Violência aumenta após a reeleição de Nicolás Maduro e manifestações têm um morto na Venezuela

Embora os resultados oficialmente declarados anunciem a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais na Venezuela, com 51% dos votos, a oposição não reconheceu os números. Milhares de pessoas foram às ruas para demonstrar sua indignação, inclusive nos bairros populares, algo inédito desde a ascensão do chavismo. Os confrontos com a polícia já deixaram uma pessoa morta, anunciou uma ONG nesta segunda-feira (29).

Em caravanas de motocicletas e pedestres, os bairros populares de Caracas marcharam até o Palácio Miraflores, sede do governo, no centro da cidade. Milhares de pessoas, muitas delas jovens, saíram espontaneamente das suas casas para expressar a sua frustração e raiva diante dos resultados do pleito, realizado no domingo (28).

Em Caracas, a manifestação foi ganhando gradualmente adesão, com os moradores indo às ruas para se juntarem aos manifestantes. Os confrontos eclodiram com a polícia e com as milícias paramilitares ao serviço do governo quando os protestos chegavam ao centro da capital. A correspondente da RFI em Caracas, Alice Campaignolle, relata que tiros foram disparados.

Em outras partes do país, manifestações espontâneas também ocorreram e pelo menos uma pessoa morreu no estado de Yaracuy, segundo a ONG Foro Penal, especializada na defesa de presos políticos. Alfredo Romero, diretor da entidade, informou ainda na rede X que 46 pessoas foram detidas em meio aos distúrbios após a eleição.

Raiva nas ruas para que Maduro "devolva o poder"

O presidente, reeleito para um terceiro mandato de seis anos, denunciou uma tentativa de golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário". O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, informou que 23 militares ficaram feridos nos protestos.

A oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia uma fraude e disse ter "como provar a verdade" de que a eleição foi vencida por Edmundo González Uruttia no domingo. Machado explicou que, após ter acesso a cópias de 73% das atas da apuração, a projeção é de uma vitória da oposição com 6,27 milhões de votos, contra 2,75 milhões para Maduro.

"A diferença foi tão grande, acachapante em todos os estados da Venezuela, em todos os setores, vencemos", afirmou Machado. "São milhões de cidadãos na Venezuela e no mundo que querem ver que o seu voto conta... As equipes técnicas em breve restabelecerão o acesso!", publicou na sequência, na rede social X.

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"Acima de tudo, estou muito decepcionado. Tínhamos esperança de sair de tudo isso", explica Edimar Moncadaqui, que se juntou à manifestação pelas ruas de Caracas. "Se Edmundo tivesse ganhado, a Venezuela não teria se recuperado da noite para o dia. Mas haveria um pouco de esperança de mudança. Agora, as pessoas finalmente abriram os olhos. Esperamos poder pôr fim a tudo isso hoje ou amanhã, ou em todo o caso tem que ser nesta semana. Queremos que Maduro deixe o poder esta semana", insistiu.

Moradores de bairros pobres também manifestam

Milhares de manifestantes em vários bairros pobres da capital gritavam "Devolva o poder agora". Eles atiravam pedras contra as forças de segurança e foram dispersados ??por bombas de gás lacrimogêneo.

Em outras cidades do país, manifestantes queimaram cartazes ou outdoors com a imagem do presidente. Esta ebulição popular pode representar uma virada na política venezuelana: é a primeira vez que os bairros populares se voltam contra Nicolás Maduro, a quem acusam de fraude eleitoral. Juan Pavlo Diaz, morador do bairro de Petare, aponta essa diferença em relação aos protestos de 2017.

"Não podemos comparar o que está acontecendo hoje com as manifestações de 2017. Eram os 'filhinhos de papai' que estavam nas barricadas, não foi o bairro todo", disse. "Estou decepcionado e cansado, tenho dois filhos que merecem um futuro melhor, que merecem viver felizes num país livre", alegou Diaz. "Vamos parar com essa loucura. Acabamos de vivenciar o maior roubo da história da Venezuela. Tiraram a nossa liberdade e a nossa democracia, roubando os nossos votos."

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