Jornais analisam mudanças sociais e econômicas na Europa após dois anos de guerra na Ucrânia

Na semana em que a guerra russa na Ucrânia completará dois anos, jornais franceses fazem um balanço nesta quarta-feira (21) das mudanças sociais e dos impactos econômicos causados pelo conflito no continente europeu.

O diário econômico Les Echos afirma que o conflito levou a União Europeia (UE) a tomar medidas sem precedentes nas áreas de defesa e energia ao longo dos últimos 24 meses. "Bruxelas está agora se preparando para uma nova ampliação [do bloco], que só poderá ser bem-sucedida se for aprofundada", diz a reportagem. 

O jornal recorda que em 24 de fevereiro de 2022, quando os embaixadores da UE foram acordados no meio da noite, pois a invasão da Ucrânia havia acabado de começar, logo eles trataram de algumas questões muito concretas: sanções contra a Rússia, acolhimento dos ucranianos que decidiram fugir de seu país, ajuda financeira para Kiev e, claro, o impacto da agressão nos mercados financeiros e de energia, entre outros. 

O veículo aponta o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, como "uma voz dissonante na resposta da Europa à guerra" por sua proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin, demonstrada em uma cúpula na China em outubro passado. 

Les Echos também destaca a dinâmica da economia europeia, que viu um aumento das importações de cereais, açúcar e aves da Ucrânia, devido ao declínio de terras cultiváveis no país em guerra e ao bloqueio marítimo da Rússia no mar Negro, que "viraram a agricultura ucraniana de cabeça para baixo".  

Embora "o conflito tenha levado a uma queda geral nas exportações agrícolas [ucranianas] devido a perdas de produção e dificuldades de comércio via mar Negro, as exportações agrícolas da Ucrânia para a UE aumentaram 176% entre os primeiros 11 meses de 2021 e os primeiros 11 meses de 2023", confirma Sylvain Bersinger, economista-chefe da Asterès, agência de consultoria econômica. "Os volumes de açúcar aumentaram dez vezes, enquanto os volumes de cereais mais do que triplicaram", observou o especialista.

Se por um lado a Ucrânia pôde contar com o apoio dos governos europeus, por outro lado agricultores de vários países do bloco têm protestado contra a concorrência dos produtos ucranianos. 

Idioma ucraniano: ato de resistência 

No Le Monde desta quarta-feira, o foco é o idioma ucraniano. Segundo o jornal, a língua vem sendo usada como um ato de resistência da população maltratada pela guerra. Desde fevereiro de 2022, uma proporção cada vez maior de ucranianos tem optado por abandonar o idioma russo, associado ao "inimigo".  

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O jornal francês traz entrevistas com ucranianos que decidiram estudar o idioma com mais a afinco, a fim de abandonar definitivamente o uso da língua russa. A reportagem mostra que essa atitude busca reafirmar "a identidade ucraniana que o Kremlin está tentando exterminar". 

Em entrevista ao Le Monde, o Comissário para a Proteção da Língua Estatal, Taras Kremin, revela que "60% a 80% da população fala ucraniano na esfera pública atualmente, em comparação com menos de 50% antes da ofensiva".

A reportagem conta que a consolidação da nação ucraniana envolve o idioma e que apesar de o russo não ter sido banido, as aulas escolares agora são exclusivamente em ucraniano. Sites na internet, a maioria dos quais eram publicados em russo antes da invasão militar, agora passam a mudar gradativamente. 

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