Pressão internacional por acordo entre Israel e Hamas aumenta após anúncio de ofensiva em Rafah

A pressão internacional se intensificou nesta terça-feira (13) para um acordo de trégua entre Israel e o movimento islâmico Hamas, incluindo uma nova libertação de reféns, após o anúncio israelense de uma próxima ofensiva em Rafah, o último refúgio para mais de um milhão de palestinos na Faixa de Gaza.

O diretor da CIA, a agência central de inteligência dos EUA, William Burns, é esperado no Cairo nesta terça-feira (13) para novas conversas mediadas pelo Catar, inclusive sobre a libertação de reféns israelenses mantidos na Faixa de Gaza, de acordo com fontes próximas ao assunto.

Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou que seu exército preparasse uma ofensiva em Rafah, onde estão 1,4 milhão de palestinos, segundo a ONU, ou seja, mais da metade da população total do território, sendo que a maioria deles fugiu da guerra que vem ocorrendo há quatro meses.

Na segunda-feira (12), ele reiterou sua determinação de continuar a "pressão militar até a vitória completa" sobre o Hamas, cujo "último reduto" é Rafah, a fim de libertar "todos os nossos reféns".

Poucas horas antes, Israel havia libertado dois reféns israelenses-argentinos em Rafah, na fronteira com o Egito, em uma operação noturna acompanhada de bombardeios que deixaram cerca de cem mortos, segundo as autoridades do movimento islâmico palestino, que está no poder em Gaza desde 2007.

Nesta terça-feira, o exército israelense anunciou a morte de três soldados nos combates na Faixa de Gaza, elevando para 232 o número de soldados israelenses mortos desde o início da operação terrestre, em 27 de outubro.

Situação humanitária "insuportável"   

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, se opõem a uma operação em grande escala sem solução para os civis presos na fronteira, atualmente fechada, com o Egito, no extremo sul do território. O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu às forças israelenses que apresentem um plano "confiável" para poupar os civis em Rafah, que estão "expostos e vulneráveis". O pedido foi feito durante uma reunião na Casa Branca na segunda-feira com o rei jordaniano Abdullah II.

"Nos últimos quatro meses, desde que a guerra começou, os palestinos sofrem também uma dor e perdas inimagináveis. Entre os mais de 27 mil palestinos mortos neste conflito, há muitos civis inocentes e crianças, milhares de crianças. Centenas de milhares de pessoas não têm mais acesso a alimentos, água e outros serviços básicos", declarou Biden.

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O presidente também se solidarizou com muitas famílias que perderam vários parentes. "Eles não podem nem mesmo chorar essas mortes ou enterrar seus familiares por falta de segurança. Isso nos parte o coração. Cada vida inocente perdida em Gaza é uma tragédia. Assim como cada vida inocente perdida em Israel também é uma tragédia. Oremos por todas essas vidas perdidas", disse o americano.

Biden também agradeceu à Jordânia por fornecer ajuda humanitária a Gaza. "Há alguns dias, Abdallah II embarcou pessoalmente em um avião e ajudou a transportar suprimentos médicos urgentes para Gaza", informou.

"Os Estados Unidos estão trabalhando em um acordo para libertar os reféns (...), o que traria imediatamente um período de calma de pelo menos seis semanas para Gaza", revelou o presidente Joe Biden, cujo governo rejeita uma trégua incondicional.

"Não podemos permitir um ataque israelense a Rafah", onde a situação humanitária já é "insuportável", disse Abdallah II, que também pediu "um cessar-fogo duradouro imediatamente" em Gaza.

A China, por sua vez, pediu a Israel na terça-feira que interrompa sua operação militar em Rafah "o mais rápido possível" para "evitar uma catástrofe humanitária ainda maior".

A guerra foi desencadeada em 7 de outubro por um ataque sem precedentes de comandos do Hamas infiltrados no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza, que resultou na morte de mais de 1.160 pessoas, a maioria delas civis, de acordo com uma contagem da agência AFP baseada em dados oficiais israelenses.

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Em retaliação, o governo israelense prometeu "destruir" o movimento islâmico, que considera uma organização "terrorista", assim como os Estados Unidos e a União Europeia.

A ofensiva israelense já deixou 28.340 mortes na Faixa de Gaza, a grande maioria delas de civis, de acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

A condição de saúde dos dois reféns libertados na segunda-feira, Fernando Marman, 60 anos, e Luis Har, 70 anos, é estável. No entanto, depois de 128 dias em cativeiro, eles mostram "sinais claros" de "falta de cuidados médicos", de acordo com uma porta-voz do hospital perto de Tel Aviv, onde foram internados e se encontraram com suas famílias.

De acordo com Israel, 130 reféns ainda estão em Gaza, 29 dos quais estão mortos, de um total de cerca de 250 pessoas sequestradas em 7 de outubro. Uma trégua de uma semana em novembro levou à libertação de 105 reféns em troca de 240 palestinos detidos em prisões israelenses. 

"Para a lua?"

Diante dos temores internacionais de uma grande ofensiva militar, Netanyahu disse no domingo que Israel abriria "uma passagem segura" para que a população deixasse Rafah, sem especificar para qual destino.

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"Eles vão evacuar (os palestinos): para onde, para a lua?", perguntou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, em Bruxelas.

Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, advertiu que a organização não participaria de "um deslocamento forçado da população" em Rafah.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, um dos líderes mais críticos de Israel desde o início de sua operação em Gaza, também era esperado em Dubai nesta terça-feira e no Cairo na quarta-feira. O Hamas advertiu no domingo que uma ofensiva em Rafah "torpedearia" qualquer acordo sobre os reféns.

De acordo com a ONU, cerca de 1,7 milhão de pessoas, de uma população total de 2,4 milhões, fugiram de suas casas desde 7 de outubro no território palestino sitiado por Israel e mergulhado em uma grande crise humanitária.

Rafah, que se tornou um gigantesco campo de palestinos deslocados, é o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária, que, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), é insuficiente para atender às necessidades de uma população que vive em "condições de quase fome".

(Com AFP)

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