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Oposição agradece apoio de Lula a processo eleitoral na Venezuela em contexto de bloqueio à informação no país

As declarações de Luiz Inácio Lula da Silva sobre as eleições venezuelanas e o bloqueio de sites de informação foram a tônica desta segunda-feira (23) na Venezuela.

O presidente brasileiro afirmou a uma agência internacional que "Nicolás Maduro precisa aprender que, quando se perde, é preciso respeitar o resultado e ir embora".

As declarações foram feitas após o venezuelano afirmar no último fim de semana que "se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra fratricida, devemos garantir a maior vitória da história eleitoral do nosso povo".

Chavismo na berlinda pela 1ª vez

No próximo domingo (28), cerca de 21 milhões de venezuelanos irão eleger quem governará o país pelos próximos seis anos. E esta é a primeira vez que o chavismo está na berlinda, com as pesquisas de intenção de voto apontando Edmundo Gonzalez como o favorito.

Com isso, Brasília decidiu enviar a Caracas nos próximos dias Celso Amorim, o assessor especial da Presidência, para acompanhar as eleições. As declarações de Lula foram rebatidas por Jorge Rodríguez, o presidente da Assembleia Nacional e também chefe do comando de campanha de Maduro. Em tom jocoso, Rodríguez disse que "como vamos respeitar os resultados se vamos ganhar? Claro que vamos respeitar, que vamos comemorar nas ruas. Maduro vai comemorar os resultados junto com o seu povo".

Além de Celso Amorim, o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil informou que estarão na Venezuela dois representantes para acompanhar as eleições presidenciais. No país já estão observadores do Centro Carter e representantes da ONU para acompanhar as eleições de 28 de julho.

Já o opositor Edmundo González, que vem atraindo milhares de pessoas nos atos políticos, manifestou através das redes sociais que "agradecemos as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em apoio a um processo eleitoral pacífico e amplamente respeitado na Venezuela".

O diplomata de 74 anos, que estreia na carreira política substituindo na planilha eleitoral a inabilitada Maria Corina Machado, ressaltou que "agradecemos imensamente a presença do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para observar o processo no próximo domingo, 28 de julho. O mundo nos observa e nos acompanha".

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Censura

Só nesta segunda-feira, seis sites informativos foram bloqueados pelas principais operadoras de telefonia celular e de internet do país por ordem da Conatel, a Comissão Nacional de Telecomunicações.

Desde o início da campanha política treze páginas de internet sofreram restrições de acesso. Os recentes sites bloqueados têm uma linha editorial independente e, em parte, crítica ao governo. Entre elas está VE Sem Filtro, ONG que há dez anos monitora as limitações ao acesso à internet na Venezuela.

Nos últimos dias e de forma consecutiva, o presidente Nicolás Maduro arremeteu contra a imprensa, sobretudo as agências internacionais. Os recentes insultos foram dirigidos à Televisão Espanhola e ao jornal espanhol El País, classificados pelo presidente como "capangas comunicacionais da mentira".

Logo nos primeiro dias de ataque à imprensa, a APEX, a Associação de Imprensa Estrangeira na Venezuela, divulgou pelas redes sociais um comunicado pedindo "respeito ao trabalho da imprensa e rejeitando as agressões de qualquer índole por parte das autoridades e atores políticos".

Jorge Rodríguez respondeu a mensagem frisando que os membros da APEX "não se envolvam tomando partido pelo lado mais extremista e violento" e menosprezou o texto ao afirmar que a "última linha do comunicado era simplesmente risível".

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Para ajudar a população a ter acesso à informação equilibrada e veraz, uma empresa de tecnologia liberou gratuitamente o uso de um aplicativo que funciona como uma rede privada virtual (VPN, nas siglas em inglês).

Fim de campanha

Após apenas 21 dias de atos e comícios em todo o país, nesta quinta-feira (25) chega ao fim a campanha eleitoral, de acordo com as regras do Conselho Nacional Eleitoral.

Edmundo Gonázlez, acompanhado pela política inabilitada Maria Corina Machado, convocou seus apoiadores para o que chamaram de a "tomada de Caracas", um ato com milhares de pessoas percorrendo quase toda a capital venezuelana. Porém, Nicolás Maduro também decidiu fechar sua campanha em Caracas e fez um chamado para que seus partidários marchem das zonas leste e oeste rumo ao Palácio Presidencial de Miraflores, localizado no Centro.

Outros candidatos de menor porte também farão atos de fechamento de campanha. Um deles, Enrique Márquez, manifestou descontentamento com a convocação de Nicolás Maduro ao reclamar sobre o espaço ocupado pelo ato do candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

A partir desta semana, os institutos de análises de intenção de voto não podem divulgar as pesquisas.

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Em vez de festa, tensão

Os dias que antecedem e o dia da eleição aqui na Venezuela são marcados por tensão e ansiedade por causa da polarização política. Não é como em outros países onde as pessoas saem às ruas para votar e em seguida celebrar a festa democrática.

No dia da votação as pessoas são acordadas antes das seis horas da manhã por uma corneta, o chamado toque de Diana. Em seguida são abertos os mais de 14 mil colégios eleitorais espalhados pelo país, onde cerca de 21 milhões de eleitores vão escolher entre os dez candidatos presidenciais.

Na Venezuela as pessoas saem para votar e em seguida, temendo reações mais exaltadas de partidários de um ou outro lado da disputa, vão para suas casas acompanhar os resultados. O voto é opcional e a eleição é conquistada em apenas um turno - ganha quem tiver o maior número de votos. Os resultados são anunciados horas após o fechamento das urnas.

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