O que prevê o acordo de U$ 50 bilhões anunciado pelos líderes do G7 para a Ucrânia

Os líderes do G7, grupo que reúne as sete maiores economias do mundo, chegaram a um acordo nesta quinta-feira (13) para liberar U$ 50 bilhões em ajuda à Ucrânia. O governo dos Estados Unidos exerceu um papel-chave na negociação para a liberação destes fundos. Em seu esforço para manter o apoio ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ante o avanço russo, o governo de Joe Biden anunciou também um histórico acordo de segurança com a Ucrânia.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

Durante o primeiro dia do encontro anual do G7 em Savelletri, Itália, foi assinado um acordo que visa ajudar a Ucrânia na compra de novas armas e na reconstrução das infraestruturas danificadas pela guerra. 

O acordo prevê a liberação de dinheiro em forma de empréstimo, a ser pago com os juros gerados pelos U$ 300 bilhões em ativos russos congelados em bancos europeus. Os Estados Unidos lideraram a iniciativa para liberar os fundos para o empréstimo. No entanto, espera-se que outros países aliados, incluindo membros da União Europeia, contribuam com parte dos recursos.

O papel dos Estados Unidos na negociação do empréstimo

O compromisso assumido pelos países do G7 na Itália ocorreu após uma longa negociação dos EUA para convencer os seus aliados sobre a utilização dos ativos russos congelados em bancos ocidentais. A lentidão do processo se deve a que muitos líderes europeus estavam preocupados com a legalidade do procedimento e também uma possível retaliação por parte da Rússia.

A secretária do Tesouro Americano, Janet Yellen, vinha há meses tentando angariar apoio entre os países do G7 sobre a questão. Em um artigo de opinião publicado recentemente no New York Times, ela defendeu a criação de uma fonte confiável de financiamento para a Ucrânia

"À medida que a Rússia continua a avançar para uma posição de guerra permanente e a Ucrânia enfrenta um déficit de financiamento futuro considerável, Putin aposta na espera pelo fim da coligação entre os países aliados, até que a Ucrânia fique sem dinheiro e sem balas", escreveu ela.

Logo após o anúncio do empréstimo nesta quinta, Yellen disse, desde um evento em Nova York, que o acordo do G7 demonstra ao presidente russo que os aliados ocidentais estão "completamente unidos" em apoio à Ucrânia.

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Aliados europeus concordaram em utilizar os ativos russos 

Os líderes das maiores economias do mundo buscam apresentar uma frente unida após semanas de desacordo entre a União Europeia e os EUA sobre a utilização dos ativos russos.

As principais divergências giravam em torno de quem garantiria o empréstimo em caso de inadimplência e quem teria controle sobre a destinação dos recursos.

Os riscos são elevados para a Europa, pois suas instituições financeiras detêm a maior parte dos ativos soberanos da Rússia e estão, portanto, mais expostas a riscos.

Além disso, há o receio de que o governo da Hungria, aliado da Rússia, possa vetar a renovação das sanções da UE contra o Kremlin, que legalmente precisam ser renovadas a cada seis meses. Se não forem renovadas, os ativos da Rússia serão descongelados.

Os termos do empréstimo são mais atraentes para os estados europeus, uma vez que os Estados Unidos seriam os responsáveis por ceder os fundos. 

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O G7 congelou mais de U$ 260 bilhões em ativos financeiros russos imediatamente após a invasão da Ucrânia em 2022. Desde então, a União Europeia e outros países do Grupo dos 7 têm debatido a possibilidade e os meios de utilizar esses fundos para apoiar Zelensky na defesa do país.

Combinado com as novas sanções impostas ao governo russo, anunciadas no início da semana, o acordo utilizará os juros e rendimentos dos ativos congelados para garantir o empréstimo à Ucrânia. O presidente Zelensky deverá ter acesso às primeiras parcelas desses recursos ainda este ano. 

Zelensky e Biden anunciam acordo bilateral de segurança

Os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram um acordo de Segurança que poderia ser considerado como um ato simbólico por parte do governo Biden, para reafirmar o seu comprometimento em ajudar o país. O tratado foi assinado prevendo 10 anos de duração, mas o futuro do acordo frente a uma possível vitória de Trump nas urnas em novembro é incerto.

Conforme o tratado, os Estados Unidos se comprometem a treinar e equipar as forças da Ucrânia, fornecer armas mais modernas e ajudar o país a construir sua própria indústria militar autossustentável. Isso coloca a Ucrânia no caminho para se tornar membro da OTAN.

Durante o encontro do G7, o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou o dia como "histórico", afirmando que ele e Biden assinaram o acordo mais forte entre os EUA e a Ucrânia desde a independência do país europeu.

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Nesse mesmo sentido, em uma coletiva de imprensa, Biden afirmou:

"Uma paz duradoura para a Ucrânia deve ser garantida pela capacidade própria do país de se defender".

O tratado bilateral anunciado na quinta-feira prevê a possibilidade de que qualquer uma das partes possa rescindir o acordo por escrito com um aviso prévio de seis meses. Essa prerrogativa significa que um futuro presidente dos EUA, incluindo Donald Trump, se for eleito em novembro, poderá facilmente cancelar o acordo.

Trump tem sido reticente quanto ao fornecimento de ajuda militar adicional à Ucrânia, criticando, em determinado momento, o "fluxo interminável de recursos do tesouro americano" para este fim.

Mais recentemente, porém, ele se mostrou mais aberto a negociar um empréstimo e chegou a afirmar que a independência da Ucrânia é importante para os Estados Unidos.

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