Jornal francês diz que desunião de europeus nos setores de defesa e espacial será 'letal' para UE

Questões de economia dominam as manchetes nesta terça-feira (10) na França, entre elas a repercussão do relatório entregue ontem pelo italiano Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), com recomendações sobre uma uma nova estratégia industrial para a União Europeia não perder de vez a corrida tecnológica para a China e os Estados Unidos. 

No documento, o italiano que salvou a zona do euro na crise financeira de 2009 defende um investimento anual de € 800 bilhões por ano, o que equivale a quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco, para enfrentar o "desafio existencial" que os europeus atravessam. Em coletiva de imprensa em Bruxelas, Draghi declarou que "pela primeira vez desde a Guerra Fria, [os europeus] devem realmente temer pela sua sobrevivência". O plano que ele entregou à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, contém 170 propostas e defende uma "mudança radical", inclusive atenuando as regras de concorrência do bloco, que sufocam projetos de inovação, destaca o portal de notícias Franceinfo.

O jornal Les Echos afirma que o fato de cada país europeu negociar individualmente suas compras nos setores espacial, de defesa e segurança está se tornando "letal" para a indústria europeia. Em 2022, a União Europeia ainda produziu e exportou "certos equipamentos e tecnologias de qualidade superior ou pelo menos equivalentes aos produzidos nos Estados Unidos em várias áreas, como tanques de combate (...), submarinos, tecnologias navais e aeronáuticas". Na indústria espacial, por exemplo, apesar de o bloco investir um terço do montante gasto pelos Estados Unidos, a Europa conseguiu mais ou menos permanecer na corrida durante a última década. Entretanto, o cenário mudou e, agora, a UE está em posição de fragilidade no desenvolvimento de tecnologias emergentes que impulsionarão o crescimento no futuro. 

A imprensa francesa vê o futuro europeu com pessimismo se não houver um chacoalhão por parte dos 27 líderes. A concorrência entre os países, o apego de Polônia e Alemanha, entre outros, às relações privilegiadas com os EUA na defesa em detrimento dos próprios interesses europeus, a fragilidade atual dos governos em Paris e Berlim e, além disso, as dívidas acumuladas impedem o bloco de pensar em um empréstimo coletivo para financiar a inovação. 

Musk dá prejuízo para bancos franceses

Nas páginas do Les Echos, dois bancos franceses que emprestaram US$ 13 bilhões para Elon Musk comprar o Twitter, agora X, estão se dando conta que fizeram um mau negócio e acumulam prejuízos em seus balanços contábeis, relata o diário econômico. 

Há dois anos, quando os bancos franceses BNP Paribas e Société Générale se juntaram com outros cinco bancos anglo-saxões e credores japoneses (Morgan Stanley, Bank of America, Barclays, MUFG e Mizuho) para financiar o projeto de Musk ter sua rede social, as duas instituições francesas consideraram uma vitória conquistar o negócio em detrimento de bancos americanos.

O problema é que houve um engano de cálculo na projeção dos juros a serem pagos por Musk em seus reembolsos. Como as taxas de juros ficaram em níveis acima do esperado nos últimos 24 meses, para conter a inflação, os bancos que entraram na aventura com Musk podem ter um prejuízo de US$ 4 bilhões, segundo uma estimativa feita pela Bloomberg, aponta reportagem do diário econômico francês.

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