Com vídeo, Lula blinda Galípolo do PT e reforça ao mercado autonomia do BC
Ao gravar um vídeo com Gabriel Galípolo e seus principais ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha dois recados: um interno e outro externo, conforme fontes que acompanharam de perto o assunto.
A mensagem externa está no título da peça: o Banco Central é autônomo.
"Jamais vai haver da presidência qualquer ingerência no trabalho que você tem que fazer", diz Lula no vídeo.
O objetivo de Lula era reforçar ao mercado financeiro que ele não vai interferir na gestão da política monetária. Foi assim com Henrique Meirelles, presidente do BC no primeiro e no segundo mandato do presidente. Vai ser assim com Galípolo.
Declarações recentes do presidente contra Roberto Campos Neto, que deixa hoje o comando da autoridade monetária, e os juros altos colocaram essa postura em dúvida e objetivo era dissipar essa impressão.
Funcionou. A aprovação do ajuste fiscal e a mensagem de Lula ajudaram a derrubar o câmbio. Logo após a divulgação do vídeo, o dólar caía 0,93% para R$ 6,06.
Também estava ali uma cobrança para Galípolo, que assume o BC interinamente amanhã e de vez a partir de janeiro. Vai ser responsabilidade dele combater a inflação.
O segundo recado também é claro e com destino certo, dizem as fontes. O recado: Galípolo é o meu menino e tem o meu aval. O destino: o PT.
Mais cedo, o secretário de comunicação do partido deu uma entrevista ao Broadcast dizendo que "Galípolo vai receber críticas do PT se seguir com a política de aumento da Selic".
Segundo fontes, causou mal-estar no partido os elogios de Galípolo a Campos Neto na coletiva de despedida do atual presidente do BC, escolhido por Jair Bolsonaro.
Com o vídeo, Lula explicitou que nada foi feito sem combinar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Também não passou despercebido que, além de Haddad e Simone Tebet, ministra do Planejamento, também estava na mesa, Rui Costa, ministro da Casa Civil.
Dentro do governo, Costa é o defensor de mais gastos públicos e um dos "adversários" de Haddad. Ao incluir a presença dele, Lula mostra que "enquadrou" a todos. Pelo menos, por enquanto.
Chamou a atenção dos presentes que Lula fez sua mensagem de improviso, sem teleprompter.
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