Sul da Europa pode deixar de produzir vinhos de qualidade devido às mudanças climáticas, diz estudo

Com as mudanças climáticas, algumas regiões do mundo podem deixar de produzir vinho de maneira rentável, enquanto outras passariam a ter condições de desenvolver a atividade. Isso é o que mostra um estudo publicado pela revista científica Nature Reviews Earth and Environment, que alerta para a evolução das regiões vinícolas diante do aquecimento global.

 

A Dinamarca poderia destronar a França em termos de produção de vinho? O cenário não é tão improvável como parece, de acordo com uma pesquisa publicada na revista científica Nature Reviews Earth and Environment, que faz um mapeamento global da evolução das regiões vinícolas diante das mudanças climáticas, em que colaboraram investigadores de Bordeaux, na França. 

O estudo conclui que existe um risco "substancial" de perda de capacidade de produzir vinho de forma rentável para as atuais regiões produtoras. Dependendo do nível de aquecimento, 49 a 70% das regiões perderiam esta capacidade.

De acordo com a pesquisa, 90% das regiões vinícolas do sul da Europa e da Califórnia, nos Estados Unidos estão nessa situação.

O aumento das temperaturas terá impacto no sabor e na acidez das uvas e também no teor alcoólico. Se o aquecimento global continuar e ultrapassar os dois graus, de acordo com os pesquisadores haverá vencedores e perdedores. 

Os viticultores gregos, italianos e espanhóis vão sair perdendo, já que o vinho que produzem deve perder qualidade e seu rendimento deve se deteriorar.

Este impacto já pode inclusive ser observado. Atualmente, as colheitas são realizadas de duas a três semanas mais cedo do que há 40 anos. 

"Ainda podemos fazer vinho em quase qualquer lugar (fazemos em climas tropicais, no Taiti, na Índia, etc.), mas aqui procuramos vinhos de qualidade com rendimentos economicamente rentáveis", explica Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura da Bordeaux Science Agro, à AFP.

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Entre as regiões produtoras europeias, o sul da França deve ser relativamente poupado.

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Regiões do norte sairão ganhando

Por outro lado, 11 a 25% das regiões onde a viticultura já está estabelecida poderão ver a sua produção melhorar, e novas regiões poderão surgir em latitudes e altitudes mais elevadas. Por exemplo, no sul da Grã-Bretanha, onde a cultura é agora embrionária.

Outras regiões que poderão ver seu potencial se desenvolver, são o norte da França, a Bélgica, a Holanda ou mesmo a Dinamarca. Mas, segundo os investigadores, enquanto o aquecimento for mantido abaixo do limiar de dois graus, os viticultores ainda serão capazes de se adaptar.

Os pesquisadores recomendam, portanto, que os produtores se adaptem, variando especialmente as castas. 

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"Logicamente, as castas que são originárias da bacia do Mediterrâneo, como Mourvèdre, Grenache, Carignan, são muito bem adaptadas às condições quentes e secas", explica Van Leuwenn, especificando que o objetivo é não depender da irrigação para paliar os efeitos das mudanças climáticas.

"Alertamos contra a implantação da irrigação: é uma má adaptação", acrescenta Cornelis van Leeuwen. "O vinhedo irrigado fica mais vulnerável à seca se houver falta de água" e a água "é um recurso limitado e é uma loucura usá-la nos vinhedos, que aguentam muito bem uma colheita seca", sublinha.

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