Poder de Macron seria muito reduzido em caso de vitória da extrema direita em eleições legislativas

As revistas francesas desta semana analisam como seria um governo da extrema direita na França, em caso de vitória do partido Reunião Nacional (RN) nas eleições legislativas de 30 de junho e 7 de julho. Em caso de coabitação, o poder do presidente Emmanuel Macron seria bastante reduzido e a o país poderia se transformar em uma "democracia iliberal"

A L'Express analisa a possibilidade de coabitação ? como é chamada na França a situação de um primeiro-ministro e um presidente de partidos diferentes ? se Jordan Bardella se tornasse primeiro-ministro, após uma vitória do partido Reunião Nacional (RN). A extrema direita teria sua primeira "experiência no poder", diz a revista, mas o presidente Emmanuel Macron poderia desempenhar um papel de proteção, "impedindo alguns excessos".

Ainda que, segundo a Constituição francesa, caiba ao presidente a escolha do primeiro-ministro, ela está submetida à Assembleia Nacional. Em caso de uma maioria absoluta de deputados do RN, o nome de Jordan Bardella deve se impor. 

Em caso de coabitação, o poder de escolha do governo Macron será muito limitado, já que o presidente pode manifestar sua opinião sobre a escolha de apenas dois ministros, o de Relações Exteriores e o da Defesa. 

Mas o RN não poderá, por exemplo, propor um referendo sobre a imigração, como está em seu projeto de governo, sem o acordo do presidente. 

Ainda que, no Legislativo, a maioria não possa ser impedida de aprovar projetos de lei, Macron pode pedir o visto do Conselho constitucional, que analisa a constitucionalidade das medidas, antes da promulgação. 

Neste sentido, temas importantes do programa de Bardella, como a restrição do direito a ajudas sociais aos cidadãos franceses, serão de difícil aplicação, explica L'Express. 

Democracia iliberal

Para a Nouvel L'Obs, em caso do RN obter maioria absoluta na Assembleia Nacional, o país se transformaria em uma "democracia iliberal". O termo, muito usado para definir países como a Hungria de Viktor Orban, diz respeito a países democráticos, mas onde a independência da Justiça não é respeitada, os cidadãos não se beneficiam de um tratamento igualitário diante da lei, nem de proteções suficientes diante do Estado ou das empresas. 

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A exemplo do direito à nacionalidade francesa para pessoas nascidas na França de pais estrangeiros que o RN quer suprimir, a vitória do partido ameaçaria os princípios de igualdade, mas também as ideias que constituem a Europa. 

O programa da extrema direita se baseia, em grande parte, na luta contra a imigração e na construção de um estado securitário. Questões como mudanças climáticas não são prioridades para a extrema direita, garante a revista. Na escola, o objetivo será mostrar às crianças que elas são "cidadãs francesas antes de ser cidadãs do mundo". A redução de subvenções para associações de defesa de minorias (imigrantes, LGBT+) também deve fazer parte das medidas adotadas pelo RN. 

Lições do terremoto

A Le Point analisa "as lições do terremoto" representadas pela vitória da extrema direita nas eleições europeias, eclipsada pela dissolução da Assembleia Nacional francesa.

O texto de Jérôme Fouquet, diretor do departamento de Opinião do instituto de pesquisas Ifop, decifra a "nova geografia política" da França, que tem "uma segmentação política exacerbada". Segundo ele, apenas os grandes centros urbanos foram poupados pela onda populista e ultranacionalista. 

O aumento foi mais expressivo entre os eleitores com menor grau de escolaridade. Mas foram as mulheres que desempenharam um papel importante e surpreendente na eleição da extrema direita na eleição europeia (+13 pontos contra +3 entre os homens). 

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Como esperado, entre os eleitores do RN, 89% citam preocupações com a imigração ilegal como motivação para o voto. 

O artigo também analisa o voto na esquerda, mostrando que apesar dos holofotes apontarem para a esquerda radical, foi o Partido Socialista, com a lista encabeçada por Raphaël Glucksmann que venceu, mostrando uma preferência dos franceses pela social-democracia. No entanto, 62% dos eleitores muçulmanos da França votaram pelo partido da esquerda radical, A França Insubmissa. 

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