"Não tenho a mínima sensação de ter cometido irregularidade", diz Marine Le Pen em julgamento por corrupção

A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, disse que não tinha a "mínima sensação" de ter cometido irregularidades, respondeu de maneira vaga e conseguiu evitar perguntas espinhosas nesta segunda-feira (14), em seu primeiro interrogatório no processo dos empregos fantasmas no Parlamento Europeu e desvio de verbas em que está sendo julgada. A ex-candidata à presidência da França em 2022 pode ficar inelegível caso seja condenada.

Perante o tribunal de Paris, Marine Le Pen, para se defender, usou metáforas e evitou respostas diretas. O Parlamento Europeu é uma "bolha que engole tudo", devemos garantir que os deputados não sejam "devorados pela bolha", disse ela.

"Não tivemos a nossa resposta, mas teremos, não tenho dúvidas", disse pacientemente a presidente do tribunal Bénédicte de Perthuis, que reiterou diversas vezes a pergunta a Le Pen, de "como" ela havia escolhido seus assistentes no Parlamento Europeu, quando eleita pela primeira vez em 2004.

 "Claro que escolhi os meus assistentes parlamentares. Decidi de forma perfeitamente consciente para que trabalhassem com os outros eurodeputados", garantiu, mas alegou que terá dificuldade em fornecer os detalhes do caso, que aconteceu há 20 anos.

O partido Reunião Nacional, Marine Le Pen e outras 24 pessoas (ex-deputados, assistentes parlamentares, entre outros) são julgados há duas semanas, e até 27 de novembro, por suspeita de desvio de fundos públicos, ocultação ou cumplicidade na criação, ou participação em um sistema centralizado de remuneração de funcionários que trabalhavam, na realidade, para seu partido.

No depoimento, Le Pen evitou perguntas diretas, mas falou durante muito tempo sobre o "contexto", relatando seu "começo" no Parlamento Europeu, onde os eurodeputados da Frente Nacional (nome do partido na época) "eram três, depois sete", "sem grupo" (agora são 30). Por isso, segundo ela, houve "uma espécie de agrupamento" de assistentes parlamentares, que realizavam notas, críticas de imprensa e diversas atividades de secretariado.

"Não tenho a menor sensação de ter cometido a menor irregularidade, a menor ilegalidade", repetiu ela, como tem feito desde o início do julgamento.

Assistentes não trabalhavam

O tribunal lembrou à líder da extrema direita que o ex-eurodeputado Fernand Le Rachinel "disse que havia pessoas que não trabalhavam nada", e "que tinha de implorar por assistentes parlamentares".

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"Não acho, desculpe, que Fernand Le Rachinel tenha dito as coisas desta maneira", disse Marine Le Pen, tentando levar o interrogatório para temas políticos.

"A verdadeira questão é: o deputado trabalha para si mesmo?", repetiu ela. "Considero que o deputado trabalha em benefício de suas ideias. E quem carrega as suas ideias? A atividade política de um funcionário eleito é para o benefício do seu partido", disse ela novamente, enfatizando sua exasperação.

No início da investigação sobre o caso, Marine Le Pen disse ao juiz de instrução que, os assistentes que tinham os salários pagos pelo Parlamento Europeu, "quando não estavam estritamente ligados às tarefas parlamentares, podiam trabalhar para o partido", recordou o advogado do Parlamento Europeu, Patrick Maisonneuve.

No tribunal, o constrangimento da três vezes candidata a presidente era palpável. "Essas afirmações são menos importantes que a substância", disse tentando retomar seu argumento, em um tom de voz mais alto, mais uma vez refletindo irritação.

Em quase duas horas de interrogatório, o tribunal não conseguiu chegar ao tema central: o contrato de cinco anos de Catherine Griset como sua assistente parlamentar. A acusação considera que ela foi principalmente chefe de gabinete no partido de Marine Le Pen.

(Com AFP)

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