Topo

Europeus chegam a acordo para descarbonizar aviação; Airbus diz que desafio é possível

26/04/2023 12h32

O Parlamento Europeu e os 27 líderes da União Europeia chegaram a um acordo nesta quarta-feira (26) para reduzir as emissões do transporte aéreo, impondo um nível mínimo de combustíveis "verdes" nas aeronaves que partem do continente. A aviação comercial é responsável por cerca de 4% das emissões de gases de efeito estufa na Europa.

O texto regulatório, que parte do ambicioso plano climático da UE, estipula que os combustíveis disponíveis nos aeroportos do bloco devem conter pelo menos 2% de "combustíveis de aviação sustentáveis" (SAF) até 2025, depois 6% até 2030, com um aumento gradual para 70% até 2050. Os "combustíveis sustentáveis" incluem produtos sintéticos (fabricados com hidrogênio e CO2), hidrogênio renovável, combustíveis para aviação à base de gases residuais e plásticos residuais, ou biocombustíveis feitos com resíduos agrícolas, algas, biomassa ou óleo de cozinha usado.

A meta para 2050 fica aquém do que os eurodeputados estavam pedindo (85%), mas excede a proposta inicial da Comissão Europeia (63%), que foi aceita pelos Estados-membros. A nova lei deve reduzir as emissões de CO2 da aviação europeia em cerca de dois terços até 2050, em comparação com o cenário atual, que não leva em conta metas de descarbonização, segundo estimativas da Comissão Europeia.

O acordo oferece segurança imediata para empresas e produtores de "combustíveis sustentáveis" e evita a "fragmentação" do mercado europeu, de acordo com a federação Airlines para a Europa (A4E), que acredita que os 27 países do bloco devem fortalecer a produção de SAF e garantir seu abastecimento.

O compromisso fechado prevê uma parcela mínima de 1,2% de combustíveis sintéticos no querosene fornecido pelos aeroportos europeus em 2030-2031, um porcentual bem acima do que a Comissão e os Estados-membros haviam proposto (0,7%). Essa participação aumentará para 2% em 2032-2034, depois para 5% em 2035, antes de atingir 35% em 2050.

Os combustíveis sintéticos são os únicos "cujo uso pode ser ampliado de forma sustentável", de acordo com Matteo Mirolo, da ONG Transporte e Meio Ambiente (T&E). O acordo deve impulsionar sua produção, "dando às empresas a certeza de que esse 'e-querosene' se tornará mais barato e amplamente disponível".

Os "combustíveis sintéticos de baixo carbono" estão incluídos, ou seja, fabricados com eletricidade proveniente de fontes de energia renováveis, bem como de energia nuclear (ou seja, descarbonizados), uma disposição apoiada pela França em vários textos climáticos europeus.

Descarbonizar a aviação não é impossível, diz Airbus

Em entrevista à rádio pública France Inter, o presidente da Airbus, Guillaume Faury, maior produtor mundial de aviões à frente da Boeing, disse que a empresa recruta atualmente 3.500 profissionais para trabalhar com inovação. 

"Cada vez mais os jovens entendem que a aviação é o meio de transporte do futuro", disse Faury. "Temos que descarbonizá-lo, é o que chamamos de nossa quarta revolução. É um trabalho muito grande, mas não é impossível: temos um roteiro para fazer isso. É um setor do futuro, o mais promissor da França atualmente", afirmou Faury. Líder mundial no setor da aviação, a Airbus registrou um lucro recorde de € 4 bilhões em 2022.

O acordo costurado em Bruxelas também prevê que a maior parte do fornecimento de querosene para voos que partem da UE deve ser proveniente de aeroportos europeus, a fim de limitar as emissões pelo transporte de carga do combustível e evitar que as companhias aéreas contornem as regras adquirindo combustível fabricado fora do bloco.

O texto exclui os biocombustíveis produzidos a partir de culturas alimentares ou subprodutos do óleo de palma, mas não do óleo de cozinha. Este ponto preocupa a ONG T&E, já que em virtude da falta de óleo de cozinha na Europa, "pode haver escassez do produto para outros setores industriais, que poderiam escolher alternativas menos ecológicas", disse a T&E.

Por fim, o acordo abre caminho para a inclusão futura de emissões de outros gases poluentes além do CO2 (enxofre, etc.), que representam dois terços do impacto da aviação na mudança climática.

Para aqueles que não acreditam na descarbonização do transporte aéreo, por julgar que o avião nasceu utilizando petróleo e morrerá com o petróleo, Faury responde que existem soluções para reduzir as emissões dos aviões e essa empreitada será "um sucesso no futuro". 

Outra legislação do plano climático europeu, finalmente adotada na terça-feira, fará com que as companhias aéreas paguem pelas emissões de CO2 de seus voos domésticos no bloco, com o desaparecimento gradual das permissões gratuitas das quais elas se beneficiaram até agora, mas com um mecanismo de incentivo no caso do uso de combustíveis sustentáveis.

(Com informações da AFP)