Josias de Souza

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Opinião

Haddad prevaleceu sobre Rui Costa no manuseio da tesoura

O duque de Richelieu, personalidade célebre da historiografia francesa, esteve para o rei Luís 13 da França assim como Rui Costa está para Lula 3. Era o primeiro-ministro, o conselheiro número um. Mandava e desmandava. De passagem pela Bahia, no início de Julho, Lula declarou: "A presença do Rui Costa na Casa Civil é a certeza que posso dormir toda noite tranquilo, porque ninguém vai tentar me dar uma rasteira." Por isso, disse ele, há tanta "divergência entre o Rui e outros ministros do governo".

Nenhum outro ministro coleciona tantas divergências com o chefão da Casa Civil do que o colega Fernando Haddad, da Fazenda. A dupla dança na Esplanada uma coreografia de gato e rato. Na definição do congelamento de despesas que o governo teve que fazer para preservar a responsabilidade fiscal, Haddad prevaleceu sobre Rui. Do corte de R$ 15 bilhões, o PAC, bilionário programa de investimentos coordenado pelo chefão da Casa Civil, sofreu o maior talho: R$ 4,5 bilhões.

No livro "Testamento Político", o cardeal Richelieu ensinou que o primeiro conselheiro do Estado precisa "dormir como um leão, sem fechar os olhos [...], para prever os menores inconvenientes que podem advir". Naquilo que diz respeito "à conduta dos homens", ele anotou, é preciso "abrir duplamente os olhos". Divulgado no final da noite de terça-feira, o bloqueio de gastos do governo foi esmiuçado em reunião dos ministros da área econômica com Lula. Em férias, Rui Costa não participou do encontro. Dormiu no ponto.

Além do PAC, a tesoura da Fazenda alcançou outras áreas estratégicas da Esplanda. Entre elas as pastas da Saúde (R$ 4,4 bilhões), Cidades (R$ 2,1 bilhões), Transportes (R$ 1,5 bilhão) e Educação (R$ 1,2 bilhão). De quebra, a equipe econômica passou na lâmina, no finalzinho do recesso do Congresso, R$ 1,2 bilhão em emendas parlamentares de comissão e de bancada. Foi como se Haddad cutucasse os parlamentares com o pé, para ver se eles mordem.

Ouve-se nos porões de Brasília um coro de lamúrias. Por enquanto, Lula manteve o compromisso de dar mão forte a Haddad no manuseio da tesoura. Resta agora saber até que ponto as lamentações afetarão o sono tranquilo do soberano ao final das férias do Congresso e do todo-poderoso Richelieu da Casa Civil. Respira-se na Capital uma atmosfera de alta-tensão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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