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Maduro ignora pressão internacional e prepara terreno para terceiro mandato

9.ago.2024 - O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante pronunciamento à imprensa em Caracas Imagem: Federico Parra/AFP

Elianah Jorge;

Correspondente da RFI em Caracas

28/08/2024 06h19Atualizada em 28/08/2024 09h25

  Chavistas defendendo a reeleição de Nicolás Maduro e opositores exigindo a publicação das atas eleitorais vão às ruas do país nesta quarta-feira (28). Um mês após a polêmica eleição presidencial, Nicolás Maduro ignorou as acusações de fraude e anunciou na véspera a reestruturação de seu gabinete de ministros. Dessa forma, o presidente prepara as bases para seu terceiro mandato presidencial.

Um mês após a polêmica eleição presidencial, Nicolás Maduro ignorou as acusações de fraude e anunciou na véspera a reestruturação de seu gabinete de ministros. Dessa forma, o presidente prepara as bases para seu terceiro mandato presidencial.

O presidente fez mudanças estratégicas em seu governo. Tudo para asfaltar caminho para seu terceiro mandato, previsto para começar no próximo 10 de janeiro. Ele preventivamente fez uma blindagem em seu governo frente a possíveis sanções internacionais. Maduro escolheu para a presidência da principal empresa do país, a Petróleos da Venezuela - PDVSA, Héctor Obregón.

Com a escolha desse general, além de manter a cúpula militar em áreas estratégicas, Maduro busca reestruturar a parte financeira da estatal. Obregón é profundo conhecedor da economia digital, sobretudo do mercado de criptomoedas e ativos digitais. Através das criptomoedas e transações digitais, o governo tentará se esquivar dos bloqueios internacionais para a compra e venda de produtos petroleiros.

Os Estados Unidos preveem aplicar novas sanções à Venezuela e a autoridades do governo. Caso isso aconteça, a economia deve ficar ainda mais fragilizada. Para evitar entraves por causa dos bloqueios, Maduro se antecipou posicionando a vice-presidente também na pasta de Petróleo. Delcy Rodríguez tem fama de ser boa negociadora, sobretudo com China, Irã e países do mundo árabe aliados à gestão de Maduro.

Prisões arbitrárias

Apesar da pressão internacional, continua a repressão aos opositores. Tudo aponta que as detenções arbitrárias continuarão no país. Vide o caso do advogado Perkins Rocha, levado à força nesta terça-feira, pouco antes do anúncio das mudanças ministeriais. Rocha é advogado do partido Vente Venezuela e pessoa próxima à opositora Maria Corina Machado - que está na clandestinidade. Até a noite de ontem não havia informações sobre o paradeiro do advogado.

Com a designação de Diosdado Cabello ao ministério do Interior e Justiça é muito possível que as ações arbitrárias a opositores e dissidentes sejam mantidas. Cabello acumula diversas funções. Ele é vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela, deputado da Assembleia Nacional, tem um programa semana na TV estatal e após 22 anos volta a ser ministro de Interior e Justiça. O ministro Cabello será responsável pela ordem pública, pelas forças de segurança do estado, pelos serviços de vigilância e inteligência do país, entre outras funções.

107 adolescentes presos

Opositores consultados pela RFI Brasil e que preferiram manter o anonimato afirmam que a repressão deve aumentar com Diosdado à frente desse ministério. O programa semanal de TV de Cabello é conhecido por ser a vitrine de críticas àqueles que divergem da gestão de Nicolás Maduro.

A Organização de Estados Americanos apresenta nesta quarta-feira o relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre os crimes de lesa humanidade cometidos na Venezuela a partir da eleição de 28 de julho, quando o Conselho Nacional Eleitoral anunciou Nicolás Maduro como presidente eleito.

O relatório enfatiza os abusos sistemáticos, incluindo o uso arbitrário da força, prisões massivas e desaparecimentos forçados. Além do assédio à liberdade de expressão, com mais de 108 casos de ataques a jornalistas e a meios de comunicação. De acordo com a ONG Fórum Penal, há na Venezuela 1674 presos políticos, dos quais 107 são adolescentes.

A economia da Venezuela dava sinais de uma leve recuperação antes da eleição. No entanto, a instabilidade política deflagrada após denúncias de fraude e a falta de transparência eleitoral vêm tendo repercussões no consumo interno do país. Embora Maduro tenha feito essas manobras ministeriais para blindar a economia, o cenário ainda é opaco.

Instabilidade opaca economia

De acordo com o economista e professor universitário Rodrigo Cabezas, a questão econômica dará sinais claros sobre o impacto da situação política do país:

"A atuação dos reitores do Conselho Nacional Eleitoral, como o Poder Eleitoral da Venezuela, ao negar-se a mostrar as atas das eleições presidenciais de 28 de julho, e, portanto, criando uma sombra de fraude nas eleições, aprofundou a crise da legitimidade do governo de Nicolás Maduro. Isso, sem dúvida, está deteriorando as expectativas do entorno macroeconômico, inclusive da capacidade que o governo pode ter para sustentar, em curto prazo, indicadores chaves como a produção e a exportação de petróleo, a inflação, o tipo de câmbio e a possibilidade de crescimento do Produto Interno Bruto. Neste contexto de incerteza política e econômica suponho que os principais indicadores econômicos e sociais deveriam tender a um comportamento negativo no próximo quadrimestre que vem".

O economista José Guerra, mesmo no exílio, acompanha a situação econômica de seu país natal. Ele explica que a saúde financeira da Venezuela e da moeda nacional passam obrigatoriamente pela questão política:

"As expectativas de inflação aumentaram, os preços estão tendo uma alta e uma menor taxa de atividade econômica. Tudo isso causado pela incerteza em matéria política. Em um clima desta natureza de incerteza política, o investimento está paralisando e o consumo está em retração. Tanto que a demanda por dólares está aumentando e, consequentemente, a moeda local (o bolívar) está perdendo valor frente ao dólar".

Manifestações nas ruas

O chavismo convocou seus seguidores para irem às ruas defender e celebrar a vitória de Nicolás Maduro como presidente eleito, conforme o anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral. Já a oposição convocou seguidores às ruas sob o mote de "ata mata senteça", em referência à negativa do Conselho Nacional Eleitoral de publicar os boletins eleitorais ao afirmar que a sentença anunciada pelo Tribunal Supremo Justiça comprova a vitória de Maduro. De acordo com a oposição, "a Venezuela e o mundo rejeitam a fraude de Maduro e seu regime".

A presença de Maria Corina Machado é uma incógnita. A opositora está na clandestinidade, mas apareceu publicamente em Caracas durante as manifestações anteriores. Já Edmundo González, de 74 anos, está resguardado desde 30 de julho, última vez que foi visto em público. Esta semana ele ignorou por duas vezes a intimação do procurador-geral Tarek William Saab para depor ao ser acusado de associação criminosa, de conspiração e de ter forjado as atas eleitorais que publicadas em um site pela oposição

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