Rede Atacadão inaugura 1° mercado em Paris e é chamada de "arma anti-inflação"

A rede brasileira Atacadão, que pertence ao grupo francês Carrefour, inaugurou nesta quinta-feira (20) o seu primeiro hipermercado na França. Criticado inicialmente pelo possível impacto no comércio local, ao mesmo tempo em que é elogiado pelo sucesso no Brasil, o modelo foi destaque na imprensa francesa, que o apresenta como uma "arma anti-inflação".

"Sucesso fenomenal no Brasil". Foi assim que o jornal Le Parisien Aujourd'hui en France apresentou a rede Atacadão, que acaba de abrir seu primeiro hipermercado em Aulnay-sous-Bois, uma periferia popular nos arredores de Paris. O diário traz uma longa reportagem realizada nos corredores do mercado, na qual ouviu alguns de seus primeiros clientes, encantados com o modelo do "atacarejo", que aposta em produtos de baixo preço vendidos em grandes quantidades.

Entre uma senhora que comprou 30 quilos de açúcar de uma vez - "para mim, minha mãe e minha irmã" -, e outra que saiu com um carrinho repleto de batatas fritas, chocolates e refrigerantes e uma terceira que levava vários pacotes de arroz e litros de óleo, todos os consumidores ouvidos pareciam ter sido conquistados pelo Atacadão. "Pelo menos no papel, a promessa desse modelo, que é um sucesso no Brasil com 366 lojas e responde por dois terços das vendas do [grupo] Carrefour no país, é tentadora", analisa o tabloide.

No papel, já que o Atacadão não era visto com bons olhos por todos. A tal ponto que o grupo Carrefour havia anunciado em 2022 uma inauguração em 2023, mas representantes políticos locais em Sevran, cidade inicialmente escolhida para o lançamento do modelo na França, forçaram o grupo a buscar uma alternativa na cidade vizinha.

Temendo impacto no comércio local e, sobretudo, rejeitando a estigmatização como "cidade pobre", o prefeito de Sevran promoveu em 2023 uma campanha contra a chegada do hipermercado brasileiro. Diante da pressão, o grupo Carrefour decidiu mudar de endereço.

Apesar dos percalços, a abertura foi celebrada. Dezenas de pessoas compareceram à cerimônia de inauguração no centro comercial O'Parinor, perto do aeroporto de Le Bourget, incluindo o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard.

O executivo elogiou o "formato inédito" do supermercado, que se adapta às regiões e aos trabalhadores de baixa renda, com sua gama de produtos a preços raramente encontrados na França. Segundo ele, o projeto deve ser visto como "uma solução anti-crise" em razão dos valores praticados.

O grupo vê esse conceito como uma forma de conquistar novos clientes, "em um momento em que os preços dos bens de consumo aumentaram mais de 20% em dois anos, entre 2022 e 2023", explica Le Figaro. "Mesmo que o pior da crise inflacionária já tenha passado, os preços nas prateleiras continuam particularmente altos, pressionando o poder de compra de alguns consumidores franceses", completa o jornal, que também traz uma longa reportagem sobre a inauguração do primeiro Atacadão da França.

O jornal Les Echos, bíblia do jornalismo econômico na França, também apresenta o modelo brasileiro como uma "arma anti-inflação".

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Menos funcionários e alicerces reforçados

A gestão da loja está sob responsabilidade da LabelVie, uma franquia que já instalou lojas com a marca Atacadão no Marrocos. Segundo Noël Prioux, diretor executivo do Carrefour e responsável pelo projeto francês, o Atacadão de Aulnay-sous-Bois terá "entre 120 e 130 funcionários", ou seja, 50 a menos que um hipermercado tradicional de tamanho equivalente.

Mesmo se o grupo Carrefour possui grandes supermercados, uma estrutura como a do Atacadão exigiu algumas adaptações. Até os alicerces do espaço onde o hipermercado foi inaugurado tiveram que ser reforçados para aguentar o peso dos estoques, conta Les Echos, que revela um investimento de ? 10 milhões no projeto.

Segundo o diário econômico, o grupo Carrefour está se dando um prazo de seis a oito meses para fazer uma avaliação inicial de seu primeiro Atacadão francês. Outros locais já foram identificados para abertura de novas possíveis filiais, principalmente no norte do país, revela Les Echos.

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