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Brasileira lança na França livro pioneiro sobre plantas medicinais da Amazônia

27/04/2023 11h48

Rafaela Tillier é enfermeira e naturopata, radicada na França há mais de 10 anos. Ela acaba de lançar em francês o livro "Remèdes et rituels de la forêt amazonienne" (Remédios e Rituais da Floresta Amazônica), pela editora Le Courrier du Livre.

Como o nome indica, o livro fala das virtudes terapêuticas e do poder de cura de plantas da floresta amazônica, muitas delas em moda na Europa. A obra tem três partes. Na primeira, a autora dá um panorama histórico, geográfico e cultural da Amazônia e lembra que a cura pelas plantas é praticada pelos povos indígenas desde que o mundo é mundo. Um saber "empírico", "uma tradição" que chegou até os dias de hoje e que "os estudos científicos vieram confirmar", ressalta a naturopata.

A Amazônia teria mais de 10 mil plantas medicinais e apenas cerca de 450 delas tiveram seus benefícios terapêuticos confirmados pela ciência. Na segunda parte do livro, Rafaela Tillier enfoca, contando a história e dando indicações, apenas 20 plantas medicinais da Amazônia, mas que são encontradas no comércio francês. "Claro que eu poderia ter escolhido muitas outras plantas, mas escolhi as plantas que podíamos achar na França, para o leitor francófono se identificar (...), para que eles possam compreender a importância que essas plantas têm para os povos originários do Brasil", explica a autora.

 

 

Rafaela Tillier indica que o mercado editorial nessa área de naturopatia e fitoterapia é dinâmico na França e tem muitos livros sobre medicina chinesa e indiana, mas afirma que até agora não "tinha nenhum livro" sobre a medicina da floresta amazônica. "Eu fico muito feliz de ter sido a pioneira", festeja. Ela espera que além de transmitir essa riqueza das plantas medicinais da Amazônia, o livro também ajude os leitores a aumentar a consciência sobre a importância de preservação da floresta brasileira e dos povos indígenas, tão ameaçados ultimamente.

Força da fé

A terceira e última parte de "Remèdes et rituels de la forêt amazonienne" é sobre o poder sagrado no processo de cura das plantas amazônicas. "A planta é um ser. As plantas têm uma participação fundamental nos rituais de cura, não é só do corpo, mas da alma também", diz a especialista. 

O livro fala também do processo de adaptação de Rafaela Tillier à França e de sua reconversão profissional. Ela se formou em enfermagem no Brasil, mas foi em Paris que virou naturopata e recuperou essa herança, essa tradição brasileira. "A naturopatia me reconectou com a minha avó, que era aquela senhorinha que fazia um chazinho, que tinha uma receitinha para tudo". A obra é dedicada à avó e a todas as mulheres de sua família porque a autora pensa que "mexer com plantas, a fitoterapia é e sempre foi, a princípio, algo muito feminino".  

Medicina integrativa

A naturopatia é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como medicina tradicional e tem crescido bastante. No entanto, a prática ainda suscita questões. Na França, um processo contra um naturopata condenado em primeira instância a dois anos de prisão pela morte de dois pacientes que deixaram de tomar remédio contra o câncer, levantou recentemente muitas dúvidas no país. 

Pensando nesse tipo de debate, logo no início do livro, Rafaela Tillier faz uma ressalva e uma recomendação aos leitores lembrando que "o método medicinal proposto não deve ser seguido pelos leitores sem a opinião de um médico".

"Eu sou naturopata, mas eu sou enfermeira também. Fitoterapia e alopatia podem andar juntas. É a medicina integrativa que está sendo tão difundida no Brasil, mas aqui na França ainda tem essa dificuldade, porque a gente tem essa separação", explica. Ela sabe que deve tomar cuidado ao falar do poder de cura das plantas, mas conclui lembrando que os "cientistas estudaram a fundo essas plantas, essas moléculas, e comprovaram, sim, que elas têm propriedades benéficas para a nossa saúde".