Agricultores poloneses despejam cereais da Ucrânia em estradas gerando nova crise entre Kiev e Varsóvia

O Ministério Público polonês anunciou na segunda-feira (12) que abriu uma investigação sobre um incidente na fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. Agricultores poloneses, que bloqueavam pontos de passagem, despejaram na estrada grãos da Ucrânia destinados à União Europeia.

"A investigação foi aberta. Estamos recolhendo informações, entrevistamos testemunhas e guardamos imagens que provavelmente constituirão elementos de prova essenciais", declarou à AFP a porta-voz do Ministério Público de Lublin, Agnieszka Kepka.

Uma nova crise eclodiu na segunda-feira entre Kiev e Varsóvia, após um incidente na fronteira comum, onde agricultores poloneses descontentes que bloqueavam os pontos de passagem despejaram cereais ucranianos na estrada destinada à União Europeia.

Esta ação provocou fortes reações na Ucrânia, país com grande tradição agrícola que enfrenta há dois anos a invasão russa e onde milhões de pessoas morreram entre 1932 e 1933, durante a Grande Fome (Holodomor) organizada pelo regime stalinista.

O Ministério da Política Agrária ucraniano declarou segunda-feira num comunicado de imprensa que "denuncia veementemente" a "destruição deliberada" de cereais que "não tem nada a ver com protestos pacíficos, seja do ponto de vista jurídico ou moral".

"Estamos acompanhando de perto a investigação deste incidente e esperamos que os autores sejam rapidamente identificados e punidos", acrescentou.

Agricultores poloneses pararam um caminhão que transportava cereais ucranianos no domingo (11) quando atravessava a fronteira e despejaram sua carga, em protesto contra o que consideram concorrência desleal por parte dos ucranianos.

Nas imagens, que foram compartilhadas nas redes sociais, pilhas de cereais, muitas vezes cobertas com uma bandeira da UE, são despejadas no meio de uma estrada. Manifestações foram organizadas em toda a Polônia para protestar contra a concorrência da Ucrânia e as pesadas regulamentações europeias.

A polícia polonesa disse que estava investigando o caso. As provas recolhidas "serão enviadas hoje ao gabinete do procurador distrital de Chelm para uma avaliação do direito penal relativamente aos procedimentos adicionais neste caso", disse à AFP a porta-voz da polícia local, Ewa, Czyz.

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A Polônia foi um dos principais apoiadores da Ucrânia desde a invasão russa, mas os atritos sobre a proibição unilateral de Varsóvia às importações de cereais prejudicaram as relações entre os aliados.

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União Europeia diz procurar soluções

Nos últimos dias, as autoridades de Varsóvia levantaram a possibilidade de impor novas proibições de importação de produtos agrícolas ucranianos para proteger seus agricultores.

A Polônia proibiu as importações de cereais ucranianos durante o anterior governo nacionalista do PiS, mas manteve a proibição depois de uma nova coligação pró-UE ter chegado ao poder em outubro de 2023.

A Comissão Europeia indicou segunda-feira que "continua" a procurar "soluções" que permitam preservar "o máximo apoio econômico para a Ucrânia", devastada por dois anos de guerra.

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"Acreditamos que o trabalho não deve ser feito na fronteira, não numa situação de pressão, mas sentando-se à mesa de negociações", disse o porta-voz da Comissão, Olof Gill.

"Os agricultores ucranianos trabalham sob constante bombardeio do inimigo e sofrem enormes perdas. Pagam caro pelas suas colheitas, às vezes com suas vidas", acrescentou o Ministério da Economia ucraniano.

O vice-ministro da Economia, Taras Katchka, "convidou" os produtores poloneses "a irem à Ucrânia ver as condições de trabalho" dos ucranianos. "A falta de reação das autoridades polonesas à destruição das entregas levará a mais xenofobia e violência política", acrescentou.

Se Varsóvia não reagir rapidamente, a "quadrilha" que organizou o bloqueio fronteiriço "começará a matar ucranianos porque são ucranianos", alertou Katchka.

Alguns participantes nestes protestos de agricultores pertencem à extrema direita polonesa e anteriormente participaram na organização do bloqueio fronteiriço por caminhoneiros poloneses, no final de 2023.

"É doloroso ver grãos ucranianos espalhados na estrada", escreveu a deputada Iryna Gerashchenko no Facebook. "O pão é sagrado para os ucranianos. A nossa memória genética guarda profundamente dentro de nós os horrores do Holodomor."

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Andriï Sadovy, prefeito de Lviv, uma grande cidade no oeste da Ucrânia perto da Polônia, julgou no Telegram "vergonhosas" as ações realizadas, segundo ele, "por provocadores (...) poloneses pró-Rússia".

(Com informações da AFP)

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