Tensão e expectativa em Israel diante da possibilidade de ataque do Irã e do Hezbollah

O Irã prometeu vingança pelo assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh, principalmente porque a ação que provocou a sua morte ocorreu em território iraniano. Israel não reivindicou a autoria do ataque, que provocou a morte de Haniyeh enquanto ele dormia no prédio onde estava hospedado em Teerã, a capital do país. O líder do Hamas estava no país para acompanhar a posse do novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Mas Israel assumiu a autoria do ataque em Beirute que matou Fuad Shukr, comandante militar do Hezbollah e número dois da hierarquia da milícia libanesa. As duas mortes levaram o Irã e o Hezbollah a garantir que haverá resposta. E prometem um ataque de grandes proporções. 

A expectativa é que a ação ocorra em breve. A imprensa dos Estados Unidos cogita a possibilidade que aconteça já na noite desta segunda-feira. A tensão em Israel aumenta diante do que se considera um ataque cada vez mais iminente por parte do Irã e de seus aliados regionais.

No entanto, duas fontes disseram à RFI que uma corrente interna da área de Defesa israelense considera a data do calendário hebraico conhecida como Tishá B'Av. Neste ano, pelo calendário ocidental, essa data corresponde ao final da tarde do dia 12 de agosto até a noite de 13 de agosto. Há um simbolismo importante: o Tishá B'Av marca o momento de maior tristeza no calendário judaico porque justamente neste dia o Grande Templo de Jerusalém foi destruído duas vezes: a primeira vez pelos babilônios em 587 A.C. e a segunda vez, pelos romanos, em 70 D.C. 

Para além de símbolos e tradições, há também outro sinais de que Israel se prepara para um ataque em breve. 

O general Michael Erik Kurilla, chefe do Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM), chega ao país nesta segunda-feira para concluir a coordenação com as forças israelenses, segundo o portal Walla. 

A expectativa de Kurilla é repetir a coalizão de países, inclusive árabes, que impediu o sucesso do ataque iraniano em abril, quando Teerã e seus aliados regionais dispararam 120 mísseis balísticos, 30 mísseis de cruzeiro e 170 drones contra o território israelense.

Segundo o Wall Street Journal, temendo a ampliação da guerra, diplomatas de países árabes tentaram obter do Irã alguma forma de compromisso de contenção na resposta que o país dará a Israel. No entanto, a tentativa não foi produtiva, e os iranianos disseram que "não se importam se a resposta iniciará uma guerra". 

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Já em Israel, há interrupções causadas pelas próprias autoridades nos serviços de GPS na região central de Israel. Essa mesma medida também foi tomada em abril dias antes do ataque iraniano.

No norte do país, o funcionamento do GPS tem sido instável de forma praticamente ininterrupta desde o início da guerra. Mas no caso do centro, não. Por isso a decisão das autoridades israelenses é entendida como mais um elemento de prontidão.

Agora há ameaças claras por parte do Irã de uma ação ainda maior do que a de abril. Naquela ocasião houve mais de 300 disparos que levaram o sistema de defesa israelense a ser testado em todos os seus limites.

Ataque de grandes proporções

A RFI apurou que as autoridades israelenses avaliam que o Irã e seus aliados regionais preparam um ataque de grandes proporções. No entanto, não se sabe exatamente como ele ocorrerá: se será um ataque apenas por parte do Irã ou se Israel terá de lidar com uma ação em múltiplas frentes.

O discurso do líder do Hezbollah, o xeque Hassan Nasrallah, em Beirute, na quinta-feira passada, deixou claro também que está em elaboração uma ação intensa e não um ato que poderia ser interpretado como "simbólico".

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A posição de Israel sobre como responder a este ataque "vai depender do que o Irã fizer. Imagina se eles dispararem contra uma fábrica que guarda um estoque de amônia, por exemplo", disse uma fonte à RFI.

Esta declaração confirma um dos piores cenários mapeados por Israel; o Comando da Frente Interna, setor do exército responsável pela orientação à sociedade civil, enviou comunicado a 28 fábricas localizadas numa área de até 40 quilômetros de distância da fronteira com o Líbano alertando-as para reduzir ou descartar materiais considerados perigosos. Há o temor de que essas instalações sejam alvejadas pelo Hezbollah ou pelo Irã de forma a causar grandes explosões em função de materiais químicos armazenados.

Os serviços de resgate e bombeiros do norte de Israel se preparam para atuar de forma simultânea em caso de necessidade.

Israelenses buscam se preparar

A situação é muito tensa. É possível perceber isso claramente nas conversas, no movimento do comércio, na busca por abastecimento nos supermercados. Em Tel Aviv, cidade que normalmente consegue manter uma rotina normal mesmo durante as guerras, o movimento noturno diminuiu. 

A expectativa é que cidades que ainda não foram alvejadas diretamente possam ser atingidas durante os dias de confronto, segundo a avaliação do exército. 

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O prefeito de Haifa, Yona Yahav, fez um alerta aos moradores: eles devem estar preparados para permanecer em abrigos domésticos e até em estacionamentos subterrâneos por até quatro dias no caso de uma guerra contra o Hezbollah. Haifa é a terceira maior cidade de Israel, ficando atrás apenas de Jerusalém e Tel Aviv. A cidade do norte israelense avalia que pode ser atacada por até quatro mil mísseis diários no caso de uma guerra contra o Hezbollah. 

Ao mesmo tempo, apesar de o aeroporto de Tel Aviv permanecer aberto, várias companhias internacionais cancelaram seus voos. Sair de Israel neste momento é um objetivo difícil de ser alcançado. 

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