Biden diz que decidiu "passar a tocha para a nova geração" em discurso após desistir da reeleição

Os acontecimentos das duas últimas semanas transformaram a corrida eleitoral americana. A tentativa de assassinato de Donald Trump, seguida pela desistência de Joe Biden à reeleição, somaram elementos inesperados a esta, que já é uma eleição histórica.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

Na noite desta quarta-feira (24), o presidente americano falou à nação pela primeira vez desde que deixou a campanha eleitoral, dizendo que decidiu "passar a tocha à nova geração", referindo-se à Kamala Harris. A candidata interina, por sua vez, já começou a campanha e está percorrendo o país para participar de comícios e atos junto a eleitores-chave.

Um pouco ausente das manchetes desde o fim da Convenção Nacional Republicana, Trump vem tentando redesenhar sua estratégia de campanha para encarar a nova adversária.

Tom do discurso 

Cercado por fotos da família, o presidente Biden falou à nação por cerca de 10 minutos na noite desta quarta-feira direto do Salão Oval da Casa Branca.

Em seu discurso, Biden diz que decidiu abandonar a corrida eleitoral porque ele coloca os interesses do país em primeiro lugar.

"Eu reverencio este cargo, mas amo mais o meu país", disse.

Biden se tornou o primeiro presidente em exercício desde Lyndon B. Johnson, em 1968, a não concorrer a um segundo mandato.

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Não é sobre mim, é sobre vocês, disse ele, avisando aos americanos que a escolha a ser feita será entre "voltar ao passado ou olhar para o futuro", entre "esperança e ódio".

O presidente fez um balanço de suas ações desde que assumiu o controle do país em 2021. Citou os 16 milhões de empregos criados durante sua gestão, assim como a promessa cumprida de nomear a primeira mulher negra à Corte Suprema, Ketanji Brown Jackson, mas disse que optou por "passar a tocha à nova geração".

"Eu fiz minha escolha", disse referindo-se à Kamala Harris, afirmando que ela é forte e capaz para exercer o cargo mais alto da política americana. Espaço que, segundo ele, não pode ceder lugar à violência, fazendo um aceno ao atentado à vida de Trump.

Biden disse que pretende focar os próximos seis meses em cumprir a suas obrigações como presidente, em "terminar o trabalho", como dizia seu antigo slogan de campanha.

Kamala Harris em evento da Fraternidade Afro-americana

Harris fez uma importante aparição pública, discursando em um evento da Fraternidade Afro-americana em Indiana. Assim, ela não pode estar presente no Congresso para ouvir o discurso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

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Mais de cinco mil manifestantes tomaram Washington DC na tarde de ontem para protestar contra a presença do prêmier israelense.

A imagem de Joe Biden ficou bastante prejudicada desde que o conflito em Gaza teve início, devido ao grande apoio dos Estados Unidos a Israel. Com isso, Kamala Harris vem tentando demonstrar que sua postura com relação ao conflito tem um tom mais empático. Em um discurso feito em Selma, no Alabama, ela pediu pelo "cessar-fogo imediato" e chegou a criticar Israel por criar uma "catástrofe humanitária" em Gaza.

Ao dar preferência a um evento junto a referentes da comunidade afro-americana, Harris tenta fortalecer os laços com esses futuros eleitores. Até o momento, sua estratégia parece mais focada em conquistar o eleitor mais jovem e progressista que, diante da guerra, se viu desmotivado a ir às urnas votar em Joe Biden, ainda que desaprove fortemente Donald Trump.

Possíveis candidatos a vice 

Kamala Harris está tentando se posicionar como a candidata das minorias, abraçando os direitos reprodutivos como uma de suas bandeiras de campanha. No entanto, uma plataforma progressista, aliada ao fato de ela ser mulher e não ser branca, poderia ter impacto em um eleitorado mais conservador. Por isso, espera-se que seu vice seja selecionado entre figuras do partido que possam equilibrar essa balança, em outras palavras, um homem branco e com influência nos estados-chave.

Por esse motivo, no topo da lista de possíveis escolhidos está o duas vezes eleito governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, que é um democrata moderado que ganhou notoriedade nacional por agir rápido diante do desabamento de um importante viaduto, usado como trajeto diário por vários moradores da Filadélfia. Em duas semanas, Shapiro organizou uma substituição temporária da ponte. Ele também negociou com sucesso dois orçamentos estaduais, aumentando significativamente o financiamento para a educação pública.

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A seguir aparecem nomes como o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, e o senador Mark Kelly do Arizona. Também estão cotados, mas, segundo a mídia local, teriam menos chances, o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, que desenvolveu um relacionamento próximo com Harris, o governador do Kentucky, Andy Beshear, e o governador de Minnesota, Tim Walz.

A nomeação do vice de Kamala Harris deverá ser feita até o próximo dia 7 de agosto.

Agenda da candidata

A candidata está em Houston, no Texas, desde ontem, onde deverá visitar o centro de operações de emergência da cidade para acompanhar de perto os esforços de recuperação após o furacão Beryl. 

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A tempestade atingiu a costa em 8 de julho, arrancando árvores, danificando casas e cortando a energia de milhões de pessoas. Algumas áreas da cidade ficaram sem energia por uma semana.

Nesta quinta-feira (25), ela vai fazer um discurso na Convenção Nacional da Federação Americana de Professores que acontece na cidade.

Novo adversário para Trump 

Donald Trump fez seu primeiro comício desde que o presidente Joe Biden desistiu da candidatura. Ele aconteceu em Charlotte, Carolina do Norte, um dos estados-pêndulo - que não tem uma tendência clara entre Republicanos ou Democratas - na tarde desta quarta-feira.

O ex-presidente não poupou críticas à nova adversária, a quem caracteriza como "o mesmo que Biden, mas muito mais radical".

Trump disse que a desistência de Biden foi forçada e que a mudança repentina de candidato significa "um movimento muito antidemocrático".

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"Agora, temos uma nova vítima para derrotar: a mentirosa Kamala Harris", disse ele, pronunciando incorretamente o nome da candidata e criticando sua atuação quanto às políticas de fronteira.

Ainda que a campanha de Trump estivesse centrada em atacar Biden, apontando-o como alguém incapaz de governar por conta da idade, contra Kamala Harris o ataque tenderá a ser mais quanto a seus aspectos "progressistas". No discurso de Charlotte, por exemplo, Trump acusou Harris de ser a "força motriz ultraliberal" por trás das políticas de Biden.

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