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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Eleições na Turquia têm impacto geopolítico e afetam a estabilidade global

Apoiadora do presidente turco Tayyip Erdogan balança bandeira na sede do partido do presidente (AKP) em Ancara - Reuters
Apoiadora do presidente turco Tayyip Erdogan balança bandeira na sede do partido do presidente (AKP) em Ancara Imagem: Reuters

Colunista do UOL

28/05/2023 08h55

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As eleições da Turquia, disputadas em segundo turno hoje entre Erdogan e Kiliçdaroğlu, nos reservam consequências que vão muito além da realidade política desse país.

O pleito turco expõe duas dimensões importantes para o mundo contemporâneo como um todo: 1) dá a temperatura sobre a força que ainda possuem governos com viés centralizador e autoritário, no contexto de uma complexa rede de apoios que reforçam o peso conservador e de grupos religiosos na política; e 2) nos informa sobre como devem se articular internacionalmente as alianças que dependem desse resultado para se manterem em vantagem no jogo de disputa por poder global.

A Turquia desempenha uma função singular no tabuleiro geopolítico mundial. Não apenas serve, em alguns momentos, como plataforma para projeção de capacidades do Ocidente, delimitando a zona de influência norte-americana, como também, em outras circunstâncias, exerce o papel de anteparo para ameaças e impasses no Oriente Médio.

No contexto da complexa Guerra da Ucrânia, o país é membro da OTAN e mantém relações estreitas com os Estados Unidos e a União Europeia, ao mesmo tempo em que cultiva laços importantes com a Rússia e o Irã.

A Turquia está em posição delicada em relação à guerra do leste europeu. O país tenta manter a difícil tarefa de não hostilizar a Rússia, enquanto apoia a Ucrânia. O presidente Erdogan chegou a classificar como "inaceitável" a invasão das forças russas, mas tem sido muito reticente sobre tomar decisões que incomodem o Kremlin.

Nessa matéria, não é exagero dizer que a Turquia de Erdogan opera em uma lógica repleta de ambiguidades. Ele encontrou-se com o presidente Vladimir Putin em Moscou logo após a invasão, e chegou a criticar a União Europeia pelas sanções impostas contra a Rússia. A Turquia não compartilha da posição quanto aos bloqueios econômicos e destoou do bloco ocidental, por um bom tempo, sobre o fechamento do espaço aéreo para aeronaves russas, como já defendiam os demais membros da OTAN anteriormente.

Ao mesmo tempo, porém, autoridades turcas sempre reforçaram que veem o conflito como "um duro golpe à paz e à estabilidade regional" e foram, pouco a pouco, flexibilizando a adesão às pressões ocidentais. A Turquia aceitou limitar a circulação de embarcações militares russas no estratégico estreito de Bósforo, que liga o Mediterrâneo ao Mar Negro, além de sempre ter mantido aberto o diálogo com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Rússia e Turquia têm em comum diversos interesses comerciais e compartilham uma série de ressalvas quanto às lideranças ocidentais. Ainda assim, a relação é repleta de nuances, com os países se antagonizando no contexto de outras crises, como as que envolveram, nos últimos anos, Azerbaijão, Líbia e Síria, por exemplo. Com a Ucrânia, os turcos mantêm importantes relações no campo militar e um histórico de apoios mútuos, como é o caso do conflito Nagorno-Karabakh, envolvendo a Armênia.

Como se pode ver, há muito em jogo nas eleições desse domingo. O que acontece na Turquia, aparentemente, importa para todos nós.