Putin chega à Coreia do Norte para fortalecer aliança militar com Pyongyang

O presidente russo, Vladimir Putin chegou nesta terça-feira (18) a Pyongyang, para sua primeira viagem à Coreia do Norte, país isolado há 24 anos. Antes de embarcar, Putin elogiou a Coreia do Norte por "apoiar firmemente" a guerra de Moscou na Ucrânia. A viagem pretende reforçar os laços de defesa entre os dois países. 

Enormes faixas com uma fotografia sorridente do líder russo com os dizeres "damos calorosas boas-vindas ao presidente Putin!" foram colocadas em postes de iluminação em Pyongyang ao lado de bandeiras russas, mostraram imagens da mídia estatal russa.

Moscou e Pyongyang são aliados desde a fundação da Coreia do Norte, após a Segunda Guerra Mundial, e aproximaram-se ainda mais desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 levou o Ocidente a isolar Putin internacionalmente.

Os Estados Unidos e aliados acusaram a Coreia do Norte de fornecer à Rússia armamentos, incluindo mísseis balísticos para uso na Ucrânia.

Pyongyang negou ter fornecido equipamento militar à Rússia, mas, antes da sua viagem, Putin agradeceu ao governo de Kim Jong-Un por ajudar no esforço de guerra.

"Apreciamos muito que a RPDC (Coreia do Norte) apoie firmemente as operações militares especiais da Rússia que estão sendo conduzidas na Ucrânia", escreveu Putin num artigo publicado pela mídia estatal norte-coreana na terça-feira.

A Rússia e a Coreia do Norte estão "agora desenvolvendo ativamente a parceria multifacetada", escreveu Putin.

Ambos os países estão sob uma série de sanções da ONU - Pyongyang desde 2006 por causa de programas proibidos de mísseis nucleares e balísticos e Moscou devido à invasão da Ucrânia.

Putin elogiou a Coreia do Norte por "defender seus interesses de forma muito eficaz, apesar da pressão econômica, provocação, chantagem e ameaças militares dos EUA que duram décadas".

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A Coreia do Norte disse que a visita bilateral mostrou que os laços "estão se fortalecendo a cada dia", informou a agência notícias oficiais de Pyongyang, e "daria nova vitalidade ao desenvolvimento das relações cooperativas de boa vizinhança entre os dois países".

Pyongyang nega acusações de ajuda na Ucrânia

A Coreia do Norte descreveu as alegações de fornecimento de armas à Rússia como "absurdas". No entanto, agradeceu à Rússia por utilizar o seu veto na ONU em março para pôr fim à monitorização das violações das sanções, numa altura em que os peritos da ONU começavam a investigar alegadas transferências de armas.

Os Estados Unidos expressaram "preocupação" na segunda-feira com a viagem por causa das implicações de segurança para a Coreia do Sul e também para a Ucrânia.

As duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra desde o conflito de 1950-53 e a fronteira que as divide é uma das mais fortemente fortificadas do mundo.

"Sabemos que os mísseis balísticos norte-coreanos ainda estão sendo usados ??para atingir alvos ucranianos e pode haver alguma reciprocidade que pode afetar a segurança na península coreana", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, aos jornalistas.

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Destacando essas preocupações de segurança, a Coreia do Sul disse que as suas tropas dispararam contra soldados do norte que cruzaram brevemente a fronteira na terça-feira e depois recuaram.

Os militares do sul disseram acreditar que os soldados norte-coreanos cruzaram acidentalmente enquanto fortificavam a fronteira, mas disseram que alguns deles ficaram feridos após detonarem minas terrestres.

Dependente de ditadores

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse que a viagem de Putin mostra como ele é "dependente" de líderes autoritários. "Os seus amigos mais próximos e os maiores apoiadores do esforço de guerra russo, de agressão, são a Coreia do Norte, o Irã e a China", disse Stoltenberg.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fez um apelo à comunidade internacional para combater "o romance solitário" entre Putin e Kim, visando aumentar o fornecimento de armas para Kiev.

"A melhor maneira de responder a isso é continuar a fortalecer a coligação diplomática para uma paz justa e duradoura na Ucrânia e entregar mais mísseis Patriot e munições à Ucrânia", disse Kuleba à AFP.

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A Coreia do Norte quer tecnologia militar de ponta para avançar nos seus programas nucleares, de mísseis, de satélites e de submarinos com propulsão nuclear, segundo especialistas.

O assessor do Kremlin Yuri Ushakov disse que os dois líderes possivelmente assinariam um "tratado de parceria estratégica abrangente" para definir a cooperação em "questões de segurança", informaram agências de notícias estatais russas.

A Coreia do Norte poderia prometer "suprir a Rússia com fornecimentos contínuos de artilharia, foguetes guiados para vários lançadores de foguetes e mísseis de curto alcance para apoiar as operações da Rússia na Ucrânia", disse Bruce Bennett, analista sênior de defesa da RAND Corporation, à agência de notícias sul-coreana Yonhap.

Em troca, Pyongyang poderá pedir que "a Rússia forneça uma variedade de tecnologias avançadas", disse ele, além de "um fluxo substancial de petróleo e produtos alimentares russos, juntamente com pagamentos em moeda forte".

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