Jogos Paralímpicos: metrô de Paris é "corrida de obstáculos" para portadores de deficiência

Os desafios dos Jogos Paralímpicos, que começam na próxima quarta-feira (28) em Paris, são tema de reportagens nas revistas semanais francesas. A L'Express faz um balanço sobre os transportes públicos parisienses que, apesar de bilhões de euros de investimentos, continuam "uma corrida de obstáculos" para as pessoas com deficiência. A Le Point estima que os 4.400 paratletas participantes no evento "simbolizam o triunfo de uma vida de empenho e determinação".

Mais de € 2 bilhões foram investidos nos transportes públicos da região de Ile de France, onde fica Paris, para aumentar a acessibilidade nas linhas de metrô, ônibus e trens da capital francesa. A igualdade de acesso aos espaços públicos e serviços de transporte é uma reinvindicação antiga dos cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida na França. Os organizadores dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 queriam deixar esse legado para a população metropolitana, mas não será o caso.

Apesar da antecipação e de várias adaptações, os transportes públicos da região continuam inadaptados, avalia a L'Express. O maior obstáculo continua sendo o velho metrô parisiense, que tem mais de um século.

Apenas 29 das 320 estações são acessíveis às pessoas com deficiência físico-motora. O número representa 9% da rede, informa a revista que faz uma comparação com a modernização do metrô de Londres, feita para as Olimpíadas de 2012 na capital britânica. A rede metroviária histórica londrina é tão velha quanto a de Paris, lembra a L'Express, e a cidade conseguiu garantir acessibilidade em 18% das estações, o dobro de Paris, critica a publicação.

As autoridades francesas ouvidas pela revista se defendem, dizendo que as obras necessárias requerem um esforço "colossal" e "muito caro". Um estudo para a acessibilidade de apenas uma das linhas históricas do metrô parisiense, a Linha 6, estima que a reforma custaria mais de € 1 bilhão e demoraria entre seis e dez anos para ser concluída.

Acessibilidade melhor nos trens e ônibus

Mas muita coisa foi feita principalmente na rede ferroviária da região metropolitana de Paris, que tem agora 240 das 268 estações acessíveis a todos, e na rede de ônibus. A acessibilidade está garantida em todas as 65 linhas de ônibus parisienses, informa a L'Express.

No entanto, mesmo nas estações adaptadas, as pessoas com deficiência têm de contar com "complicações inesperadas de ordem técnica ou humana". Os elevadores instalados estão com frequência fora de funcionamento.

Uma cadeirante ouvida pela revista, que voltava para casa depois de assistir a uma partida de vôlei de praia durante as Olímpiadas, contou que não pôde acionar uma rampa eletrônica para entrar num trem de subúrbio porque "não tinha encomendado o serviço com 24 horas de antecedência". "Decepção" é a palavra que resume o sentimento dos usuários com deficiência dos transportes públicos parisienses, diz a L'Express.

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"Desempenhos atléticos prodigiosos"

Nas arenas de competição, a Le Point diz que o público vai assistir durante as Paralimpíadas "performances prodigiosas". A revista lembra que o evento esportivo, que acontece de 28 de agosto a 8 de setembro, vai reunir 4.400 atletas de 184 países, em 22 modalidades esportivas.

Campeões paralímpicos ouvidos pela publicação revelam o segredo do sucesso em suas disciplinas. O francês Alexis Hanquinquant, amputado da perna direita há dez anos depois de um acidente de trabalho, disse que precisava de um desafio para superar o trauma. Ele escolheu o triatlo e com um treinamento intenso foi seis vezes campeão do mundo antes de conquistar a medalha de ouro em Tóquio. Em Paris, o paratleta sonha de novo com o primeiro lugar do pódio.

Mesma expectativa tem a velocista dos 400 m na categoria T13 Nantenin Keita, atleta com albinismo e deficiente visual. Ela tem cinco medalhas paralímpicas na carreira, sendo uma de ouro no Rio, em 2016. "Nas pistas, me oriento instintivamente e graças ao contraste das cores", revela.

Superação

Alexis, Nantenin e os mais de quatro mil paratletas de Paris 2024 "simbolizam o triunfo de uma vida de empenho e determinação", escreve a Le Point. "Os jogos paralímpicos nos convidam a repensar a noção de desempenho atlético ao criar uma diversidade de competições e modalidades, adaptadas a uma pluralidade de corpos", explica o professor de Ciências do Esporte da Universidade de Montpellier, Sylvin Ferez, entrevistado pela revista.

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"Espero que seremos vistos daqui para frente principalmente como atletas e não como pessoas com deficiência que praticam um esporte", torce o triplo medalhista olímpico francês de handbike Florian Jouanny.

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