Com oposição da Hungria, líderes da UE se reúnem para tentar desbloquear € 50 bilhões à Ucrânia

Líderes da União Europeia se reúnem em caráter extraordinário nesta quinta-feira (1º) em Bruxelas para aprovar um fundo especial para a Ucrânia, no valor de € 50 bilhões. O problema é que a Hungria continua ameaçando bloquear esta ajuda financeira à Kiev e a medida requer unanimidade do bloco.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

A feroz oposição do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán em relação à Kiev parece não dar trégua. Além de ter tentado impedir as negociações para a adesão da Ucrânia ao bloco europeu, Orbán continua ameaçando bloquear qualquer assistência financeira e militar ao país. O líder húngaro se encontrou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e a premiê italiana, Giorgia Meloni, nesta quarta-feira (31) à noite. 

O chanceler alemão Olaf Scholz insistiu nesta quinta-feira (1) sobre a necessidade de se chegar a um acordo entre os 27 membros para liberar a ajuda aos ucranianos. "Não devemos outras buscar soluções para contornar essa", declarou nesta manhã, antes da reunião. O primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, disse que está otimista."Confio em nossa capacidade para se chegar a um compromisso entre 27 países", declarou.

A ausência de um compromisso com a Hungria sobre o pacote de ajuda financeira de € 50 bilhões que seria enviado à Ucrânia em quatro anos tem gerado um clima de frustação em Bruxelas. Nas últimas semanas, Viktor Orbán, que é o aliado mais importante de Putin dentro do bloco europeu, tem enfrentado pressões crescentes de frentes diferentes.

Mesmo assim, o veto húngaro não está descartado e a Hungria pode voltar a bloquear a medida, como fez na última Cúpula europeia, em dezembro passado. Segundo especialistas, se o Ocidente cortar a ajuda à Ucrânia, a Rússia vencerá a guerra.

Em Bruxelas, alternativas estão sendo avaliadas. A União Europeia irá sabotar a economia húngara se Budapeste bloquear a nova ajuda à Ucrânia, informou o jornal britânico Financial Times. Bruxelas delineou uma estratégia para visar as fraquezas econômicas da Hungria e provocar um colapso na confiança dos investidores, prejudicando assim o crescimento do país, diz um documento elaborado por funcionários da UE.

Apoio militar à Ucrânia

Como a futura ajuda militar dos EUA à Ucrânia ainda é incerta por causa da oposição dos republicanos no Congresso americano, o apoio da União Europeia se torna crucial. Embora Bruxelas deva se comprometer com o apoio militar contínuo à Kiev, permanecem obstáculos sobre como será feito o financiamento.

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Nesta quinta-feira, os dirigentes europeus devem reiterar a necessidade urgente de acelerar a entrega de munições e mísseis. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que vai participar da reunião por videoconferência, também reforçará o pedido por mais armamentos. Esta semana, cinco líderes europeus ressaltaram que a Europa precisa de um esforço coletivo para armar a Ucrânia a longo prazo e exigiram que a União Europeia seja mais realista nesta questão.

"Faltamos com o compromisso de enviar um milhão de armas antes do mês de março, mas os nossos esforços não devem enfraquecer enquanto as tropas de Kiev continuarem a rechaçar as tropas russas", afirmaram em uma carta conjunta o chanceler alemão Olaf Scholz e quatro primeiros-ministros: Mette Frederiksen da Dinamarca, Petr Fiala da República Checa, Kaja Kallas da Estônia e Mark Rutte da Holanda. A Alemanha é o país europeu que mais contribuiu com os compromissos militares de Kiev; desde o início da guerra Berlim enviou € 17 bilhões.

O Reino Unido surge em segundo lugar com € 6,6 bilhões, seguido pela Polônia que contribuiu com € 3 bilhões. A França, que tem defendido a necessidade de reformar a defesa europeia para que a UE possa apoiar a Ucrânia mesmo sem os EUA, enviou até agora 500 milhões de euros em ajuda militar.

Discussão informal

O acordo de livre comércio UE-Mercosul não consta na agenda desta Cúpula extraordinária, prevista para discutir a revisão do orçamento do bloco europeu até 2027. Porém, nos últimos dias, no contexto dos protestos agrícolas na França o assunto voltou à tona e pode ser abordado informalmente na reunião.

Os agricultores temem o que chamam de "concorrência desleal" pois o acordo prevê a redução ou eliminação dos direitos aduaneiros, e com isso, muitos produtos sul-americanos chegariam no mercado europeu.

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Os agricultores europeus, principalmente os franceses, estão sujeitos a normas mais rigorosas do que os produtores e criadores sul-americanos, especialmente em termos de proteção ambiental. Paris tentou convencer Bruxelas a suspender as negociações com o Mercosul.

A Comissão Europeia, no entanto, contrariou as recentes declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, e afirmou que busca consenso na questão agrícola para concluir as negociações. Embora as críticas de Macron justifiquem o impacto negativo que um futuro acordo com o Mercosul teria nos agricultores franceses, a Alemanha, Espanha e a própria presidente do executivo europeu, Ursula von der Leyen, têm se manifestado a favor da conclusão das negociações com o bloco sul-americano. 

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