União Europeia não reconhece resultado de eleições na Venezuela e papa pede "busca da verdade"

O papa pediu nesta segunda-feira (5) no Vaticano para se "buscar a verdade" na Venezuela. A União Europeia (UE) aumentou neste domingo (4) a pressão internacional sobre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao se somar aos Estados Unidos e aos países da América Latina que não reconhecem o resultado das eleições de 28 de julho, marcadas por denúncias de fraude. A líder opositora María Corina Machado agradeceu o pedido de sete países europeus para que as atas de votação sejam divulgadas.

Os protestos contra a vitória de Maduro já deixaram 11 civis mortos, segundo organizações de defesa dos direitos humanos, e mais de 2.000 detidos.

"Na ausência de provas que os respaldem, os resultados divulgados em 2 de agosto pelo Conselho Nacional Eleitoral não podem ser reconhecidos", ressaltou o Conselho da União Europeia, que exigiu "uma verificação independente".

Diferentemente dos Estados Unidos e de outros países, a UE se absteve de reconhecer a vitória do candidato opositor, Edmundo González Urrutia.

"As cópias das atas eleitorais divulgadas pela oposição e revisadas por organizações independentes indicam que Edmundo González Urrutia parece ter vencido as eleições presidenciais por uma maioria significativa. A União Europeia pede, portanto, uma nova verificação independente das atas eleitorais, se possível por uma entidade de reputação internacional", diz o comunicado.

A UE também pediu ao governo venezuelano "que ponha fim às prisões arbitrárias, à repressão e à retórica violenta contra os membros da oposição e da sociedade civil, e liberte todos os presos políticos".

Maduro foi confirmado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) como presidente reeleito, com 52% dos votos, contra 43% para o opositor Edmundo González Urrutia. Com isso, o governante de esquerda assumiria um terceiro mandato, projetando-se para um total de 18 anos no poder. A oposição, no entanto, publicou em um site atas que dariam a González 67% dos votos.

O CNE ainda não divulgou os resultados detalhados, alegando que seu sistema foi alvo de "um ataque hacker em massa". Maduro e funcionários do alto escalão questionam a validade dos documentos divulgados pela oposição.

A opositora María Corina Machado agradeceu neste domingo aos governos de Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polônia e Portugal por seu "compromisso com a democracia", após o pedido desses países para que sejam divulgadas as atas da eleição presidencial da Venezuela.

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No sábado, em uma declaração publicada pelo governo italiano, os sete países europeus expressaram "forte preocupação" e solicitaram às autoridades venezuelanas "publicar rapidamente todos os registros" das eleições para garantir a "total transparência".

"Em nome dos venezuelanos, agradeço por esse importante comunicado", publicou María Corina Machado na rede social X. "Apoiamos a exigência de que se verifique quanto antes, ao nível internacional e independente, as atas que apresentamos", acrescentou.

Estados Unidos, Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá reconheceram González como vencedor, e o Canadá pediu hoje a divulgação dos resultados completos.

Rússia e China apoiam o presidente chavista, enquanto Brasil, Colômbia e México tentam promover um acordo político.  

'Emboscada imperialista'   

O presidente Nicolás Maduro elogiou neste domingo o que chamou de "conduta exemplar" da Guarda Nacional - corpo militar encarregado da ordem pública - diante dos protestos contra a sua reeleição.

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"Vocês são a coluna vertebral da paz, da proteção do povo, da tranquilidade, da segurança", ressaltou Maduro, durante um evento pelo 87º aniversário da corporação. "Estamos enfrentando nas ruas da Venezuela um golpe de Estado imperialista, uma emboscada imperialista."

Diante de uma manifestação de apoiadores em frente ao palácio presidencial de Miraflores, Maduro denunciou ontem que estava em andamento um plano para "usurpar" o poder.

"Não se aceitará, com as leis nacionais, que se tente usurpar novamente a presidência", advertiu Maduro, traçando um paralelo com o reconhecimento internacional recebido em 2019 pelo opositor Juan Guaidó, atualmente exilado nos Estados Unidos, após uma tentativa fracassada de retirar o governante socialista. O presidente venezuelano chamou González Urrutia de "Guaidó 2.0".

Guaidó, então chefe do parlamento, foi reconhecido como "presidente interino" por Washington e por cerca de 50 governos que consideraram fraudulenta a reeleição de Maduro em 2018, em eleições boicotadas pela oposição.

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