Na Venezuela, líder da oposição comenta ameaça de Maduro de "banho de sangue" caso não seja reeleito

A campanha eleitoral na Venezuela termina nesta quinta-feira (25), a apenas três dias da eleição mais disputada dos últimos anos e que pode colocar fim a meio século do chavismo no poder. Nicolás Maduro e Edmundo González, este alavancado por Maria Corina Machado, convocaram seus seguidores para atos na capital Caracas. O período de 21 dias de campanha foi marcado por polêmicas, sobretudo com o Brasil, e pelo assédio a opositores.

Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas

Em entrevista à RFI, Maria Corina Machado, líder da oposição, reagiu à declaração de Nicolás Maduro de que a vitória de seus opositores se traduziria em um "banho de sangue". 

"Isso é uma monstruosidade e uma falsidade. E eu me pergunto a quem isso se destina? Porque já não tem nenhum impacto sobre os venezuelanos, nenhum. Aquela ameaça de que tínhamos de nos resignar e nos submeter à indignação, ao totalitarismo, porque a outra opção era a violência, não surte mais efeito. O medo foi derrotado aqui. Nicolás Maduro e o regime foram derrotados nos corações, nas almas e nas ruas da Venezuela. Essa ameaça pode ser dirigida à comunidade internacional, que, penso, também não acredita mais nessa chantagem", disse.

É a primeira vez que algumas pesquisas apontam a vitória à oposição.

Nos últimos dias, os abusos na campanha eleitoral na Venezuela foram bastante documentados: o governo de Nicolás Maduro ordenou a prisão de pelo menos 70 pessoas que colaboraram com a oposição e também utiliza os meios de comunicação estatais para se promover. Além disso, ruas e estradas foram bloqueadas para impedir caravanas da oposição. Ações que, segundo Machado, reforçam o fato de que estas eleições não são livres e nem justas.

"Elas não são livres porque não permitiram que o candidato eleito nas primárias concorresse, onde recebi o apoio e a confiança dos venezuelanos. Eles não me permitiram concorrer às eleições. Não são justos porque quase dez milhões de venezuelanos, entre aqueles que estão no exterior, como os jovens que não foram autorizados a se registrar, não poderão votar", lamentou ela.

Machado destacou ainda que o grupo de oposição à Maduro não consegue pegar um avião dentro do país, alugar um quarto de hotel e nem comprar comida na estrada, porque tudo é fechado para perseguir os candidatos contrários ao presidente. 

Polêmicas com o Brasil

O último comício de Nicolás Maduro será na principal e simbólica Avenida Bolívar, no centro da capital. Uma grande estrutura foi montada para receber centenas de partidários que irão se concentrar no local, após marcharem de leste a oeste de Caracas. Lá, o presidente, que busca se reeleger pela terceira vez consecutiva após onze anos no poder, fará um discurso apoiado por personalidades do chavismo.

Continua após a publicidade

Nos últimos dias Maduro subiu o tom em suas declarações e gerou polêmicas sobretudo com o Brasil. Na quarta-feira (23) o Tribunal Supremo Eleitoral brasileiro, em reação à recente crítica de Maduro, anunciou que não enviará observadores para acompanhar as eleições deste domingo (28). Durante um comício no interior do país, o venezuelano afirmou erroneamente que "no Brasil, nem um único boletim de urna é auditado", o que foi prontamente desmentido pelo TSE.

Além disso, Maduro aumentou a distância com o outrora amigo Luiz Inácio Lula da Silva, a quem sugeriu "tomar chá de camomila" após o brasileiro dizer que ficou assustado com o "banho de sangue" sugerido pelo venezuelano caso este perca as eleições.

Já o ex-presidente argentino Alberto Fernández (2019-2023) anunciou através das redes sociais que o governo de Nicolás Maduro retirou o convite feito pelo Conselho Nacional Eleitoral para acompanhar as eleições presidenciais. A justificativa foi que as recentes declarações dadas pelo argentino a um meio de comunicação "geravam dúvidas sobre a minha imparcialidade. (Eles) entenderam que a coincidência com o manifestado pelo presidente do Brasil gerava uma forma de desestabilização do processo eleitoral".

O nome de Fernández se une à lista dos observadores da União Europeia, que foram desconvidados em maio deste ano pelo presidente do CNE, Elvis Amoroso, após o bloco europeu ter decidido manter as sanções a alguns membros do chavismo.   

Já Edmundo González, o ex-diplomata de 74 anos, junto com a líder Maria Corina Machado, que foi proibida de concorrer, convocou seus partidários a uma "atividade massiva" em Caracas. Ao longo da campanha, González e Machado percorreram quase toda a Venezuela. Nos lugares que passaram foram ovacionados por milhares de partidários que manifestavam interesse na troca de governo no país que há 25 anos é governado pelo chavismo.    

Deixe seu comentário

Só para assinantes