ONU denuncia uso da violência sexual em conflitos como "tática de guerra, tortura e terrorismo"

A violência sexual nos conflitos cresceu em 2023, de acordo um relatório da ONU publicado nesta sexta-feira (19). Estupro, escravidão sexual, prostituição, gravidez e casamento forçados continuam a "ser usados como tática de guerra, tortura e terrorismo", de acordo com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

O documento divulgado pela ONU analisa a situação no Afeganistão, na República Centro-Africana, na República Democrática do Congo, na Birmânia, no Sudão, no Mali e no Haiti, onde as gangues utilizam a violência sexual contra jovens de bairros "rivais", que são vítimas de estupros coletivos.

As vítimas são principalmente mulheres e adolescentes, mas também incluem "homens, rapazes e pessoas transgênero". A maioria dos casos relatados ocorreu em locais usados para detenção.

"Em 2023, com o surgimento de novos conflitos e a intensificação dos conflitos existentes, as populações civis foram expostas a maiores níveis de violência sexual relacionada às guerras. Essa violência cresceu com o impacto da proliferação de armas e do aumento da militarização", declarou Guterres.

Segundo ele, a violência é cometida por milícias ligadas ou não aos governos, que muitas vezes agem de maneira "totalmente impune".

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no ano passado, no Sudão, cerca de 4 milhões de mulheres "corriam risco" de sofrer violência sexual. 

Em um contexto de guerra, os estupros se tornaram uma estratégia militar explicou Abrar Alaliem, médico em Cartum, a Gaëlle Laleix, correspondente da RFI no país.

"Os relatos de estupro várias regiões do Sudão são frequentes. O uso dos corpos das mulheres está no centro da estratégia para incutir o medo e forçar as pessoas a abandonarem as suas casas, além de intimidar as comunidades."

Na República Democrática do Congo durante anos as mulheres também foram vítimas de violência sexual, principalmente no leste.

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Os crimes foram cometidos por milícias, soldados do exército regular congolês ou soldados do Burundi, como denunciou em dezembro do ano passado à RFI Carina Tertsakian, da ONG Iniciativa para os Direitos Humanos no Burundi.

Casos em Israel

O relatório da ONU descreve em particular as "agressões sexuais" cometidas pelas forças israelenses na Cisjordânia em mulheres e homens palestinos pelas forças de segurança israelenses após os ataques de 7 de outubro

Houve espancamentos, maus-tratos e humilhações, incluindo agressão sexual, como "chutes nos órgãos genitais e ameaças de estupro", afirma o relatório. O documento também menciona o relato de violência "semelhante" cometida em Gaza pelas forças israelenses após o início da ofensiva terrestre.

Há também dados em relação às acusações de violência sexual cometidas pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro.

De acordo com as conclusões apresentadas pela representante especial da ONU, Pramila Patten, após uma visita a Israel, "há motivos razoáveis ??para acreditar que violências sexuais" como o estupro, foram cometidas em pelo menos três locais no início da guerra no enclave. As informações foram publicadas plea organização no início de março.

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Em relação aos reféns levados pelo Hamas para Gaza, há "informações claras e convincentes" de que mulheres e crianças foram vítimas de estupro e tortura sexual no cativeiro. Neste contexto, a ONU pede que "a questão da violência sexual relacionada aos conflitos seja levada em conta em todos os acordos políticos e acordos de cessar-fogo".

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