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No Dia Mundial do Meio Ambiente, negociações para COP28 começam em Bonn com controverso Sultan al-Jaber

05/06/2023 07h32

A partir deste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, representantes de quase 200 países se reúnem em Bonn, na Alemanha, para preparar a próxima Conferência do Clima da ONU, que será realizada em dezembro nos Emirados Árabes Unidos. Durante 10 dias, as atenções estarão voltadas para o controverso presidente da COP28, o emiradense Sultan al-Jaber, que deverá responder às preocupações de ambientalistas sobre o futuro das energias fósseis. 

Organizada a cada ano para preparar a próxima COP, o evento Bonn coincide neste ano com o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi estabelecida em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia. O tema deste ano é o combate à poluição plástica.

A questão deve ser abordada na conferência na Alemanha, que deve permitir avanços técnicos em assuntos como o financiamento de um mecanismo de compensação por perdas e danos ou sobre os US$ 100 bilhões anuais prometidos aos países pobres para se adaptarem às mudanças climáticas e efetuar a transição energética. Observadores também esperam obter mais informações para a elaboração de um primeiro balanço  mundial quantificando os esforços de diferentes países para o cumprimento do Acordo de Paris sobre o Clima. 

O combate às energias fósseis deve dominar os debates. Os países do G7 se engajaram recentemente a acelerar sua transição energética, mas sem determinar um prazo. 

Os apelos da Agência Internacional de Energia (AIE) para acelerar os investimentos nas energias renováveis também devem ganhar destaque em Bonn. Em 2023, US$ 1,7 bilhão devem ser investidos em tecnologias sem carbono, prevê a AIE. No entanto, US$ 1 bilhão ainda devem ir para o petróleo, o gás e o carvão.

Presidente da COP28 é executivo do petróleo

Antes do início desta sessão de negociações, os pedidos de renúncia de Saltan al-Jaber - um executivo do petróleo - da presidência da COP28 se multiplicaram, incluindo uma centena de políticos americanos e europeus signatários de uma carta enviada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. 

"Pedimos que vocês pressionem os Emirados Árabes Unidos para que cancelem a nomeação do Sultan al-Jaber", diz a mensagem, que ressalta uma "profunda preocupação" com o CEO da gigante petrolífera Adnoc, que também é ministro da Indústria e Tecnologia dos Emirados Árabes Unidos. A carta pede limites à "influência das indústrias poluentes" em reuniões climáticas, em crítica ao espaço concedido a lobistas do setor.

"Não podemos deixar interesses particulares criarem mais obstáculos na corrida contra as mudanças climáticas", afirmou no Twitter Sheldon Whitehouse, um dos senadores americanos mais engajados em causas ambientais. 

As decisões tomadas durante as COPs são de responsabilidade dos países, mas a presidência do evento tem um papel fundamental de coordenação e gestão das negociações. Em abril, Al-Jaber rebateu as críticas, lembrando que ele também é o fundador da Masdar, uma empresa especializada em energias renováveis. No entanto, recentemente, o executivo ressaltou a importância das energias fósseis para a economia mundial, defendendo a "eliminação" de suas emissões, em vez de uma saída progressiva do petróleo e do gás, como desejam muitos negociadores. 

"Essa presidência deve mostrar rapidamente qual é sua ambição: acelerar as renováveis faz parte, mas isso não será suficiente para essa COP", afirma Laurence Tubiana, arquiteta do Acordo de Paris de 2015 e presidente da Fundação Europeia do Clima. "É mais urgente do que nunca reconhecer que a era das energias fósseis termina", reiterou. 

Representação das mulheres

Cerca de 20 mulheres - políticas e militantes do clima - publicam nesta segunda-feira uma carta aberta para pedir a nomeação de uma copresidente da COP28, para liderar o evento ao lado de Al-Jaber. Segundo elas, essa é uma maneira de resolver dois problemas ao mesmo tempo, ao equilibrar o poder com o contestado emiradense e garantir uma melhor presença das mulheres nos diálogos. 

"Pedimos aos Emirados Árabes Unidos que optem por um modelo pioneiro de copresidência, com um homem e uma mulher na chefia da COP28, e de assinar um acordo que determina a autonomia das mulheres nas negociações", explica a ambientalista francesa Elise Buckle, líder da iniciativa.

Entre os nomes evocados para ocupar a copresidência, estão a da ministra emiradense das Mudanças Climáticas e do Meio Ambiente, Mariam bint Mohammed Almheiri. Desde a primeira COP, em 1995, apenas cinco mulheres foram nomeadas para comandar o evento. 

"As mulheres são as primeiras vítimas da desregulação climática", afirma Buckle, referindo-se a um estudo da ONU, publicado em 2022, que monstrou que as mulheres sofrem 14 vezes mais o risco de morrer em catástrofes climáticas. "Ainda assim, elas estão completamente ausentes da mesa de negociações. Hoje, as energias fósseis têm mais espaço que elas", ressalta.

"Se quisermos lutar juntos contra as mudanças climáticas e não transformar as negociações sobre o clima em uma convenção sobre os combustíveis fósseis, comecemos por dar prioridade às pessoas mais atingidas, e não àquelas que aproveitam de um status quo e de uma falta de coragem sobre as energias fósseis", conclui Buckle. 

(RFI com agências)