Incerteza política na França pesa em economia já fragilizada por desordem fiscal

O impacto econômico do impasse político que se instalou na França desde que o presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições legislativas antecipadas já é sentido no país. O ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, tem alertado para o risco de um "declínio" se a política econômica em vigor virar radicalmente à esquerda, como propõe a coligação Nova Frente Popular (NFP), que ficou em primeiro lugar no pleito do último domingo (7). Nesta quinta-feira (11), Le Maire ressaltou que a França precisa economizar € 25 bilhões (R$ 150 bi) em 2024 para restaurar as suas finanças públicas.

Desde os gastos excepcionais gerados pela pandemia de Covid-19, a situação fiscal francesa se deteriorou e a Comissão Europeia tem advertido a segunda maior economia do bloco sobre a sua capacidade de se recuperar do atual déficit, que chegou a 5,5% do PIB em 2023.

"Temos de fazê-lo agora ou será tarde demais, porque a França irá divergir definitivamente dos seus 19 parceiros da zona euro, o que seria um grande erro econômico e político", advertiu o ministro, em um artigo publicado no jornal conservador Le Figaro.

Laurent Vronski, empresário e secretário-geral da rede Croissance Plus, que reúne empreendedores franceses, observa que a crise política atual ocorre na sequência de várias outras crises econômicas, iniciadas com a pandemia. "A diferença é que esta atinge em cheio apenas as empresas francesas. Aquelas que sobreviveram já estão, de uma forma ou de outra, fragilizadas", salienta, em entrevista à RFI.

"Muitas estão endividadas e essa crise política francesa, iniciada há um mês, piora o quadro. Nós, empresários, estamos habituados a avaliar os riscos, mas quando há incertezas, como agora, elas são mais dificilmente medidas - e todos os atores econômicos que eu encontro impuseram uma pausa nos seus projetos, pois não sabem mais o que está acontecendo", afirma Vronski.

França na mira da União Europeia

Louis-Samuel Pilcer, professor-associado de Economia na Sciences Po de Paris, avalia que "o governo que será formado em alguns dias ou semanas precisará levar em conta a situação econômica e social extremamente degradada na qual nos encontramos".

"Se nós quisermos continuar adotando políticas públicas e as reformas ambiciosas da esquerda, precisamos reajustar as contas do país. A política econômica, mesmo se for da esquerda, vai precisar ser financeiramente equilibrada", salienta o professor, também à RFI.

A União Europeia pretende validar oficialmente na terça-feira (16) a abertura de um procedimento sobre o déficit público excessivo francês. Até 2027, Paris deve voltar para os limites europeus, de déficit máximo de 3% do PIB, e para isso deverá apresentar, até o fim de setembro, um plano detalhado de como atingirá este objetivo.

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A França também precisa reduzir a sua dívida, que subiu para quase € 3,16 bilhões no final de março - ou quase, 111% do PIB, em comparação com 60% estabelecidos pelos critérios europeus.

Programa da esquerda

Pilcer considera que, em meio às dúvidas sobre para qual rumo a economia francesa vai seguir, apenas a formação de uma coalizão estável no governo poderá acalmar os temores em relação ao país nos mercados financeiros e demais agentes econômicos.

"A situação não está no vermelho por causa da Nova Frente Popular [a aliança de esquerda vencedora das eleições], mas pela política que foi adotada nos últimos sete anos", salienta Pilcer. "O programa da esquerda foi o único que apresentou despesas, mas também receitas. Ele provavelmente não será consensual na Assembleia e precisará, na minha opinião, recuar em alguns pontos para ser melhor aceito".

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