Em Capri, ministro italiano pressiona chanceleres do G7 por consenso sobre sanções contra o Irã

Os chanceleres do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, estão reunidos na ilha de Capri, no sul da Itália. As reuniões dos ministros das Relações Exteriores vão até sexta-feira (19). As principais questões abordadas pelos representantes são os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia.

Gina Marques, correspondente da RFI na Itália

Vale lembrar que este ano a Itália tem a presidência rotativa do G7, grupo composto também pelo Reino Unido, Japão, Estados Unidos, Alemanha, França, Canadá, além da União Europeia (UE). O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, que preside as reuniões com os chanceleres, pressiona por um cessar-fogo na Faixa de Gaza e pede uma redução da escalada das tensões no Oriente Médio.

"Para alcançar a paz, mas uma paz justa, para fazer prevalecer a ideia do diálogo, devemos estar unidos. Estou convencido de que este encontro confirmará mais uma vez a unidade entre nós, da paz", disse Tajani, que acumula também a função de vice-primeiro-ministro italiano, ao receber as delegações participantes da reunião dos chanceleres do G7 em Capri.

Os países do G7 prometeram apoio a Israel após a ofensiva do Irã, que veio em resposta ao ataque aéreo israelense contra o complexo da embaixada do Irã em Damasco, na Síria, em 1º de abril, que matou dois generais e vários outros oficiais iranianos.

Israel pretende retaliar contra os ataques do último fim de semana do Irã, apesar dos pedidos ocidentais por uma contenção. Além disso, Tajani quer que o G7 adote sanções contra o Irã no documento final. Provavelmente os países demonstrarão um consenso. 

A hipótese foi bem recebida pelo chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, que também está presente em Capri, afirmou que será necessário revisar o regime de sanções já em vigor contra o Irã "para torná-lo mais eficaz", na quinta-feira em resposta a uma pergunta da agência AFP.

"Desde julho de 2023, há uma restrição a todas as empresas europeias que exportam componentes para o Irã para a produção de armas, e vamos aumentar isso", acrescentou. "O importante é implementar nossa decisão", enfatizou Borrell.

Antes de viajar para Capri, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock e o britânico David Cameron fizeram uma parada em Jerusalém na quarta-feira. Seguindo os passos de Washington, David Cameron conclamou os países do G7 a impor "sanções coordenadas" ao Irã, acusando-o de estar por trás de "tantas atividades maliciosas" na região, já desestabilizada pelo ataque sem precedentes do Hamas a Israel em 7 de outubro. Os países do G7 devem enviar "uma mensagem clara e inequívoca" a Teerã, insistiu ele.

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Guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia também é um tema importante em Capri. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, participam das negociações desta quinta-feira (18).

A Alemanha disse que os ministros do G7 discutirão como obter mais defesas aéreas para a Ucrânia, já que Kiev enfrenta uma pressão crescente de ataques aéreos implacáveis da Rússia em sua rede de energia. Além disso, os atrasos das ajudas militares dos Estados Unidos prometidas ao governo de Volodymyr Zelensky estão aumentando a pressão sobre a Europa, algo que poderia ser ofuscado precisamente devido à crise entre Israel e Irã.

Outra questão fundamental será a forma de utilizar os lucros de cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) de ativos russos soberanos que estão detidos no Ocidente para ajudar a Ucrânia. Alguns países da União Europeia hesitam em usar os ativos russos e questionam a legalidade de tal operação. Após o ataque em Moscou em março, o terrorismo entrou para a agenda de discussões, embora não como tema prioritário.

Na reunião do G7 na ilha italiana, os americanos também pretendem reunir os europeus para pressionar a China, que, de acordo com Washington, está apoiando cada vez mais o esforço de guerra russo. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que chegou à Capri a bordo de uma embarcação da guarda costeira italiana, deve expressar suas preocupações sobre esse assunto durante uma sessão dedicada à invasão russa da Ucrânia e ao apoio a esse país, que está em guerra com a Rússia há mais de dois anos.

Em particular, os americanos esperam que os países europeus pressionem Pequim a reduzir seu apoio militar à Rússia, em um momento em que, segundo o próprio Washington, as forças russas estão ganhando terreno na Ucrânia.

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Outros temas programados

Há também temas menos "quentes" na agenda, nos quais o G7 ainda quer se concentrar. Um deles é a relação com a África, também graças à presença do ministro das Relações Exteriores da Mauritânia, Mohamed Salem Ould Merzoug, que atualmente ocupa a presidência rotativa da União Africana. Conforme noticiado na página oficial do G7, o tema mais discutido deverá ser o combate à imigração irregular, a ser alcançado com novos investimentos no trabalho, na formação e na transição energética.

Outro ponto da agenda diz respeito à região Indo-Pacífico, considerada prioritária para o comércio mundial. A situação no mar Vermelho preocupa os países do G7, com os ataques dos rebeldes huthis do Iêmen contra navios mercantes naquela importante via comercial.

Por último, existem temas transversais como a segurança alimentar, a segurança energética, o combate às alterações climáticas, a cibersegurança, luta contra notícias falsas e a inteligência artificial.

O comunicado final, que está previsto para sexta-feira, último dia da reunião dos chanceleres, dirá até que ponto os sete países conseguiram chegar a um acordo sobre uma posição comum num momento de desordem global.

Capri blindada

O encontro dos chanceleres do G7 surge após uma anterior reunião informal realizada em fevereiro e traz uma imensa alteração do cotidiano da turística Capri e seus cerca de 7 mil habitantes.

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A ilha foi preparada com semanas de antecedência para o evento e onde foi implantada uma grande operação de segurança. Cerca de 1.400 agentes de segurança estão controlando a ilhota. O motivo é sobretudo a presença dos ministros das Relações Exteriores e mais de 300 delegados que participam das reuniões, além de jornalistas do mundo inteiro.

A prefeitura da ilha decidiu que o tráfego comercial permanecerá paralisado durante os dias da convenção. Alguns pontos turísticos, como a Gruta Azul, estão fechados ao público.

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