e eu acho impressionante como as cidades pequenas têm esse viés conservador que te pressiona a casar, ter filhos, ficar vigilante sobre a vida alheia. Mas isso causa uma pressão interna muito forte e as coisas acontecem do mesmo jeito, só que na surdina", diz. "O filme é sobre essas convenções externas que fazem com que as pessoas vivam a verdade delas de outra maneira e o quão violento isso pode ser", explica.
"Flexibilidade moral"
No papel da personagem Irene está a atriz Maeve Jinkings, já vista em filmes como O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016). "A Irene vive com sua família, carregando nas costas todas as demandas da propriedade, dos animais e do pai, que está numa condição de extrema fragilidade, enquanto o marido é mais relaxado. E eu acho que ela vive uma vedade conveniente", acredita Jinkins. "Ela sabe que essa proposta traz um tipo de violência, mas maquiada de um altruísmo. Afinal de contas, ela vai fazer isso para ajudar outra pessoa e porque o pai está em sofrimento. Então, o filme fala dessa flexibildiade moral. Em nome de que supostos valores altruístas você está fazendo isso?", questiona a atriz.
Carvão, uma coprodução entre Brasil e Argentina, estreou em competição no Festival de Toronto, em 2022, e ganhou dois prêmios no Festival do Rio, no mesmo ano: melhor roteiro e melhor atriz coadjuvante para Aline Marta. Em Toulouse, o filme concorre com outros dez longas-metragens, que representam 14 paises.
"Eu não sei dizer se estou com expectativa, mas já estou muito feliz de estar aqui em competição", comemora a diretora Carolina Marcowicz. "Eu gosto muito deste festival, já estive aqui com um curta-metragem. Tenho muito carinho por tudo que o festival fez pelo filme. Eu espero que ele seja apreciado e cause boas reflexões", completa.
Para Maeve Jinkings, apesar de se passar numa cidade pequena do interior paulistano, Carvão tem a capacidade de tratar de temas universais. "Eu acho que o mundo vive um pouco essa crise e, como intérprete, foi algo que me interessou muito no roteiro da Carolina, me fascinou como ela colocou a família no centro desse debate e como um motor de violência", analisa. "É um filme que sususcita emoções muito distintas e que mistura momentos de humor e outros momentos muito pesados", completa. "A gente achou muito interessante as reações das pessoas durante a sessão, pois há várias pessoas que se relacionam com esse momento do mundo, quando há tantas falácias do ponto de vista religioso, que conseguem justificar tudo, como existe um altruísmo ao contrário para justicar coisas que são injustificáveis", conclui.
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