Verão começa no hemisfério norte com ondas de calor na Europa e mortes na Arábia Saudita

Turistas e moradores da Itália enfrentaram a primeira onda de calor do ano nesta sexta-feira (21), com temperaturas em torno de 40°C. Mesmo antes do início do verão no hemisfério norte, outras regiões já vêm sofrendo com as altas temperaturas nas últimas semanas. Na Grécia, após a onda de calor fechar a Acrópole, já se registram os primeiros incêndios florestais. Na Arábia Saudita, o calor causou a morte de mais de 1.000 peregrinos que seguiam até Meca. 

De acordo com o serviço meteorológico oficial da Força Aérea, as temperaturas chegaram aos 40°C em algumas partes da Itália. Com isso, o ministério da Saúde colocou várias cidades em alerta vermelho de onda de calor, incluindo Roma e Palermo, na Sicília.

O site meteorológico Il Meteo culpou um anticiclone africano "Minos", que ganhou o nome em homenagem ao filho de Zeus na mitologia grega.

Em Roma, onde foi registrado um pico de 39°C na quinta-feira (20), as autoridades locais instalaram palmeiras em vasos nos pontos de ônibus para oferecer sombra aos transeuntes. A capital italiana possui muitos parques e fontes de água potável gratuitas, mas muitas ruas e praças ficam totalmente expostas ao sol escaldante.

Nesta sexta-feira, muitos turistas, italianos e estrangeiros, refrescaram-se nas fontes da cidade.

"Como não estamos fazendo nada, não temos motivos para reclamar, estou pensando naqueles que estão nos canteiros de obras, que trabalham aqui, deve ser terrível", disse um turista suíço à AFP-TV.

"Voltamos um pouco ao hotel para evitar as horas mais quentes do dia", explica Anna Verna, turista italiana de 34 anos.

"Depois vamos sair de novo (...) Roma é linda, por isso queremos aproveitá-la mesmo no calor", completou sorrindo.

Utilizando uma câmara térmica, o Greenpeace descobriu que as temperaturas ultrapassavam largamente os 50°C no nível do solo em alguns locais, como no Coliseu. Em 2023, Roma registrou um recorde de temperatura de 42,9°C em 18 de julho, segundo o município.

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"Um recorde que infelizmente corremos o risco de bater neste verão (...) mesmo que estejamos ainda em junho", alertou Sabrina Alfonsi, assessora para o meio ambiente.

As alterações climáticas causadas pela atividade humana estão aquecendo o planeta em um ritmo alarmante, conduzindo a ondas de calor intensas que estão aumentando, de acordo com a comunidade científica global.

Incêndios na Grécia

Uma semana depois das temperaturas passarem dos 40°C na Grécia, o que resultou no fechamento da Acrópoles, em Atenas, e na morte de três pessoas, o país enfrenta agora o início das queimadas florestais. Nesta sexta-feira, 45 focos de incêndios foram registrados no terceiro dia consecutivo de fortes ventos. Algumas cidades na região do Peloponeso precisaram ser evacuadas e uma pessoa morreu.

"As condições (meteorológicas) são extremamente difíceis, a velocidade do vento ultrapassou os 95 km/h (10 na escala Beaufort) na sexta-feira em algumas regiões, o que dificulta o enfrentamento do fogo", indicou o porta-voz dos bombeiros, Vassilis Vathrakogiannis, durante uma coletiva de imprensa.

Desde quarta-feira, as autoridades alertam para o "risco muito elevado" de incêndio florestal devido aos ventos fortes e temperaturas elevadas. 

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Familiarizada com as ondas de calor, a Grécia se prepara para um verão particularmente difícil em termos de ondas de calor e incêndios florestais, depois de ter sofrido o inverno mais quente da sua história.

Tragédia em Meca

Depois de tentar durante anos obter uma autorização para a peregrinação em Meca, sem sucesso, Yasser decidiu realizá-lo ilegalmente, uma escolha que hoje lamenta amargamente.

Embora tenha sobrevivido aos extenuantes rituais realizados na semana passada no oeste da Arábia Saudita, sob um calor sufocante, ele não vê sua esposa desde domingo e teme que ela esteja entre os mais de 1.100 mortos, a maioria egípcios não registrados como ele.

"Busquei em todos os hospitais de Meca", disse à este engenheiro aposentado de 60 anos, contatado por telefone em seu hotel.

Mais de metade dos peregrinos que morreram durante a grande peregrinação muçulmana anual na semana passada vieram do Egito: 658 dos 1.100 mortos, segundo uma contagem realizada pela AFP com base em dados fornecidos por cerca de dez países e diplomatas envolvidos.

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Um diplomata árabe disseque a maioria que morreu não tinha as autorizações necessárias para aceder a comodidades destinadas a tornar a peregrinação mais suportável, como tendas com ar condicionado que oferecem descanso aos fiéis sob abrigos de temperaturas que chegam a 51,8°C. 

Nesta sexta-feira, num primeiro comentário saudita sobre estas mortes, um alto funcionário defendeu a gestão da peregrinação, garantindo que o Estado "não falhou".

Ele disse que as autoridades confirmaram 577 mortes nos dois dias mais movimentados: sábado, quando os peregrinos se reuniram sob o sol escaldante no Monte Arafat, e domingo, quando participaram do ritual de "apedrejamento" do diabo" em Mina.

"Isto aconteceu num contexto de condições climáticas difíceis e temperaturas muito severas", disse, reconhecendo que o número de 577 era parcial e não cobria toda a peregrinação, que terminou oficialmente na quarta-feira.

"O Egito está triste"

"Havia cadáveres no chão. Vi pessoas desmaiar de repente e morrer de exaustão", disse Mohammed, 31 anos, um egípcio que vive na Arábia Saudita e que realizou a peregrinação com a sua mãe, de 56 anos.

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Outra egípcia, residente em Riade, afirma ter visto a mãe morrer antes da chegada de uma ambulância. Seu corpo foi então transportado para um local desconhecido.

Até mesmo alguns peregrinos registrados tiveram dificuldades para ter acesso aos serviços de emergência, mostrando que o sistema estava sobrecarregado, diz Moustafa, cujos dois pais idosos - que tinham autorização para a peregrinação - morreram depois de serem separados dos familiares que os acompanhavam.

"Sabíamos que eles estavam cansados", disse ele por telefone, do Egito. "Eles caminharam muito, não encontraram água e estava muito quente." "Nunca mais os veremos."

"Todo o Egito está triste", lamenta, dizendo que a sua única consolação é que os seus pais foram enterrados em Meca, a cidade sagrada do Islã.

(Com AFP)

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