Senegal: violência cresce e ao menos 15 já morreram após condenação à prisão de líder opositor
O Senegal continua sob tensão neste sábado (3) após os confrontos que deixaram seis mortos na véspera, elevando para 15 o número de mortes desde quinta-feira (1º). O estopim dos distúrbios foi a sentença de dois anos de prisão para o líder opositor Ousmane Sonko.
Os confrontos opuseram na noite de sexta-feira pequenos grupos de jovens manifestantes e a polícia em Dacar, nos subúrbios da capital e no sul do país. Das seis mortes registradas, quatro ocorreram na região de Dacar e duas na de Ziguinchor, disse à AFP o porta-voz do ministro do Interior.
Prédios públicos e privados foram saqueados, incluindo bancos e lojas nos subúrbios da capital. Pneus queimados e pedras bloquearam várias ruas na manhã deste sábado.
A maioria das principais redes sociais, como Facebook, WhatsApp ou Twitter, estão cortadas no país. Segundo o governo, a medida visa bloquear "a divulgação de mensagens de ódio e subversivas".
A organização Anistia Internacional condenou a decisão, e também está "muito preocupada" com o uso desproporcional da força pela polícia. O Exército e a polícia se posicionaram, como no dia anterior, em torno de pontos estratégicos da cidade.
"As armas de fogo só devem ser usadas para proteger a própria vida e a vida de outras pessoas. Mas não temos visto isso nos vídeos que têm circulado nas redes sociais e na televisão", afirmou o diretor-executivo da delegação senegalesa da entidade, Seydi Gassama, à RFI. "É certo que os protestos foram violentos, mas o uso da força ultrapassou todos os limites. Até agora, todas as autópsias realizadas desmentiram as declarações do ministro do Interior, confirmando que essas pessoas foram mortas por munição real. Esta é obviamente uma situação muito preocupante que pode continuar se as autoridades não demonstrarem calma", acrescentou.
Opositor denuncia conspiração
As tensões começaram depois da detenção do opositor Ousmane Sonko, que se declarou candidato às eleições presidenciais de 2024 e foi condenado, na quinta-feira, a dois anos de prisão por ter "empurrado para a devassidão" uma jovem com menos de 21 anos. A sentença o torna inelegível.
Sonko tem denunciado uma conspiração do presidente Macky Sall para eliminá-lo politicamente. Ele diz que está "sequestrado" em sua residência em Dacar por forças de segurança, que impedem a aproximação de qualquer pessoa.
Sonko agora pode ser preso "a qualquer momento", disse o ministro da Justiça, Ismaïla Madior Fall. O seu partido, o Pastef, pediu para a militância "ampliar e intensificar a resistência (...) até a saída do presidente Macky Sall", acusado de "excessos sangrentos e ditatoriais", conforme um comunicado à imprensa publicado pelo Pastef.
Para o porta-voz do governo, os acontecimentos desde quinta-feira não são "uma manifestação popular com reivindicações políticas", mas sim "atos de vandalismo e banditismo".
"Estamos enfrentando bandidos recrutados para manter uma tensão artificial. Eles continuarão realizando seu trabalho, mas o tempo está do lado da recuperação total e da manutenção da ordem pública", disse ele ao jornal L' Observer.
População teme escalada
"Tenho muito medo porque não sabemos como tudo vai acabar. Mas era muito previsível, e talvez tivéssemos que passar por isso para as coisas andarem, para os políticos pararem de tirar sarro do povo", disse à AFP Fatou Ba, um comerciante de 46 anos do bairro operário de Dalifort, em Dacar. "Se eles querem paz (as autoridades), não vão incomodar Sonko", espera.
Matar Thione, um motociclista de 32 anos, acrescenta que "ninguém está seguro neste país agora". "Se os protestos continuarem, a vida será ainda mais difícil", afirmou.
As ruas de Dacar, geralmente lotadas, estão vazias em pleno sábado e muitos comércios estão fechados.
Na sexta-feira, a comunidade internacional, representantes de associações e craques do futebol, como o jogador Sadio Mané, do Bayern de Munique e da seleção nacional, pediram moderação e o fim da violência.
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