A resposta europeia à crise dos agricultores está longe de apaziguar a fúria dos agricultores

Após semanas de manifestações em toda a Europa, os agricultores voltaram à Bruxelas nesta segunda-feira (26) para pressionar os ministros da Agricultura do bloco e reivindicar, entre outros pontos, uma concorrência justa em relação aos preços de seus produtos agrícolas. Sob pressão, os ministros exigem propostas mais ambiciosas da Comissão Europeia para o setor.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Depois de uma reunião sob alta tensão, os ministros da Agricultura da União Europeia reconheceram a necessidade de medidas urgentes e mais ambiciosas. Em uma tentativa para conter novos protestos, os ministros querem que Bruxelas aumente o financiamento da Política Agrícola Comum do bloco, que de acordo com os agricultores, compensa cada vez menos os seus déficits.

Segundo o jornal britânico Financial Times, "o debate sobre o aumento (da PAC) surge no meio de discussões acaloradas sobre as prioridades para o orçamento da União Europeia, com os governos relutantes a contribuir mais devido às finanças nacionais sobrecarregadas e à necessidade de gastar mais em defesa". O excesso de burocracia para obter os apoios financeiros da Comissão Europeia é outra queixa do setor agrícola.

Em Bruxelas, os ministros da Agricultura aprovaram a simplificação de alguns procedimentos administrativos, assim como a revisão dos critérios para o uso dos pesticidas e a alteração das regras relativas ao período pós-colheita.

Para os manifestantes, a resposta europeia é feita de promessas e se nada mudar, eles voltarão para novos protestos. Esta foi a segunda vez deste ano que os agricultores e quase 1 mil tratores bloquearam as ruas onde estão as instituições europeias para demonstrar suas inúmeras insatisfações. Houve confrontos com a polícia que usou jatos de água e gás lacrimogêneo. 

Importações ucranianas na berlinda

A Ucrânia antes da guerra era considerada o celeiro da Europa e um dos maiores exportadores de trigo do mundo. No entanto, desde o início da guerra, o país teve uma queda drástica de quase 30% em suas exportações, o que provocou preocupação em relação à segurança alimentar de milhões de pessoas no mundo.

Apenas 5% da produção do trigo ucraniano chegava à União Europeia; mas poucos meses após a invasão russa, Bruxelas retirou os direitos aduaneiros e quotas sobre as importações ucranianas para facilitar o trânsito dos produtos por rotas terrestres, já que o Mar Negro havia sido bloqueado pela Rússia.

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Em consequência, houve uma "invasão" de cereais ucranianos no bloco europeu, desencadeando assim protestos dos agricultores que reclamavam de concorrência desleal. A Polônia, Hungria e Eslováquia decidiram então proibir a importação de uma série de produtos ucranianos.

O frango, os ovos e o açúcar vindos da Ucrânia também têm prejudicado os produtores europeus. Nos últimos dias, agricultores poloneses começaram a bloquear alguns pontos de passagem na fronteira com a Ucrânia em protesto contra as importações do país.

Protestos no continente

Além de Bruxelas, os agricultores coltaram a se manifestar na França, na abertura do Salão de Agricultura, em Paris. Eles invadiram o local do evento e entraram em confronto com a polícia, pouco antes da visita do presidente francês Emmanuel Macron.

Nas últimas semanas, houve protestos agrícolas também na Alemanha, Itália, Romênia e Polônia. Em Madri, produtores rurais de toda a Espanha tocaram sinos e tambores, pedindo para a União Europeia flexibilizar a regulamentação e promover mudanças em sua Política Agrícola Comum.

A política ambiental do bloco europeu, as pressões sobre os preços e a concorrência nas importações preocupam o setor agrícola no continente, que também receia que o mercado europeu seja invadido pela carne bovina barata da América do Sul caso a União Europeia conclua o acordo de livre comércio com o Mercosul. Em Bruxelas, as organizações sindicais voltaram a pedir o fim definitivo das negociações comerciais entre os dois blocos.

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