Governo talibã no Afeganistão proíbe a mídia do país de publicar imagens de seres vivos

O governo talibã do Afeganistão proibiu nesta segunda-feira (14) os veículos de comunicação do país de publicarem imagens de seres vivos, sob argumento de que sua difusão viola a lei islâmica. 

"A lei se aplica a todo o Afeganistão (...) e será implementada gradualmente", disse Saiful Islam Khyber, porta-voz do Ministério da Propagação e Prevenção das Virtudes.

As autoridades talibãs promulgaram em agosto uma lei com 35 artigos para "promover a virtude e prevenir o vício" entre a população, conforme a sharia (lei islâmica) imposta por eles desde seu regresso ao poder no Afeganistão em 2021.

"Não será usada coerção na aplicação da lei", afirmou o porta-voz do ministério. "Trata-se apenas de dar conselhos e convencer as pessoas de que essas coisas são realmente contra a sharia e devem ser evitadas."

O texto contém diversas medidas dirigidas à mídia, incluindo a proibição da publicação de imagens de seres vivos, e também de "conteúdos hostis à sharia e à religião" ou que "humilham os muçulmanos".

Vários aspectos desse texto, no entanto, ainda não foram rigorosamente aplicados e as próprias autoridades talibãs continuam a publicar regularmente fotografias de pessoas nas redes sociais.

"Estamos nos mobilizando em muitas províncias para implementar os artigos da lei relacionados com a comunicação, mas isto não começou em todas as províncias", disse Khyber.

Ele acrescentou que "o trabalho começou" no reduto talibã de Kandahar (sul) e nas províncias de Helmand (sudoeste) e Takhar (nordeste).

Imagens proibidas anteriormente

Jornalistas em Kandahar disseram à AFP na segunda-feira que não receberam nenhum comunicado de imprensa do ministério e que, até agora, nenhum profissional da imprensa foi preso pela polícia moral por tirar fotos ou fazer vídeos.

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Na província central de Ghazni, responsáveis ??do ministério convocaram jornalistas locais, no domingo (12), e informaram que a polícia da moralidade começaria gradualmente a aplicar a lei.

Eles aconselharam aos repórteres de imagem a tirar fotos de lugares mais distantes e filmar menos para "se acostumarem", disse à AFP um jornalista, que não quis revelar seu nome por medo de represálias.

Numa reunião semelhante, jornalistas da província central de Wardak também foram informados de que esta regra seria implementada gradualmente.

Imagens de seres vivos foram já haviam sido proibidas em todo o Afeganistão durante o primeiro governo dos talibãs entre 1996 e 2001, mas um decreto semelhante ainda não tinha sido imposto em grande escala desde sua volta ao poder em 2021.

O Afeganistão tinha 8.400 pessoas trabalhando em veículos de comunicação, incluindo 1.700 mulheres, quando os talibãs voltaram ao poder. Atualmente restam apenas 5.100, incluindo 560 mulheres, segundo fontes da profissão.

Dezenas de mídias foram fechadas e em três anos o Afeganistão caiu do 122º para o 178º lugar entre 180 no ranking da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) para a liberdade de imprensa.

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(Com AFP)

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