Após 20 anos no poder, Erdogan é reeleito na Turquia com 52% dos votos
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan (AKP) venceu hoje o segundo turno da eleição presidencial, com 52,14% dos votos, depois da apuração de 100% das urnas, segundo informou a autoridade eleitoral do país.
Com mais de 27 milhões de votos, Erdogan foi reeleito para um novo mandato na Turquia, após 20 anos no poder, derrotando seu opositor, Kemal Kiliçdaroglu (CHP), que obteve 47,86% dos votos.
Erdogan reivindicou sua vitória ao se dirigir a uma multidão de apoiadores neste domingo (28) em Istambul, quando a apuração contava ainda cerca de 98% das urnas apuradas e 52% de votos.
"Nossa nação nos confiou a responsabilidade de governar o país pelos próximos cinco anos", declarou em cima de um ônibus estacionado em frente à sua residência em Istambul, para onde convergiu uma multidão de apoiadores, que também invadiram a região central de Taksim.
Os eleitores do partido governista AKP aplaudiram e vibraram com os últimos resultados exibidos no enorme telão instalado em frente à sede do partido, em Istambul. "Essa é uma vitória histórica", disse um deles à RFI. "Imagine só, ele está no poder há 20 anos e vai continuar governando o país", comemorou.
Nas ruas de Istambul, no entanto, a vitória do partido governista já estava sendo comemorada com buzinaço. No bairro de Cihangir, jovens em motocicletas passam buzinando, com a bandeira turca hasteada na parte de trás. As mesmas cenas se repetiram na região central de Taksim.
A agência Anka, ligada à oposição, havia dado anteriormente uma ligeira vantagem ao candidato da oposição, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu, mas Erdogan virou o jogo nestes resultados preliminares com 50,67%, após 88% das cédulas terem sido contabilizadas.
"Reis"
Aos 69 anos, o polêmico "Reis" ("Chefe"), apelido dado a ele por seus apoiadores mais fervorosos, parecia ameaçado pela crise econômica, pelo desgaste do poder, pelas consequências do terremoto devastador de 6 de fevereiro e por uma oposição unida como nunca antes na história da Turquia.
Mas, ao final de uma campanha amarga, o homem cujo rosto é onipresente nas telas de televisão conquistou a vitória após seu duelo mais acirrado —em dois turnos, pela primeira vez— contra Kiliçdaroglu.
Deriva autoritária
Nem mesmo a deriva autocrática chegou a ameaçar a onipresença de Erdogan no poder na Turquia.
Nem sua curta estadia na prisão no final dos anos 1990, nem uma onda de manifestações monstruosas lançadas há apenas dez anos, nem mesmo uma sangrenta tentativa de golpe de Estado em 2016 (250 mortos oficiais) interromperam o progresso do presidente turco, campeão da maioria conservadora e de uma coligação ultradireitista e fundamentalista religiosa, há muito desprezada por uma elite urbana e laica.
Atacado durante a campanha por causa da inflação que assola as famílias, ele retaliou brandindo drones fabricados na Turquia que se tornaram o orgulho nacional devido à guerra na Ucrânia, bem como as mesquitas, rodovias e aeroportos construídos desde que chegou ao poder em 2003, inicialmente como primeiro-ministro.
Clientelismo e "rachadinhas"
Apesar das profundas dificuldades dos últimos anos, seus apoiadores ainda o veem como o homem por trás do "milagre econômico" que levou a Turquia ao clube dos 20 países mais ricos. Aos olhos deles, Erdogan também é o único capaz de enfrentar as grandes potências e enfrentar as crises regionais e internacionais.
O homem que construiu para si um palácio de 1.100 quartos em uma colina arborizada protegida da capital Ancara continua a se apresentar como um homem do povo contra as "elites". "Aprendi sobre a vida em Kasimpasa, não em uma torre de marfim", disse ele novamente na quinta-feira (25), referindo-se ao bairro da classe trabalhadora de Istambul onde cresceu.
Brigão assumido, o "Reis" turco adotou uma política externa assertiva em relação ao leste e à Ásia Central, mesmo que isso significasse se desentender com o Ocidente. Mas a guerra na Ucrânia o colocou novamente no centro do jogo diplomático graças aos seus esforços de mediação entre Kiev e Moscou.
Seus críticos, no entanto, continuam preocupados com sua tendência autocrática, especialmente desde os expurgos em massa realizados após a tentativa de golpe e a revisão constitucional de 2017, que ampliou consideravelmente seus poderes.
Muitas fontes não oficiais denunciam o amplo clientelismo e a corrupção de Erdogan, que beneficiaria sua rede de apoiadores com "rachadinhas" em contratos estatais e uma série de outras contravenções e subvenções.
Quais seriam as prioridades a partir de agora
Luta contra inflação galopante. Mais do que uma prioridade, será uma emergência para aliviar a população turca: a inflação oficial permaneceu em mais de 40% ao ano em abril, depois de ultrapassar 85% no fim do ano passado, resultado de uma queda constante nas taxas de juros buscada por Erdogan. De acordo com os números oficiais, Ancara gastou US$ 25 bilhões em um mês para apoiar a moeda turca. Mas seu colapso parece inevitável. Especialmente porque as reservas de moeda estrangeira caíram no vermelho pela primeira vez desde 2002.
Reconstrução depois da tragédia. O terremoto de magnitude 7,8, ocorrido em 6 de fevereiro, devastou áreas inteiras do sudeste da Turquia, matando pelo menos 50 mil pessoas e deslocando mais de 3 milhões. Erdogan prometeu reconstruir 650 mil casas nas províncias afetadas o mais rápido possível. De acordo com a ONU, o custo total do desastre é de mais de US$ 100 bilhões.
"Reconciliação" com a Síria: Erdogan tentou nos últimos meses estreitar os laços com seu vizinho, o presidente sírio Bashar al-Assad, mas, apesar da mediação russa, suas tentativas não deram em nada. Os cerca de 3,3 milhões de imigrantes sírios temem retaliações de Assad, caso devam voltar para seu país de origem e denunciam "acordos de bastidores" com o ditador sírio.
Entrada da Suécia na Otan. Os aliados da Turquia na Otan esperam que Ancara levante seu veto à entrada da Suécia na aliança, bloqueada desde maio de 2022. Embora Estocolmo tenha feito vários gestos de boa vontade, incluindo a adoção de uma nova lei antiterrorismo no início de maio, a Turquia —assim como a Hungria— permaneceu inflexível, continuando a exigir a extradição de dezenas de oponentes apresentados como "terroristas" curdos ou membros do movimento do pregador turco exilado Fethullah Gülen, a quem Ancara acusa de estar por trás da tentativa de golpe de Estado, em julho de 2016.
*Com informações da AFP
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