Nobel da Paz: Narges Mohammadi denuncia o "regime religioso tirânico e misógino" no Irã

Laureada com o Prêmio Nobel da Paz de 2023, a jornalista e ativista dos direitos humanos Narges Mohammadi, não pôde ir a Oslo no domingo (10) para receber a distinção mais importante da sua vida porque está presa desde 2021. Seus filhos, os gêmeos Kiana e Ali Rahmani, de 17 anos, exilados desde 2015 na França, receberam o prêmio no lugar da mãe. E foram novamente eles que leram, em francês, o discurso que Narges Mohammadi conseguiu transmitir de sua cela.

"Sou uma mulher iraniana, orgulhosa e honrada por contribuir para uma civilização que hoje é vítima da opressão de um regime religioso, tirânico e misógino." As palavras de Narges Mohammadi são precisas. Formam o depoimento de uma mulher que passou mais tempo na prisão do que em liberdade, mas que, no entanto, não permanece calada. A vencedora do Prémio Nobel da Paz denuncia o "hijab (véu islâmico) obrigatório" que, segundo ela, "não é uma obrigação religiosa nem um modelo cultural".

"A abolição do hijab obrigatório equivale a remover todas as raízes da tirania religiosa e a quebrar as cadeias da opressão autoritária. A realidade é que o regime da República Islâmica está no seu nível mais baixo de legitimidade e apoio popular. Os jovens iranianos transformaram hoje as ruas e os espaços públicos num local de resistência civil generalizada. E a luta não enfraquece! O povo iraniano, com perseverança, superará a repressão e o autoritarismo! Não duvide. Isso é certo! Estou convencida de que o canto de vitória do povo nas ruas do Irã ressoará em todo o mundo", disse Ali, filho de Narges Mohammadi, lendo o discurso que a mãe conseguiu transmitir pelo celular.

Uma poltrona vazia

Para apoiar os iranianos no seu caminho para a democracia, "as políticas e estratégias dos governos ocidentais têm sido demasiado superficiais", afirma Nagers Mohammadi. Ela apela à sociedade civil internacional que apoie o Irã.

"O povo iraniano procurou alcançar a democracia, a liberdade e a igualdade. Ele sempre enfatizou a não violência e a resistência civil na execução das suas reivindicações", disse.

Na sua ausência, uma poltrona permaneceu simbolicamente vazia, com o retrato de Narges logo acima. Presa e condenada diversas vezes nas últimas décadas, a ativista de 51 anos é um dos principais rostos da revolta "Mulher, Vida, Liberdade" no Irã. O movimento, que viu mulheres retirarem o véu, cortarem o cabelo e se manifestarem nas ruas, foi desencadeado pela morte, no ano passado, de uma curda iraniana de 22 anos, Mahsa Amini, após a sua detenção em Teerã pelo não cumprimento das normas do rigoroso código de vestimenta islâmico.

Greve de fome

Narges Mohammadi vai fazer greve de fome "em solidariedade à minoria religiosa bahai", informaram o seu irmão e o seu marido durante uma conferência de imprensa na capital norueguesa no sábado, véspera da cerimônia do Nobel.

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"Ela não está aqui connosco hoje, está na prisão e fará greve de fome em solidariedade a uma minoria religiosa", disse o irmão mais novo, Hamidreza Mohammadi, numa breve declaração.

Maior minoria religiosa no Irã, a comunidade bahai, é alvo de discriminação em muitos setores da sociedade. Com o Nobel, a ativista espera atrair atenção para a causa.

(Com informações da AFP)

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